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| Foram coletadas amostras de sangue das voluntárias com o intuito de avaliar os metabólitos presentes Freepik |
Conclusão é de estudo que envolveu 173 gestantes; achados ampliam o
entendimento da doença e podem dar pistas de como ocorre o dano a órgãos como
rins, fígado, pulmões e cérebro
A pré-eclâmpsia – uma
complicação da gravidez caracterizada por hipertensão arterial associada à
presença de proteínas na urina ou a dano em determinados órgãos – é a principal
causa de mortalidade materno-fetal no Brasil e a segunda no mundo. Estudo
brasileiro publicado na revista PLOS ONE mostrou que o padrão de
substâncias presentes no sangue das gestantes acometidas varia de acordo com a
gravidade do quadro. Os achados ampliam o entendimento da doença e podem dar
pistas de como ocorrem as lesões nos rins, pulmões, no fígado e até no cérebro
– abrindo caminho para, no futuro, preveni-las.
Apoiada pela FAPESP, a pesquisa envolveu 173 gestantes, divididas em
quatro categorias: saudáveis, com hipertensão gestacional, pré-eclâmpsia e
pré-eclâmpsia com sinais de gravidade.
Foram coletadas amostras de
sangue das voluntárias com o intuito de avaliar os metabólitos presentes, ou
seja, as substâncias resultantes dos inúmeros processos metabólicos ativos no
organismo.
“Ao investigar o que acontece
no metabolismo dessas mulheres conseguimos não só demonstrar que ele está
alterado, mas também que é possível correlacionar os padrões de alteração com
variáveis clínicas. Isso é importante, pois abre possibilidades para um maior
entendimento da pré-eclâmpsia, sobretudo em relação ao dano causado nos
órgãos”, explica Valeria Cristina Sandrim, professora do Instituto de Biociências de Botucatu da Universidade
Estadual Paulista (IBB-Unesp) e coordenadora da pesquisa. “Como os metabólitos
sinalizam as vias metabólicas que estão ativadas ou desativadas, numa segunda
etapa da pesquisa pretendemos investigar por que as alterações metabólicas
ocorrem e como é possível intervir farmacologicamente.
As amostras foram coletadas no
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo (FMRP-USP) e as análises metabolômicas (do conjunto
de metabólitos no sangue) no campus da Unesp em São José do Rio Preto e na
Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O estudo é o primeiro a utilizar a
técnica denominada espectroscopia por ressonância magnética nuclear de
hidrogênio para identificar metabólitos em amostras de pacientes com
pré-eclâmpsia com sinais de gravidade e hipertensão gestacional. Realizada a
partir de um equipamento multiusuário adquirido pela FAPESP, a técnica
apresenta uma visão geral de todos os compostos presentes no metabolismo de um
indivíduo, sem destruir ou alterar a amostra.
Foram identificados 19
metabólitos, sendo 11 deles destacados por apresentar diferença entre os
grupos. As análises mostraram, por exemplo, um aumento nos níveis de acetato,
N,N-dimetilglicina, glutamina, alanina, valina e creatina no grupo de mulheres
com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade em comparação ao grupo com
hipertensão gestacional e de mulheres saudáveis.
Ao comparar o grupo com pré-eclâmpsia
e pré-eclâmpsia com sinais de gravidade, constatou-se que, quanto maior a
gravidade, mais elevadas eram as concentrações de N,N-dimetilglicina,
glutamina, alanina e valina. Além disso, níveis elevados de metabólitos
específicos, incluindo N,N-dimetilglicina, alanina e valina, foram associados
ao aumento da pressão arterial, piores resultados obstétricos e pior função de
órgãos como rins e fígado.
A análise metabolômica de
mulheres com pré-eclâmpsia com sinais de gravidade indicou ainda distúrbios aumentados
no metabolismo do nitrogênio, metionina e ciclos de ureia.
“O distúrbio metabólico
exacerbado pode ter revelado comprometimento renal e disfunção hepática,
evidenciados por níveis elevados de creatina e alanina. Essas descobertas não
apenas contribuem com novos insights como também fornecem uma
compreensão mais abrangente dos mecanismos fisiopatológicos em jogo em casos de
pré-eclâmpsia com sinais de gravidade”, diz Sandrim à Agência FAPESP.
Ciência
translacional
A partir dos resultados, o
grupo pretende focar em duas linhas de pesquisa. A primeira será verificar, em
cultura celular, quais são as vias metabólicas alteradas em cada característica
clínica e identificar possíveis fármacos capazes de reverter o quadro. Já a
segunda, que será conduzida com apoio da FAPESP durante o doutorado de Julyane Kaihara,
investigará biomarcadores para predizer o risco de pré-eclâmpsia.
“Em outro grupo de voluntárias,
coletamos o soro sanguíneo antes de as gestantes serem diagnosticadas com
pré-eclâmpsia a fim de identificar previamente possíveis alterações
metabólicas. Isso é importante porque sabemos que nem todas as cidades têm uma
maternidade especializada em controle da hipertensão. Portanto, ao identificar
metabólitos marcadores que possam predizer quem vai ter pré-eclâmpsia, é
possível monitorar essas gestantes de risco de modo mais efetivo”, afirma
Sandrim.
O artigo Plasma
metabolic profile reveals signatures of maternal health during gestational
hypertension and preeclampsia without and with severe features pode
ser lido em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0314053.
Maria Fernanda Ziegler
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/padrao-de-compostos-no-sangue-pode-indicar-gravidade-de-quadros-de-hipertensao-gestacional-e-pre-eclampsia/54594

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