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quarta-feira, 16 de junho de 2021

Pandemia diminui cirurgias no SUS

 DATASUS aponta queda de 28% e 40% em procedimentos preventivos de doença ocular que surge na criança e adolescência. 

 

Hospitais lotados de pacientes com covid-19 em todo o País estão dificultando o tratamento de outras doenças. Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto do Instituto Penido Burnier a situação é grave para a saúde ocular. Isso porque, dados do DATASUS mostram que durante a pandemia houve redução de todos os tratamentos oftalmológicos oferecidos pelo serviço público de saúde. Entre eles, dois procedimentos que podem evitar a necessidade de transplante de córnea em portadores de ceratocone, alteração que responde por 70% dos transplantes no Brasil. 

Daí o alerta do oftalmologista durante a campanha “junho violeta” que visa conscientizar sobre a importância do tratamento precoce e do risco de coçar os olhos. O médico diz que no início do ceratocone a visão pode ser corrigida com óculos e por isso muitos casos só são descobertos em estágio avançado. A principal dica para os pais é observar se a criança tem hábito de coçar os olhos. Se tiver deve passar por uma tomografia da córnea, único exame que verifica todas as alterações em suas duas faces.

 

A doença

Segundo Queiroz Neto a estimativa é de que hoje cerca de 150 mil brasileiros têm ceratocone que geralmente aparece na infância ou adolescência.   A doença, explica, degenera e afina a córnea, lente externa do olho, que fica com a superfície irregular e se torna mais curva que o normal, até tomar o formato de um cone. Estas alterações, destaca, resultam em astigmatismo irregular que torna as imagens para perto e longe desfocadas a ponto de interferir na qualidade de vida tanto quanto a degeneração macular, maior causa de perda da visão entre idosos. A causa do ceratocone, ressalta, não está bem estabelecida, mas há evidências de que o hábito de coçar ou esfregar os olhos agrava a deformação da córnea.

 

DATASUS

Relatório levantado pelo hospital junto ao DATASUS revela que em 2019 os hospitais da rede pública de apenas 7 estados brasileiros realizaram 886 cirurgias de crosslinking em todo o País, sendo que 799 aconteceram em São Paulo. No ano passado a mesma cirurgia na rede pública teve queda de 28%. Somou 630 procedimentos distribuídos em 11 estados, com concentração de 490 procedimentos em São Paulo. 

Queiroz Neto explica que o crosslinking é o único procedimento que pode interromper a evolução do ceratocone. Consiste em reticular as fibras de colágeno da córnea, combinando a aplicação de vitamina B2 (riboflavina) e radiação ultravioleta. A junção desses dois componentes fortalece em até três vezes a resistência da córnea, pontua.

O relatório do DATASUS também mostra que em 2019 os hospitais da rede pública realizaram em 9 estados 1015 implantes de anel intraestromal, sendo 817 em São Paulo. No ano passado esta cirurgia teve queda de 40% em relação ao ano anterior. O SUS realizou um total de 608 implantes em 13 estados, sendo 490 deles em São Paulo. O oftalmologista explica que a cirurgia é indicada para pessoas que apresentam intolerância ao uso de lentes. A cirurgia é reversível, feita com anestesia tópica através de uma micro incisão por onde e implantado o anel que aplana a córnea e torna o uso da lente mais confortável.

 

Metanálise

Queiroz Neto afirma que a espessura mínima da córnea para passar pelo crosslinking é de 400 micras. Significa que não pode ser aplicado em córneas muito alteradas. Uma metanálise de estudos europeus sobre o procedimento, comenta, também mostra que em crianças e adolescentes o ceratocone tem uma evolução mais rápida, mas que a técnica tem melhor resultado entre os mais jovens.

O acompanhamento por 3 anos de 66 pacientes com idade entre 9 e 18 anos submetidos ao crosslinking, mostrou que todos tiveram estabilização do ceratocone, melhora da visão e recuperação da espessura central da córnea mais rápida que em adultos.

As pessoas com mais de 18 anos também tiveram melhora da visão, mas o risco de complicações como ceratite microbiana é maior neste grupo, conclui.


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