Para o filósofo e
pesquisador, ser gentil é muito além de falar a verdade, mas ter a sensibilidade de saber como dizê-la
Há alguns anos atrás no Rio de Janeiro, nascia um mito e com ele
um dito popular: 'Gentileza gera Gentileza'. A frase, que estampava diversos
murais desenhados pelo icônico e quase mítico ‘profeta’ Gentileza nas pilastras da antiga
Perimetral, que era uma via expressa elevada sobre a Avenida Brasil, nos anos
2000 virou um mantra social, sendo reproduzido à exaustão em camisetas, outdoors e na rede social.
Mas será que o pitoresco pregador urbano José Datrino,
conhecido como Gentileza, tinha razão?
O filósofo e
pesquisador Fabiano de Abreu acredita que existem alguns pontos a serem
considerados quando o assunto é falar
sobre ser gentil. ”Gentileza gera gentileza? Gentileza não gera gentileza se o interlocutor for estúpido, se não tiver inteligência emocional
e não
for sensível. Ser Gentil é ser bom e
sentir-se do bem, mas não é algo humano, é uma
conquista. Gentileza é uma
virtude que tem a ver com a cultura local, um protocolo social, onde nada mais é do que
uma espécie de obrigação dentro de uma educação, uma obrigação que,
instalada em nosso cotidiano, passa a ser inconsciente. Assim, as consequências da
gentileza também são
saudáveis e podem ser percebidas como algo que nos traz qualidade de vida. Ser
gentil é ser bom e sentir-se do bem, mas nem sempre gera de volta a
gentileza”.
Verdade x Gentileza
Fabiano aponta que ser gentil não
necessariamente tem a ver com falar a verdade: “É importante entender que a gentileza não quer dizer falar a verdade e, sim, saber como falar a verdade.
Ser gentil não é ser
humano e, sim, sociável. O ser humano carrega defeitos e qualidades e ser sociável é um
aprendizado que visa a convivência, a
vida em sociedade. Praticar a virtude de ser gentil é uma
conquista de consciência e é a
conquista de um conhecimento. Dizer a verdade sem precisar ferir o próximo é a
verdadeira gentileza”.
Tipos
de gentileza
O filósofo também
classifica os “tipos” de gentileza existentes: “primeiramente, existe a gentileza superficial, que se refere
apenas ao tratamento comum em sociedade. Depois a Gentileza impregnada, que se
manifesta através daquele
que não mede esforços em ajudar. E há também o
gentil de natureza, que tem tranquilidade e inteligência emocional
apuradas a ponto de não se importar com a resposta ignorante”.
Como
ser gentil?
Fabiano ressalta que há quem não responda à gentileza
e também há aqueles que podem se irritar com a gentileza alheia como se
fosse uma afronta à sua arrogância. Então,
como ser gentil mesmo em meio a um ambiente hostil? O filósofo
responde: “Quando se tem ciência das
consequências de ser gentil e se tem uma segurança de si mesmo e dos seus
valores, é possível
experimentar a gentileza mesmo recebendo como retorno a arrogância constante.
Faça com que a gentileza seja natural e constante sem determinar um tempo,
pois, os resultados, quanto mais tarde aparecerem, mais apaixonantes serão”.
Como suportar um estúpido?
Na opinião do pesquisador, só quem consegue ser gentil alcança a plenitude, e com paz e
plenitude somos capazes de organizar melhor a vida e meditar sobre suas consequências e
caminhos: Assim, a gentileza é uma
consultoria gratuita para o bem do próximo. A
gentileza não é só um tratamento polido, mas um caminho para sermos plenos em nossas
vidas”.
E como proceder diante da incompreensão e da
estupidez alheia? Fabiano aconselha: “O gentil também é o antônimo (contrário) de egoísta e imprestável. Ser
gentil é uma pré-disposição a
agir em prol do outro. O gentil espontâneo, quando age ao lado de um arrogante,
fere na alma dessa arrogância mesmo que o egoísta não queira
admitir. O arrogante que mantém a
arrogância é um
desprovido de intelecto ou uma pessoa que não tem o conhecimento do equilíbrio
e sentido das consequências.
Não consegue, sem treino e vontade de mudar, entender a gentileza. Se sua
gentileza foi respondida com estupidez ou arrogância, mantenha-se calmo e
encontre seu equilíbrio. Trabalhe sua mente em outros afazeres e esqueça isso.
As consequências
negativas não serão suas”.
Tenho sido ignorante mas quero mudar. O que
fazer?
Fabiano aponta que é possível ter
bons resultados na vida procurando ser gentil. Segundo o filósofo, é possível abandonar práticas e costumes ignorantes e se tornar uma pessoa mais gentil,
colhendo frutos e benefícios desta decisão: “Busque o
equilíbrio e medite para um autoconhecimento e descubra suas qualidades para
buscar seus objetivos. Assim, não terá mais tempo de ser arrogante. Também verás que não leva a nada ser assim, aliás, leva, sim, a pontos negativos na
própria vida. Ser gentil é ser
generoso mesmo que sua generosidade seja apenas pelo bom trato.Ser gentil não é uma
virtude com a necessidade de criar vínculos. São atitudes que precisam ser
espontâneas pelo bem próprio, do
outro e de toda uma sociedade”.
Segundo ele, a gentileza tem a ver com o
exercício dos mais nobres e evoluídos sentimentos: “O gentil é altruísta, é aquele
que desenvolveu o nível evoluído em
prol do bem comum. De todos os defeitos do mundo, o egoísmo é o que
mais trouxe consequências ruins à humanidade
e ao ser humano. Ser gentil é tratar o
próximo como gostaria de ser tratado. Se você não trata alguém bem,
está penalizando a si mesmo por não aceitar a si próprio”.
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