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quarta-feira, 5 de abril de 2023

Abril Azul: seletividade alimentar em crianças e adultos com TEA

Especialistas explicam os riscos e apontam estratégias para driblar a seletividade alimentar


Desde 2007, o dia 2 de abril é conhecido como o Dia Mundial de Conscientização do Autismo, e o mês é voltado para a causa, sendo conhecido como “Abril Azul”, para divulgar informações e reduzir a discriminação e o preconceito contra os autistas.  

Um dos pontos importantes da saúde desse grupo é que muitos indivíduos com autismo têm aversões e sensibilidades alimentares. Muitos também têm problemas comportamentais que tornam a hora das refeições particularmente desafiadora.  

Pesquisadores descobriram que crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) são cinco vezes mais propensas a ter desafios na hora das refeições, como acessos de raiva, extrema seletividade alimentar e comportamentos alimentares ritualísticos. A nutrição inadequada também é mais comum entre crianças com autismo. Em particular, uma baixa ingestão geral de cálcio e proteína. O cálcio é crucial para a construção de ossos fortes. Proteína adequada é importante para o crescimento, desenvolvimento mental e saúde. Algumas considerações dietéticas comuns associadas ao autismo são: 

·       A sensibilidade a cheiros, imagens e sons na hora das refeições pode afetar a alimentação;

·       Desconforto intestinal, incluindo constipação, diarreia e estômago inchado;

·       Hipersensibilidade alimentar (quando o corpo reage mal a certos alimentos);

·       Comer uma dieta limitada - um pequeno número de alimentos semelhantes em cor e sabor;

·       Ter uma forte preferência por certas texturas (como alimentos crocantes ou macios), alimentos cortados de uma certa maneira (por exemplo, torradas cortadas em quadrados, mas não em triângulos);

·       Não querer que diferentes alimentos toquem em um prato, pois tendem a preferir coisas previsíveis, pois isso pode ajudar a reduzir a ansiedade.

 

Há evidências crescentes de que as intervenções de nutrição e estilo de vida podem ser muito favoráveis ​​para indivíduos com autismo. Dicas que podem ser seguidas para melhorar o hábito alimentar. Os especialistas tiram dúvidas e fazem indicações, confira: 

·       Problemas gastrointestinais no TEA podem dificultar a relação com alimentos? 

Os problemas gastrointestinais causam dor e desconforto ao se alimentar, levando a estresse e causando alterações comportamentais importantes no autista. Ao se sentir desconfortável ao comer, o indivíduo com TEA passa a apresentar um padrão alimentar seletivo, restritivo e deficiente. 

 

Para Thomáz Baêsso, médico cirurgião atuante em nutrologia do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), com atuação em emagrecimento, hipertrofia e saúde sexual, alguns dos problemas gastrointestinais, como intolerâncias alimentares a glúten, lactose, caseína, dificultam a relação de qualquer indivíduo com a alimentação, porém ao se tratar de portadores de TEA, que já tem uma relação alimentar complexa, as intolerâncias podem dificultar ainda mais a boa nutrição dessa população.

 

Sofia Pereira, médica atuante em endocrinologia do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais), diz que sabe-se que os distúrbios gastrointestinais estão entre as condições médicas mais comuns associadas ao autismo. De acordo com ela, é comum que apareçam constipações (prisões de ventre), diarréias e refluxos gastrointestinais, entre outras condições. Alguns estudos mostram que a microbiota intestinal de um autista é diferente, pois há uma alteração do equilíbrio caracterizada pela perda de massa bacteriana benéfica. 

 

Outros problemas podem ser causados pelo déficit alimentar, Thomáz comenta que os autistas costumam desenvolver transtornos alimentares como a neofobia alimentar, que nada mais é do que a recusa alimentar por alimentos não familiares, o que pode levar a problemas nutricionais com o passar dos anos.

