Sem políticas
públicas de proteção, avanço da pandemia continua vitimando entregadores
O
avanço descontrolado da pandemia impulsionou ainda mais o setor de delivery.
Segundo levantamento da startup Mobills, os gastos com entregas cresceram 149%
no ano passado. Para atender a essa demanda, houve uma disparada no número de
motofretistas, que cresceu 538% em 2020. “A contribuição dos serviços
de delivery e seus entregadores para o cumprimento do isolamento social é
notória, porém infelizmente não houve a contrapartida do poder público em
buscar medidas para preservar a integridade física desses trabalhadores. Prova
disso é o arquivamento, pelo Congresso, de projeto de lei que buscava a
regulamentação de medidas sanitárias para proteção da categoria”,
afirma Alysson Coimbra, diretor da Associação Mineira de Medicina do Tráfego
(Ammetra) e coordenador da Mobilização Nacional dos Médicos e Psicólogos
Especialistas em Medicina do Tráfego.
Na
avaliação das entidades médicas, a criação de normas e mecanismos que obriguem
as empresas a fornecer melhores condições de trabalho a esses profissionais é
indispensável para que eles não se tornem vetores de transmissão. “Eles não
têm espaço sanitário para higienização, descanso e alimentação, nem reposição
adequada de EPIs (equipamentos de segurança como máscara), o que é fundamental
para que não ocorra a contaminação do prestador de serviço e de todos que com
ele se relacionam”, afirma o médico.
Segundo
Coimbra, não é raro encontrar aglomerações de motociclistas nas portas de bares
e restaurantes. “A falta de pontos de apoio para retirada dos
pedidos faz com que muitos se sentem e depositem suas mochilas no chão,
aumentando as chances de contaminação. Essa responsabilidade é de alguém, e cabe
ao poder público e Judiciário fiscalizar e cobrar a adoção de medidas
sanitárias mínimas em toda essa cadeia de serviço”,
completa Coimbra.
Esses
motociclistas ainda se sujeitam a condições de trabalho insalubres. “Muitos não
conseguem fazer pausas para alimentação, têm sobrecarga de trabalho e estão
mais sujeitos a acidentes para cumprir metas de entrega e, assim, ter uma
remuneração melhor”, avalia o especialista.
O
resultado desse quadro é o aumento do número de mortes de motociclistas em
2020. As motocicletas foram o veículo com o maior número de indenizações pagas
pelo DPVAT no ano passado. “Apesar de representarem menos de 30% da frota,
motociclistas receberam 79% das indenizações do DPVAT por morte, invalidez e
por acidentes. Precisamos regulamentar a atividade profissional e criar medidas
de proteção da vida desses trabalhadores tão essenciais”,
observa.
Motoboys
em manifestação por melhores condições
de
trabalho (Foto: Roberto Parizotti/FotosPublicas)
Cartilha
Segundo o especialista, para minimizar os riscos, entidades médicas criaram
cartilhas de orientação com os cuidados que esses trabalhadores devem ter. “Entre as
medidas necessárias estão a limpeza constante do capacete, guidão e todas as
partes da moto que tenham contato com a mão. Isso pode ser feito com água e
sabão, álcool 70% ou solução desinfetante. O compartimento de transporte deve
ser higienizado com frequência. Ao fim do expediente, todo material de
trabalho, bem como sapato e capacete, devem ficar fora da casa, e a roupa usada
no dia precisa ser lavada. É importante que ele tome banho assim que chegar em
casa para não correr o risco de contaminar alguém da família”,
explica Coimbra.
Cuidado
redobrado também é necessário para quem recebe a encomenda. Toda embalagem deve
ser higienizada antes de ser manuseada. “Não coloque as embalagens em
superfícies como mesas e bancadas antes da higienização. E depois de limpar
tudo, lave as mãos”, orienta o médico.
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