A publicidade de
apostas esportivas no Brasil se tornou onipresente: está nas placas de estádio,
nas camisas dos times, nos podcasts mais ouvidos e em praticamente todos os
breaks comerciais das transmissões esportivas. Mas o que começou como uma nova
fronteira de monetização para clubes e veículos, rapidamente se tornou um
território sem balizas claras. O setor cresceu mais rápido que sua regulação —
e isso, do ponto de vista da comunicação, é sempre um risco.
Não é a publicidade
de apostas que está em xeque. Ela é legítima, movimenta a economia criativa e
já começa a demandar especialistas. O ponto de tensão está na ausência de um
marco que estabeleça parâmetros éticos e técnicos — algo que em outros
segmentos da comunicação já existe há anos, como é o caso da publicidade
voltada ao público infantil. Lá, há diretrizes, jurisprudência e fiscalização.
Aqui, ainda impera o improviso.
Enquanto a
regulamentação segue em debate no Senado, com propostas que buscam limitar o apelo
dessas campanhas — como evitar que associam apostas a desempenho esportivo ou
que sejam direcionadas ao público jovem —, assistimos ao crescimento de uma
narrativa publicitária que reduz o risco a mero entretenimento. Há uma estética
envolvente, um discurso de agilidade financeira, e uma romantização da sorte
como solução. Tudo isso embalado por narrativas afetivas e jargões familiares.
A comunicação,
nesse sentido, não é apenas coadjuvante: ela é a engrenagem central. E quanto
mais ela simula informalidade, mais profissional ela é. A escolha por uma
linguagem que parece “popular” ou “descolada” esconde uma construção técnica,
voltada a induzir comportamento e gerar engajamento. É aqui que a discussão
sobre regulação se torna urgente. Quando a publicidade opera com códigos que
sugerem segurança, mas o produto em questão envolve risco real e impacto
financeiro, estamos em território ético delicado.
A defesa pela regulação não é moralista nem punitivista. É uma defesa da isonomia. As campanhas de apostas não podem operar sob regras distintas das que valem para o setor farmacêutico, para alimentos ou mesmo para produtos financeiros. Em todos esses casos, há exigência de transparência, de alertas, de responsabilidade. O que se pleiteia é o mesmo: que as marcas possam atuar, sim, mas jogando limpo.
Se o Brasil quer seguir no caminho da
profissionalização da indústria de apostas, deve ao mesmo tempo,
profissionalizar a maneira como essa indústria se comunica. A propaganda pode —
e deve — continuar. Mas sob regras claras, previsíveis e equilibradas. Porque
quando o jogo é público, a comunicação também deve ser transparente.
Adriano Santos - sócio da Tamer Comunicação
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