 

Sofia, aponta que uma alimentação adequada na infância, desde o nascimento e durante os primeiros anos de vida é fundamental para garantir o crescimento e o desenvolvimento normal da criança. “Quando se menciona crescimento da criança, geralmente se associa ao crescimento ósseo que se reflete na estatura, mas cada um dos sistemas orgânicos também está em desenvolvimento, incluindo o sistema nervoso central”, diz ela. Por isso, é muito importante que os pais busquem ajuda profissional, pois alguns autistas não verbais podem ter dificuldade para demonstrar o que estão sentindo e isso pode dificultar o diagnóstico. É importante ficar atento se a criança sente dor abdominal ou mudou de comportamento. 

·       Com o que se relacionam os problemas alimentares comuns em pessoas com autismo? As meninas são mais suscetíveis? Por quê? 

 

Alexandre Lucidi (@alucidi) - médico geneticista, atuante em Neurogenética e Neuroimunologia, diz que pesquisas clínicas com amostras populacionais maiores, incluindo um número suficiente de indivíduos do sexo feminino, com TEA, podem favorecer o estudo de padrões emocionais de alimentação observados entre os autistas, em especial, as meninas. 

 

Em indivíduos do sexo feminino com TEA, autores associam questões alimentares que chamam de “Emotional Overeating and Emotional Undereating”. 

 

“Emotional Overeating” é definido como comer mais ou menos quando emocionalmente estimulado (por exemplo, estar feliz, irritado, preocupado, com raiva). Embora comer demais emocionalmente seja um tipo incomum de comportamento alimentar na infância, uma publicação de 2020 a associou ao TEA, especialmente em meninas. 

 

As descobertas sugerem que os problemas alimentares relacionados ao autismo podem ser comportamentais/cognitivos (por exemplo, não comer alimentos verdes, quantidade específica) ou sensoriais (por exemplo, alimentos não pegajosos, sem cheiros específicos), mas também problemas alimentares de base emocional, finaliza Lucidi. 

·       Como é feito um plano alimentar para indivíduos com TEA? 

A nutricionista Tamires Oliveira (@tamiresoliveira.nutrir) - especialista em introdução alimentar, seletividade Autista e TDHA, explica que o primeiro passo para elaborar o plano alimentar é entender como os pacientes se comportam com relação aos alimentos. Quais são as suas dificuldades alimentares e aversões, o que toleram, quais são as preferências alimentares (textura, cor, sabor) - a partir dessa informação, criam-se estratégias culinárias para tornar esse plano alimentar saudável, com variedade e amplo para esse paciente comer com conforto. Através da terapia alimentar, se inserem novos alimentos de forma lúdica e aumenta o repertório alimentar desse paciente.

 

Tatiane Schallitz, nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais), aponta que embora o TEA possa ser classicamente considerado principalmente neurológico em sua patologia, há evidências crescentes para demonstrar um papel para o sistema gastrointestinal e sua microbiota em aspectos da sintomatologia do transtorno, alterações significativas na composição da microbiota e na produção de metabólitos microbianos em crianças com TEA. 

 

Ela comenta que o autismo afeta o consumo de alimentos, que altera o intestino, e o intestino interfere no cérebro, o que causa piora nos sintomas apresentados. Assim, corrigir a disbiose intestinal é importante nestes pacientes. Assim, a saúde intestinal é um aspecto crucial para o bem-estar geral e está diretamente relacionada à nutrição. Entre os sintomas estão os problemas gastrointestinais, como constipação, diarreia e síndrome do intestino irritável. Algumas estratégias nutricionais para melhorar a saúde intestinal em pessoas com autismo de acordo com ela incluem o consumo de:

 

Fibras: Incluir fontes adequadas de fibras na dieta, como frutas, vegetais, legumes, grãos integrais e sementes, pode ajudar a melhorar a função intestinal e prevenir a constipação.

 

Probióticos e prebióticos: A suplementação ou a ingestão de alimentos ricos em probióticos e prebióticos, como iogurtes, kefir, chucrute e bananas, pode melhorar o equilíbrio da microbiota intestinal e promover a saúde digestiva.

