No Brasil,
mulheres chefes de família, diagnosticadas com a doença, compõem um grupo
severamente impactado em termos sociais e econômicos, indica Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM) DC Studio
Relatório da Comissão Lancet de Câncer de Mama,
estudo internacional realizado por um grupo multidisciplinar de especialistas
de vários países, incluindo o Brasil, alerta para a falta de dados e a
desigualdade de acesso ao tratamento da doença. Embora a Lancet Commission
considere uma diminuição notável na mortalidade por câncer de mama na maioria dos
países mais desenvolvidos, o estudo mostra que muitos pacientes em nações menos
favorecidas ainda não são tratados adequadamente. “A subnotificação e o real
impacto econômico da doença em países de baixa e média rendas, como o Brasil,
são pontos frágeis que necessitam de maior atenção para o enfrentamento deste
grande problema de saúde pública que é o câncer de mama”, afirma a mastologista
Rosemar Rahal, membro da diretoria da Sociedade Brasileira de Mastologia (SMB).
O estudo da Lancet Commission, divulgado
recentemente no Reino Unido, indica que 7,8 milhões de mulheres diagnosticadas
com câncer de mama em 2015 estavam vivas no final de 2020. Segundo os
participantes do relatório, este é um reflexo do progresso nas investigações e
na gestão o câncer, que possibilitaram reduzir em 40% a mortalidade pela doença
na maioria dos países desenvolvidos e de maior renda. Ao mesmo tempo, porém, o
estudo demonstra que é preciso avançar no rastreamento e tratamento. Também em
2020, 685 mil mulheres morreram em decorrência do câncer.
Um exemplo trazido pelo relatório, e que configura
desigualdade, diz respeito aos dados sobre pacientes com câncer de mama
metastático. O grupo multidisciplinar da Lancet constata que o número de
pessoas em estágio avançado da doença ainda é desconhecido, pois os casos estão
subnotificados.
Ao trazer o problema para o cenário nacional,
Rosemar Rahal considera que a subnotificação, de forma geral, “não permite um
real diagnóstico de dados epidemiológicos, como os de incidência e mortalidade,
que são relevantes e norteadores para as estratégias de saúde pública no País”.
Estudo piloto trazido pela Lancet Commission ouviu
606 mulheres que vivem com câncer de mama. Quase todas relataram “problemas
físicos ou de bem-estar” relacionados à doença, como perda de emprego. Entre as
participantes no estágio inicial do câncer, 27% declararam ter dificuldades
financeiras. Entre as que enfrentavam a doença na fase metastática eram 35%.
A mastologista aponta grandes desafios,
considerando o impacto social e econômico da doença no Brasil. “O número de
lares que têm a mulher como a principal fonte financeira é relevante”, diz. De
acordo com levantamento do FGV Ibre (Instituto Brasileiro de Economia da
Fundação Getulio Vargas), mais da metade dos lares brasileiros (50,9%) é
chefiado por mulheres. “Muitas vezes, após o diagnóstico de câncer de mama, a
impossibilidade das atividades laborais em subempregos e mesmo a demissão de
atividades com vínculo empregatício tornam claras a repercussões econômicas da
doença”, diz Rosemar Rahal. Entretanto, ressalta, os números reais desta
realidade e o impacto financeiro ainda não foram corretamente mensurados no
País. “E aqui incluímos uma situação gravíssima: o abandono do tratamento em
decorrência de barreiras sociais e econômicas”, completa.
Para a especialista da SBM, tão importante quanto
lançar luz sobre as desigualdades que envolvem o diagnóstico e o tratamento do
câncer de mama, é ter uma visão mais abrangente sobre a situação da doença no
Brasil. “Somente desta forma teremos como aprimorar as políticas públicas
voltadas ao enfrentamento da doença”, conclui Rosemar Rahal.
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