Neonatologista do Vera Cruz Hospital,
em Campinas (SP), reforça a importância da prevenção, do cuidado integral e do
apoio às famílias
UTI Neonatal do Vera Cruz Hospital
Foto: Vera Cruz Hospital
O nascimento de um bebê é um momento de expectativa e alegria.
Mas, quando ocorre antes do previsto, inicia-se uma jornada delicada, que exige
cuidados especializados e uma rede ampla de apoio. Em 2025, novembro foi
oficialmente instituído como o Mês da Prematuridade, reforçando a importância
de informar a população, valorizar as equipes de saúde e fortalecer políticas
públicas de cuidado desde o pré-natal até o pós-alta.
No Brasil, o cenário é preocupante: o país está entre os dez com
mais partos prematuros no mundo. A taxa nacional é de 11% a 12%, segundo o
Conselho Federal de Enfermagem, índice superior ao de países desenvolvidos, que
variam entre 5% e 9%, conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS). Esses
números reforçam a necessidade de ampliar o acesso ao pré-natal de qualidade e
reduzir desigualdades que afetam mães e bebês. Por outro lado, a melhoria das
redes de atenção e a qualificação das UTIs Neonatais têm contribuído para
resultados significativamente melhores para esses pequenos guerreiros.
O parto prematuro ocorre antes de 37 semanas de gestação. As
causas são multifatoriais e podem incluir infecções urinárias ou genitais,
gravidez múltipla, hipertensão arterial (pré-eclâmpsia), descolamento da
placenta, malformações uterinas e fatores de estilo de vida, como tabagismo ou
uso de drogas. Em muitos casos, a causa específica não é identificada.
João Paulo Narciso Azevedo, médico neonatologista do Vera Cruz
Hospital, em Campinas (SP), explica que quanto menor a idade gestacional, mais
riscos há. “Os principais problemas estão relacionados à imaturidade dos órgãos
e sistemas. Após o nascimento, dificuldades respiratórias, digestivas,
neurológicas e cardíacas podem estar presentes. Para cada uma delas, hoje
dispomos de medicações, tecnologias e protocolos que evitam lesões capazes de
impactar todo o desenvolvimento futuro. Também é fundamental lembrar dos riscos
à visão e à audição, que são rastreados durante o acompanhamento”, destaca.
Entre as complicações que mais exigem internação em UTI Neonatal
estão a necessidade de suporte respiratório (ventilação mecânica ou CPAP),
instabilidade cardiovascular, sepse neonatal, icterícia grave que exige
fototerapia intensiva e enterocolite necrosante (uma inflamação grave do
intestino).
No Vera Cruz Hospital, a média de nascimentos prematuros é de 10%
ao mês, mas nem todos os bebês precisam de internação na UTI. Para oferecer o
suporte necessário aos bebês e às famílias que requerem esses cuidados, o
hospital conta com dez leitos de UTI Neonatal, onde atuam médicos
neonatologistas e especialistas de áreas como cirurgia pediátrica,
neurocirurgia e neurologia, além de enfermeiros, técnicos de enfermagem,
fisioterapeutas, fonoaudiólogas, psicóloga e nutricionista. A equipe também
atua nas três salas de parto, no alojamento conjunto, que possui 16 leitos, e
em um andar destinado para que as famílias permaneçam com o bebê durante todo o
período anterior à alta.
Azevedo reforça que a UTI Neonatal é um ambiente de vigilância
contínua. “Monitoramos constantemente os sinais vitais, ajustamos o suporte
nutricional, muitas vezes iniciado por via intravenosa, e administramos
medicamentos específicos para cada condição. Também adotamos práticas de
cuidado centrado no desenvolvimento, como controle de ruídos e iluminação, posicionamento
adequado e, sempre que possível, a participação dos pais no cuidado”, explica o
neonatologista.
Por perder a fase final crucial do desenvolvimento intrauterino, o
bebê prematuro pode apresentar atrasos no desenvolvimento neuropsicomotor. “Há
risco aumentado de dificuldades para se sentar, engatinhar, andar ou falar no
tempo esperado. Problemas de aprendizagem e comportamento também podem surgir
mais tarde. Por isso, o acompanhamento pós-alta por uma equipe multidisciplinar
é essencial”, completa o especialista.
Para o neonatologista, o pré-natal é a principal ferramenta de
prevenção. “Consultas regulares permitem diagnosticar infecções, controlar
doenças crônicas, identificar sinais de ameaça de parto prematuro, como o
encurtamento do colo uterino, e orientar sobre hábitos de vida saudáveis”,
explica. Ele destaca, ainda, os principais fatores de risco: histórico de
prematuridade, gestação múltipla, idade materna menor de 17 ou maior de 35
anos, doenças maternas (hipertensão, diabetes, infecções), uso de tabaco,
álcool ou drogas, intervalo curto entre gestações e pré-natal insuficiente.
A vivência da prematuridade é emocionalmente intensa, e muitos
pais enfrentam sentimento de culpa, medo e ansiedade, além de desafios
práticos, como rotina exaustiva no hospital, custos de deslocamento e a
necessidade de conciliar o cuidado com o trabalho e outros filhos. “A rede de
apoio, familiares, amigos, comunidade, é um pilar nesse processo. Ela pode
ajudar de forma concreta com suporte emocional, cuidados com a casa e com
outros filhos, preparo de refeições e até auxílio com custos indiretos. O mais
importante é compreender que os pais precisam dedicar seu tempo ao bebê
hospitalizado”, pontua.
Após a alta, inicia-se uma nova fase, marcada por acompanhamento
pediátrico frequente e consultas com especialistas como neurologista,
oftalmologista e fonoaudiólogo. Estímulos adequados, prevenção de infecções e
vacinação em dia são fundamentais para o desenvolvimento saudável. “Esta
trajetória, embora desafiadora, é repleta de resiliência e esperança. Cada bebê
prematuro é uma prova do poder da vida e da dedicação de suas famílias e das
equipes de saúde. Informar-se é o primeiro passo para apoiar essa causa tão
nobre”, finaliza.
Vera Cruz Hospital
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