 

Hidratação: Manter-se adequadamente hidratado é essencial para o bom funcionamento do intestino e a prevenção de problemas gastrointestinais.

 

Alimentação equilibrada: Uma dieta variada e rica em nutrientes, com atenção especial às necessidades de cada indivíduo, é fundamental para a saúde intestinal e o bem-estar geral.

 

Além do cuidado intestinal, a suplementação de EPA, DHA, probióticos, ômega 3, vitaminas do complexo B, vitamina D, carnitina, ácido fólico, carnosina e coenzima Q10, é eficaz na diminuição dos sintomas e evolução dos indivíduos com TEA. De um modo geral, vários estudos evidenciaram a evolução e a melhora no tratamento em relação aos sintomas e fatores do comportamento, convívio social, comunicação, diminuição dos sintomas gastrintestinais e da hiperatividade.

 

“É importante citar que a seletividade alimentar pode afetar a autoestima, a ansiedade e a socialização das pessoas com autismo, por isso a importância de uma abordagem holística no tratamento desses casos”, completa Tatiane. 

·       Quais os déficits nutricionais mais comuns?

Para Tamires, as crianças autistas são muito seletivas e resistentes ao novo, fazendo bloqueio a novas experiências alimentares. Portanto, deve-se ter o cuidado de não deixá-las ingerir alimentos que não sejam saudáveis. O comportamento repetitivo e um paladar restrito pelos alimentos podem levar a deficiências nutricionais.  

A frequente não aceitação dos alimentos saudáveis pode levar a um quadro de desnutrição calórico-proteica. A má alimentação e a falta de equilíbrio energético são motivos de preocupação, pois, a ingestão de micronutriente está estreitamente relacionada com a ingestão de energia. É provável que as crianças cujo consumo de energia é menor, falta de apetite, dermatites, depressão e preferências por doces e fast-food, também sofram de deficiência de ferro, zinco, vitaminas do complexo B, vitamina C e vitamina D. Já as crianças autistas que são mais hiperativas, agitadas durante o dia e noite com sono desregulado e tenham TDHA sofram de deficiência de zinco, ferro, magnésio e vitamina D. 

 

Tamires aposta na variedade: Muitos pais têm dificuldades em fazer seus filhos comerem alimentos bem variados. Em geral, as crianças preferem comer o que acham mais saboroso. Por causa do indivíduo autista ter a tendência de hábitos alimentares restritos, é fundamental que quando criança, os pais tenham paciência e estimulem uma maior variedade, especialmente com foco em alimentos mais nutritivos e fiquem atentos aos possíveis problemas, como as deficiências nutricionais, por isso é válido uma consulta com um nutricionista para adequar o cardápio e fazer se necessário uma suplementação. 

 

Segundo Tatiane, a suplementação pode ser uma estratégia útil para complementar a dieta e garantir que todas as necessidades nutricionais sejam atendidas. Algumas suplementações para pessoas com autismo, contam com:

 

Vitaminas e minerais: Devido à seletividade alimentar, pode ser necessário suplementar com vitaminas e minerais essenciais, como vitamina D, cálcio, ferro, zinco e vitaminas do complexo B.

 

Ácidos graxos ômega-3: Os ácidos graxos ômega-3 são importantes para a saúde cerebral e a função cognitiva. Eles podem ser obtidos por meio da alimentação, mas em alguns casos, a suplementação pode ser necessária para garantir níveis adequados.

 

Aminoácidos: A suplementação de aminoácidos pode ser útil para melhorar a saúde cerebral, o funcionamento do sistema imunológico e a síntese proteica.

 

Lembre-se de que a suplementação deve ser feita sob orientação de um nutricionista ou médico nutrólogo, que avaliará as necessidades específicas de cada pessoa com autismo. 

