“Empoderar mães
e pais, favorecer a amamentação”. Este é o slogan da Semana Mundial de
Aleitamento Materno (SMAM) 2019, definido pela Aliança Mundial para Ação em
Amamentação (WABA, sigla em inglês)
Nos
primeiros dias após o nascimento, milhões de bactérias fazem a sua casa no
corpo do bebê - na pele, na boca e especialmente no intestino. Esses
“imigrantes” vêm do canal do parto e das fezes da mãe (durante o parto
vaginal), da pele e da boca da mãe, enquanto ela segura e acaricia o bebê
e talvez até mesmo da placenta, embora essa fonte ainda seja debatida.
O
microbioma colonizador pode ter um impacto de longo alcance na saúde do bebê.
Estudos sugerem, por exemplo, que a população do microbioma de um bebê, nos
primeiros dois anos de vida, pode prever um risco posterior
de obesidade. As crianças nascidas por cesariana também são mais propensas
a se tornarem
obesas, ou desenvolver doenças autoimunes,
como diabetes tipo 1 e asma.
Ultimamente,
os cientistas identificaram outro importante contribuinte para o microbioma
infantil. O leite materno está repleto de bactérias que colonizam o intestino
da criança e podem ajudar a definir o rumo do desenvolvimento do sistema
imunológico e do metabolismo do bebê.
“Mas
o leite materno parece ser rico em bactérias benéficas somente quando vem
diretamente do seio da mãe. Quando o mesmo leite é bombeado e oferecido mais
tarde ao bebê, ele ainda carrega a maioria das outras riquezas do leite
materno, mas nem todas”, explica o pediatra e homeopata, Moises Chencinski.
Microbioma do leite materno
Cada
vez mais, comprovamos a ideia de um microbioma do leite materno e sua
importância. “É bem sabido agora que os bebês nascidos por cesariana perdem
muitas bactérias úteis. E o uso de antibióticos na mãe ou no bebê
também pode destruir as nascentes populações bacterianas do bebê. A amamentação
pode compensar esse processo até certo ponto”, explica o pediatra.
Essas
transformações acontecem muito cedo na vida do bebê. O problema surge quando a
mãe não pode amamentar e está introduzindo a fórmula, ou quando a mãe ou o bebê
estão recebendo antibióticos.
Uma
série recente de estudos lançou luz sobre um tipo particularmente benéfico de
micróbio, chamado bifidobactéria. Um trabalho,
publicado em 2012, mostrou que o microbioma evolui durante a gravidez. Com o
tempo, torna-se semelhante a um estado que se assemelha à inflamação e à
síndrome metabólica - uma condição associada a doenças cardíacas, derrame e
diabetes tipo 2. Mas, no final da gravidez, as bifidobactérias
são influenciadas pelo hormônio gestacional, progesterona, e proliferam em
resposta, como se estivessem se preparando para a fase de amamentação.
“As
bifidobactérias consomem açúcares especiais encontrados no leite materno,
chamados oligossacarídeos do leite humano, que os bebês não conseguem digerir.
Como resultado, essas bactérias
são abundantes nos intestinos de bebês amamentados, mas não no de bebês
alimentados com fórmulas infantis”, diz Moises Chencinski.
Sabemos
que o leite materno contém oligossacarídeos do leite humano, mas a descoberta
de que eles são importantes para o microbioma se desenvolver atraiu a atenção.
As vacas produzem cerca de 40 oligossacarídeos diferentes e os seres humanos
produzem mais de 100, embora o leite materno de cada mulher contenha um
subconjunto desse número.
“O
leite materno também contém uma mistura única de hormônios, anticorpos e
bactérias - uma bebida que presumivelmente evoluiu para atender às necessidades
do bebê. Esta é uma das coisas únicas sobre o leite humano que é realmente
difícil de replicar”, informa o médico.
Os
fabricantes de fórmulas conhecem a ciência do leite materno e se esforçam para
imitar a substância o mais próximo possível. Mas no caso dos oligossacarídeos,
algumas empresas estão adicionando um dos açúcares complexos, chamados 2FL, aos
seus produtos (e estão testando
muitos outros). No entanto, cerca de 20% das mulheres não produzem 2FL
no leite materno. Se uma dessas mulheres der ao seu bebê uma fórmula que contém
2FL, o bebê recebe um açúcar que não teria recebido naturalmente.
Adicionar
apenas um açúcar também pode não trazer muitos benefícios. Pesquisas sugerem
que apenas cerca de 10 dos açúcares parecem ser particularmente importantes
para a saúde do bebê - mas somente quando consumidos em combinação.
“O
leite materno que é bombeado e oferecido por mamadeira é geralmente melhor do
que a fórmula. Mas o leite materno bombeado pode não fornecer os benefícios dos
açúcares, que são obtidos somente com o leite materno vindo diretamente da
fonte”, afirma o pediatra.
Um
estudo
com 393 pares canadenses de mães e filhos descobriu que o leite materno bombeado
parece ser mais rico em algumas bactérias nocivas, mas tem poucas
bifidobactérias. Muitas variáveis podem afetar a qualidade do leite materno
bombeado, incluindo o tipo de bomba, como o leite é
armazenado e a limpeza das mamadeiras e dos mamilos. O estudo sugere que o
contato direto entre o seio da mãe e a boca do bebê é importante: quando um
bebê suga o seio, alguns habitantes de seu microbioma oral podem voltar ao seio
materno.
“Em
outras palavras, os benefícios da amamentação podem derivar de uma miríade de
fatores, incluindo os muitos microbiomas no corpo da mãe - no leite materno e
na pele da mama - e na boca e no intestino do bebê. Isso não quer dizer seja
que o leite humano bombeado é ruim. Existem outros fatores envolvidos”, diz o
médico Moises Chencinski.
Cautela com antibióticos
Os
médicos também devem ter cautela ao prescrever antibióticos para bebês ou para
mães que amamentam. Há fortes evidências de que os antibióticos podem ter um poderoso efeito
negativo no microbioma, mudando o equilíbrio para as bactérias nocivas.
Para
algumas mulheres e bebês, renunciar aos antibióticos não é uma opção. Uma em
cada quatro mulheres grávidas são infectadas com bactérias estreptocócicas do
grupo B, e podem precisar de antibióticos intravenosos durante o trabalho de
parto para diminuir o risco de infectar seus bebês.
“Essas
mulheres são incentivadas a minimizar os efeitos sobre o microbioma por vários
meios, incluindo parto vaginal, aleitamento materno exclusivo, contato
abundante pele-a-pele com o bebê, e evitando dar banhos perfumados, que podem
prejudicar o microbioma dos bebês. Essas medidas realmente promovem um bom
crescimento de bactérias saudáveis tanto na pele do bebê
quanto no intestino”, diz Chencinski.
Aqui,
novamente, a amamentação parece ser o melhor caminho. “Mas as mulheres que têm
problemas para amamentar não devem se desesperar. Mesmo que não consigam
completar seis meses de aleitamento materno exclusivo, se puderem amamentar
parcialmente, ou se puderem fazer um mês ou uma semana, isso definitivamente é
melhor do que nenhum aleitamento materno”, orienta o pediatra.
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