Engana-se quem acredita que apenas mulheres são afetadas por alterações hormonais. Todas as pessoas produzem hormônios, substâncias fundamentais para o humor, o sono e o bem-estar emocional
Cansaço
excessivo, irritação sem motivo, dificuldade para dormir, desânimo persistente,
entre outras sensações podem ser sintomas de desequilíbrio hormonal. Embora
mais frequentemente associado às mulheres, em fases como TPM, menopausa ou
pós-parto, a desregulação hormonal é uma condição universal, que pode afetar
todas as pessoas. A baixa testosterona em homens, por exemplo, pode levar à
piora da qualidade do sono e reduzir o nível de motivação para atividades
cotidianas. E, para se ter ideia, a Harvard Medical School, aponta que 25%
dos homens acima dos 40 anos encontram-se nessa situação.
Para
Leonardo Alvares, médico endocrinologista e metabologista, ainda existe uma
visão limitada sobre o papel dos hormônios na saúde integral. “Quando entramos
no universo dos hormônios, como em uma indicação de reposição hormonal, é comum
as pessoas pensarem que esta necessidade é restrita a um grupo de pessoas, como
mulheres, por exemplo. Mas a verdade é que todos temos que lidar com nossos
hormônios e eles podem sim afetar nossa qualidade de vida, dependendo se estão
equilibrados ou não”, explica.
Um exemplo é a glândula tireóide. Independente do
sexo, alterações na tireoide têm impacto relevante sobre a saúde mental. Os
hormônios produzidos pelo órgão regulam diversos órgãos e sistemas,
interferindo em aspectos como humor, peso, fertilidade e memória. O
hipotireoidismo, por exemplo, aumenta em até 2,5 vezes o risco de depressão,
enquanto o hipertireoidismo está ligado a crises de ansiedade e distúrbios do
sono. Segundo o especialista, essas consequências são alguns dos motivos pelos
quais o rastreamento hormonal deve ser parte da rotina de cuidados de acordo
com faixas etárias e sintomas. “Muitas queixas de saúde mental começam por
alterações dos hormônios da tireoide ou queda notável de testosterona ou estrogênio,
e análise laboratorial deve ser feita” , analisa Alvares.
É fato
que pessoas com ovários e útero passam por flutuações hormonais durante o ciclo
menstrual que podem alterar o humor. Na menopausa, a queda de hormônios pode
levar a sintomas de ansiedade e depressão de moderada a grave em até 40% das
mulheres (segundo dados da North American Menopause Society, 2025). Alvares
explica o impacto do estrogênio no corpo para além da parte física: “o
estrogênio é um hormônio que têm impactos físicos relevantes pois afeta o
desenvolvimento das mamas, o fortalecimento e manutenção dos ossos, o
colesterol e outros pontos importantes. Entretanto, quando falamos de bem estar
emocional, o estrogênio também está relacionado a líbido, ao humor e a
concentração em homens e mulheres”.
Pessoas
trans: hormonização segura também protege a saúde emocional
No processo de afirmação de gênero, uma das possibilidades para as pessoas transgênero é recorrer à hormonização – tratamento que consiste na aplicação de hormônios sexuais alinhados à sua identidade de gênero. Homens trans, caso não tenham nenhuma contraindicação, podem receber doses de testosterona. Mulheres trans, por sua vez, recebem estrogênio. Um levantamento publicado no JAMA Network Open, em 2023, analisou mais de 3.500 pessoas trans e revelou que quem iniciou a hormonização teve 15% menos sintomas moderados a graves de depressão após quatro anos de tratamento.
“A hormonização não é apenas sobre a saúde do corpo. É também sobre a saúde mental, identidade e alívio da disforia. Quando bem conduzida, ela melhora a qualidade de vida e reduz sofrimento psíquico e traz muitos benefícios, mas, como qualquer tratamento, exige acompanhamento médico especializado para garantir que o processo todo seja saudável e consciente para o paciente”, ressalta Leonardo Alvares. Para a população trans, a hormonização é uma forma de lidar com a disforia de gênero, alinhando sua imagem com a do gênero que se identifica.
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