·       Quais são os alimentos que devem ser evitados para quem tem TEA e por quê?  

Tamires aponta que a alimentação para o autista deve ser isenta de corantes alimentícios artificiais, alimentos processados e embutidos (balas, iogurte com sabor, salgadinhos, sucos em pó, gelatina, salsicha, salame, presunto, bolinhos prontos, miojo, nuggets, refrigerante e entre outros alimentos industrializados.), farinha branca em excesso e açúcar branco, pois esses produtos alimentícios são grandes vilões para a dieta de quem tem autismo já que estimulam a hiperatividade, falta de concentração, obesidade, doenças como colesterol alto, diabetes, entre outras adquiridas pela má alimentação. Evitar essas opções é uma forma de desestimular e prevenir outros impactos na saúde das crianças autistas. 

 

Tatiane acrescenta que não há uma lista definitiva de alimentos que são proibidos para quem tem TEA, mas alguns alimentos podem ser evitados com base nas preferências alimentares individuais e nas necessidades específicas de cada pessoa. Alguns autistas podem ter intolerâncias alimentares ou alergias que podem afetar sua dieta. Alguns alimentos comuns que podem desencadear alergias incluem nozes, laticínios, trigo, soja, peixe e mariscos. Por isso, é importante que esses alimentos sejam evitados se houver reações alérgicas. 

·       Quais os alimentos mais indicados e por quê?  

A alimentação saudável e variada deve fazer parte da rotina de toda criança e família incluindo alimentos naturais como frutas e vegetais frescos, cereais integrais, leguminosas, laticínios, proteínas e gorduras saudáveis, pois é importante para o desenvolvimento e o crescimento da criança com o transtorno do espectro autista (TEA), além de ajudar a prevenir situações como prisão de ventre, deficiência de nutrientes, obesidade ou doenças cardiovasculares argumenta Tamires. Prefira consumir esses alimentos: 

 

Consumo de frutas, verduras e legumes diariamente: é fundamental consumir de 2 a 3 porções de frutas por dia, como maçã, pêra, banana, uva, laranja, mamão, melancia, que podem ser incluídas no café da manhã, lanches da manhã/tarde e na lancheira escolar. Legumes e verduras que não podem faltar no prato das crianças no almoço e jantar como abóbora, beterraba, brócolis, cenoura, couve-flor, alface, couve, espinafre. 

 

Esses alimentos são ricos em vitaminas e minerais, nutrientes que são essenciais para a formação dos dentes e ossos, evita anemia, promove o crescimento adequado, fortalece o sistema imunológico e equilibra a flora intestinal. 

 

Consumir proteínas (rico em vitamina D, ferro e aminoácidos essenciais): as proteínas, como peixes e frutos do mar, ovo, frango, carne bovina, carne suína , devem ser consumidas diariamente no almoço e jantar. Isso porque as proteínas atuam no crescimento e desenvolvimento físico e mental, fortalece o sistema imunológico e regulam as funções do sistema nervoso. 

 

Vitaminas e suas fontes alimentares: cálcio (leites e derivados, para as crianças APLV pode substituir por leite de amêndoas e castanha), vitamina A (frutas e legumes amarelos-alaranjados e vegetais verde-escuros são ricos em carotenóides: manga, mamão, cajá, caju maduro, goiaba vermelha, abóbora, cenoura, acelga, espinafre, chicória, couve, salsa), vitamina E (semente de girassol, amêndoas, azeite, castanha de caju, amendoim, abacate), ferro (carnes, ovos, peixes/frutos do mar, couve, feijão, grão-de-bico), vitamina C (laranja, morango, goiaba, tangerina, caju, kiwi), riboflavina (couve, brócolis, espinafre, repolho, agrião, entre outros), ovos, carne, semente de girassol, ervilha, e em maior quantidade, na soja, no leite e em frutos do mar) zinco (semente de linhaça, ostras, camarão, gema de ovo, leite integral, amendoim, castanha de caju), vitamina B6 (avelã, amendoim, atum, salmão, carne de galinha, fígado de vaca e porco) e fibras alimentares (alimentos integrais como pão integral, aveia, granola, macarrão integral, arroz integral).

