quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

Educação ambiental só funciona quando vira prática dentro e fora da escola

Experiências em escolas públicas ajudam a desenhar caminhos para que a educação ambiental ganhe mais espaço e efetividade no planejamento pedagógico de 2026

 


Debater educação ambiental na escola tem se mostrado insuficiente quando o tema permanece restrito a conteúdos teóricos ou ações pontuais. Cada vez mais, iniciativas pedagógicas indicam que o aprendizado ganha força quando as crianças participam ativamente do processo, aplicam o conhecimento no cotidiano e levam a experiência para dentro de casa, envolvendo também suas famílias.

Em um cenário de aumento no consumo e no descarte de resíduos, comum nos meses de fim de ano, o período de férias escolares também se torna estratégico para refletir sobre o próximo ciclo letivo. É justamente nesse momento que gestores, redes de ensino e escolas estruturam projetos e definem prioridades para o ano seguinte, abrindo espaço para iniciativas que transformem a educação ambiental em prática contínua.

“Quando o aprendizado é construído a partir da vivência, o aluno deixa de ser apenas receptor de informação e passa a atuar como agente de mudança. Atividades que envolvem desafios, acompanhamento de resultados e ações práticas estimulam o engajamento e ajudam a consolidar novos hábitos, especialmente quando a escola cria pontes com a rotina familiar”, afirma Claudia Pires, especialista em ESG e ciência do comportamento e CEO da startup SO+MA.

Um exemplo positivo nesse sentido é o Missão Reciclar, programa desenvolvido pela SO+MA e aplicado em escolas públicas de Campo Largo, no Paraná, que uniu aprendizagem digital, desafios educativos e práticas reais de reciclagem. Ao longo do processo, os alunos avançaram por missões educativas mediadas por tecnologia, que combinaram conteúdo digital, desafios práticos e acompanhamento contínuo. A realização do Dia da Prática da Reciclagem representou a consolidação desse aprendizado, conectando escola, famílias e cooperativas locais responsáveis pela destinação adequada dos materiais. O volume de quase 157 quilos de recicláveis arrecadados foi consequência direta do engajamento construído ao longo das missões e da aplicação do conteúdo no cotidiano dos estudantes.

“Educação ambiental precisa ir além do discurso. A criança aprende quando vive a experiência, quando percebe que sua atitude tem impacto real e se sente parte de algo maior. O protagonismo infantil é um fator-chave nesse processo porque as crianças levam o aprendizado para casa, mudam a dinâmica da família, questionam hábitos e acabam mobilizando adultos. Esse efeito multiplicador é um dos grandes potenciais da educação ambiental”, explica Claudia Pires.

Para a professora Kesly dos Santos Ferreira Gelatti, da Escola Municipal Policarpo Miranda, o diferencial desse tipo de abordagem está na forma como o conteúdo é absorvido. “Quando o estudante aprende e pratica ao mesmo tempo, o conhecimento ganha outra força. A separação dos resíduos passa a fazer parte da rotina da casa, não fica restrita à sala de aula”, relata.

Ela destaca que o engajamento aumenta quando a escola acompanha o processo e reconhece o esforço dos alunos. “Acompanhar resultados, pontuações e evolução gera entusiasmo. Eles se sentem parte de algo maior e entendem que pequenas atitudes geram grandes mudanças”.

Aprender fazendo e compartilhando
Outro aspecto relevante dessas iniciativas é o caráter coletivo. A prática da reciclagem deixa de ser individual para se tornar uma ação comunitária, assim como o Missão Reciclar que também se conectou às cooperativas e à cadeia da economia circular. Ao entender para onde vai o resíduo e quem é impactado por ele, o aluno amplia sua visão sobre responsabilidade socioambiental. “No fim, o mais importante não é o prêmio ou o reconhecimento material. É a compreensão de que fazer o bem gera impacto positivo e beneficia toda a comunidade. Isso fica como aprendizado para a vida”, observa a professora.

Para Claudia Pires, esse modelo revela um caminho promissor para políticas educacionais nos próximos anos. “Projetos como o Missão Reciclar mostram que é possível ensinar sustentabilidade de forma prática, mensurável e envolvente. Pensar em 2026 com mais iniciativas desse tipo é investir na formação de cidadãos mais conscientes e preparados para os desafios ambientais do futuro”.

À medida que escolas e gestores públicos buscam novas formas de trabalhar a educação ambiental, experiências que conectam tecnologia, prática cotidiana e participação familiar se consolidam como ferramentas essenciais para transformar conhecimento em ação, começando pela infância e se espalhando por toda a sociedade.


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