 

Tatiane cita alguns alimentos ricos em triptofano, como banana, aveia, lentilha e feijão branco.

 

De acordo com a nutricionista, também é importante incluir no planejamento alimentar, alimentos com atividade antifúngica, antiparasitária e antibacteriana devido a baixa imunidade e aumento na frequência de infecções e parasitoses, tais como: consumo regular sementes de abóbora ou de frutas cítricas, óleo de coco, alho, cebola, orégano, cúrcuma, tomilho e ervas; colocar mais variedades de alimentos; combinar alimentos como cereais e leguminosas também é importante, pois essa combinação apresenta todos os aminoácidos essenciais (exemplo, arroz e feijão) e consumir leguminosas que são fontes de cálcio e ferro. 

·       Dicas para introduzir novos alimentos para crianças:  

A nutricionista Tamires Oliveira, especialista em introdução alimentar, diz que é importante que a criança participe do preparo dos alimentos. Antes de ver os alimentos no prato, é interessante que os pais levem a criança ao hortifruti e ajude a escolher as diversas variedades de frutas, legumes e verduras. É nesse ambiente que ela vai conhecer esses alimentos, tocar, cheirar (dessa forma a criança vai criando uma familiaridade, ganhando confiança, perdendo o medo de tolerar). 

 

“Eu vejo muitos pais focados em querer que o filho só coma a todo custo (mas para a criança chegar na fase do comer ela precisa tolerar, interagir, tocar, lamber, provar e por último o comer), cada degrau importa por isso é preciso ter paciência. Leve a criança para a cozinha, mude a forma de preparo (não gostou do brócolis cozido, façam muffin de brócolis, omelete de brócolis), não gostou da banana ou só come ela de um jeito (façam panqueca de banana, sorvete de banana com morango)”, relata. 

 

“Resgate os alimentos que ele comia quando era bebê por exemplo e ofereça de novo (crianças seletivas não são muito receptivas aos novos alimentos, por isso a orientação de oferecer sempre, mesmo que não coma coloque no prato)”, completa Tamires. 

·       Dicas para introduzir novos alimentos para adolescentes e adultos:  

Tatiane cita que a introdução de novos alimentos para indivíduos adultos com TEA pode ser um desafio, uma vez que algumas podem ser mais seletivas ou restritivas em relação aos alimentos que consomem. No entanto, existem algumas dicas que podem ajudar na introdução de novos alimentos:

 

Introduza novos alimentos gradualmente: introduzir novos alimentos lentamente, um de cada vez, para que a pessoa possa se acostumar com o novo sabor, textura ou cheiro. Comece com porções pequenas e aumente gradualmente.

 

Torne a comida mais atraente: tente tornar os alimentos mais atraentes para o indivíduo com TEA, utilizando pratos coloridos ou oferecendo alimentos com formatos divertidos ou que sejam visualmente atraentes.

 

Permita que o adolescente/adulto participe do processo: deixe o indivíduo participar da escolha dos alimentos e permita que ela ajude a preparar a comida. Isso pode aumentar a sua disposição para experimentar novos alimentos.

 

Ofereça escolhas limitadas: ofereça opções limitadas para a pessoa escolher, para que ela não se sinta sobrecarregada ou desencorajada.

 

Utilize alimentos conhecidos como base: experimente adicionar novos ingredientes a alimentos que a pessoa já conhece e gosta. Por exemplo, adicionar vegetais em um macarrão ou legumes em uma sopa.

 

Seja consistente: Ofereça os novos alimentos com frequência e de forma consistente para que a pessoa possa se acostumar com eles.

 

Celebre o sucesso: Quando a pessoa experimentar um novo alimento, elogie o seu esforço e celebre o sucesso. Isso pode aumentar a motivação para experimentar novos alimentos no futuro.

 

É importante lembrar que cada pessoa com TEA é única e pode ter necessidades alimentares diferentes. Por isso, é fundamental consultar um profissional de saúde ou nutricionista para obter orientações personalizadas sobre a introdução de novos alimentos para pessoas com TEA.

 

Desafios com a textura dos alimentos

 

Tatiane diz que os indivíduos autistas podem ter aversões específicas a algumas texturas de alimentos, como alimentos pastosos, crocantes, escorregadios ou pegajosos. Isso pode ser devido à sensibilidade tátil oral, que é a percepção exacerbada de estímulos táteis na boca. Além disso, algumas pessoas com autismo podem ter dificuldades motoras orais, o que dificulta a mastigação e a deglutição de certos alimentos.

 

Algumas estratégias ao lidar com a seletividade alimentar relacionada à textura incluem a:

 

Exposição gradual;

Variação na preparação;

Experimentação com utensílios;

Terapia de integração sensorial;

Abordagem multidisciplinar.

Entender a importância da diferença dos alimentos e implementar estratégias específicas para lidar com a seletividade alimentar relacionada à textura pode ser um passo crucial para melhorar a qualidade de vida e a saúde nutricional de pessoas com autismo. 

 

Dicas de receitas para o dia a dia, segundo Tatiane:

 

Purês e cremes: transforme frutas e legumes em purês e cremes para oferecer uma textura lisa e homogênea. Isso pode facilitar a aceitação para quem prefere texturas suaves. Você pode experimentar diferentes combinações, como purê de batatas, creme de espinafre, purê de maçã ou creme de abóbora.

 

Cozimento e preparação diferenciados: Ofereça o mesmo alimento em diferentes texturas através de métodos de cozimento variados. Por exemplo, cenouras podem ser servidas cozidas e amolecidas, cortadas em palitos e servidas cruas para uma textura crocante, ou raladas e misturadas em saladas para uma textura mais leve.

 

Smoothies e sopas: Smoothies de frutas e legumes ou sopas cremosas são opções para combinar diferentes texturas e sabores de maneira harmoniosa, facilitando a aceitação. Experimente misturar frutas congeladas, iogurte e leite para criar um smoothie, ou cozinhar legumes e processá-los em uma sopa cremosa.

 

Finger foods: Ofereça alimentos que possam ser consumidos com as mãos, como palitos de legumes, frutas cortadas em cubos, tiras de frango grelhado ou queijo cortado em pedaços. Isso permite que a pessoa com autismo interaja com os alimentos de forma mais direta e explore as texturas de maneira menos ameaçadora.

 

Combinações de texturas: Experimente combinar diferentes texturas em um único prato, como adicionar crocantes de granola a um iogurte cremoso, misturar frutas secas em um mingau de aveia ou servir macarrão com um molho suave e vegetais cozidos. Isso pode ajudar a pessoa com autismo a se acostumar com a variedade de texturas.

 

Atividades lúdicas: Incentive a exploração das texturas dos alimentos de forma lúdica, como criar esculturas de frutas, usar cortadores de biscoitos para criar formas com legumes cozidos ou organizar os alimentos no prato de maneira divertida. Isso pode tornar a experiência de experimentar novas texturas mais positiva e envolvente. 

·       Dicas para hora da refeição de crianças autistas: 

A nutricionista especialista em introdução alimentar, seletividade Autista e TDHA, Tamires Oliveira, indica que desde a introdução alimentar, criar o hábito de sentar na mesa e comer junto com a criança é importante, assim eles irão crescer tendo essa disciplina de comer sentado sem telas/TV, mas o ambiente precisa ser favorável (se na hora da refeição for estressante para a criança, ela vai perder o interesse em comer). Ela cita maneiras de controlar o ambiente no momento da alimentação, confira: 

 

Passo a passo para uma refeição tranquila:  

·       Estruture a rotina, em especial no que diz respeito à alimentação;

·       Crie um ritual para familiarizar a criança com a hora de comer. Por exemplo: colocar a mesa/lavar as mãos/sentar/comer;

·       Evite lanches fora da rotina, evitando perda de apetite;

·       Realize refeições em família. Dessa forma, a criança pode ser incentivada a experimentar o que os pais estão comendo;

·       Ofereça alimentos variados, mas não force a comer, não façam chantagem Incentive a comer sozinho e ter autonomia;

·       Brinque de “fazer comidinha” e outros horários com utensílios de cozinha de brinquedo Permita que a criança escolha os utensílios a serem postos na mesa. Questione com qual talher, prato ou copo ela prefere comer; 

·       Ao cozinhar, convide para ajudar, seja no lavar um legume ou até mesmo misturar um bolo. Cultive alimentos em horta com a ajuda da criança. Desse modo, ela se familiariza com o que vai ou não comer; 

·       Celebre cada alimento novo que a criança comer.

 



REFERÊNCIAS:

Referências Google acadêmico -
https://scholar.google.com.br/scholar?q=autistic+adults+and+food+selectivity&hl=pt-BR&as_sdt=0&as_vis=1&oi=scholart

Abordando as Deficiências Nutricionais Comuns no Autismo -
https://www.psychiatryadvisor.com/home/topics/autism-spectrum-disorders/addressing-common-nutritional-deficiencies-in-autism/

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Autism spectrum disorder and food neophobia: clinical and subclinical links

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FONTES:

Thomáz Baêsso - médico cirurgião atuante em nutrologia do Instituto Nutrindo Ideais (@nutrindoideais), com atuação em emagrecimento, hipertrofia e saúde sexual. CRM: 235249.


Sofia Pereira - médica atuante em endocrinologia do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais). 
Graduada pela escola de medicina Souza Marques, Pós graduada em endocrinologia e metabologia pela faculdade IPEMED de Ciências Médicas. Pós graduada em neurologia - IBCMED. Em sua prática clínica, atende homens e mulheres que buscam saúde, performance física, longevidade e bem-estar, além de cuidados com a saúde mental e neurotransmissores. CRM 52-996181

Alexandre Lucidi (@alucidi) - médico geneticista, atuante em Neurogenética e Neuroimunologia. Com atuação em Neurogenética e Neuroimunologia, graduado em Medicina pela Universidade Estácio de Sá (UNESA), tem Residência Médica em Genética Médica pelo Instituto Nacional da Saúde da Criança, da Mulher e do Adolescente Fernandes Figueira, Fiocruz (IFF/Fiocruz) e Especialização em Neurologia pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro. Mestrando do Programa de Pós Graduação em Neurologia da UNIRIO/HUGG e participa de estudos fase 3 na mesma instituição. Integrante da equipe de Neurologistas do Hospital Copa D’Or/ Rede D’Or São Luiz e voluntário em ações de conscientização sobre a esclerose múltipla na Associação de Pacientes do Estado do Rio de Janeiro.

Tamires Oliveira (@tamiresoliveira.nutrir) - nutricionista especialista em introdução alimentar, seletividade Autista e TDHA. Nutricionista, ortomolecular e fitoterapeuta infantil em Itaguaí/Barra/on-line, atua na área de pediatria há 6 anos, sou especialista em introdução alimentar, obesidade infantil e doenças relacionadas, seletividade alimentar, nutrição esportiva infantil. Tem pós-graduação em nutrição funcional e terapia alimentar no autismo e TDHA, pós-graduação em nutrição clínica e nutrição materno-infantil.

Tatiane Schallitz - nutricionista do Instituto Nutrindo Ideais (@NutrindoIdeais). Graduada pela UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), além disso, está pós-graduando em Fitoterapia pela UNIFATEC. Antropometrista ISAK I. Experiência em Nutrição Esportiva, Comportamental e Vegetarianismo.


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