Se você se comportar ganhará um chocolate”. Que
nunca ouviu um adulto dizer isso a uma criança? A frase tão comum pode trazer
problemas graves de compulsão alimentar no futuro. Para a psicóloga Valeska
Bassan, especialista em transtornos alimentares, se, desde cedo, a alimentação
é utilizada como forma de acalmar ou recompensar, isso pode reforçar o
comportamento compulsivo. “Uma criança que, diante de frustrações ou estresse,
é constantemente presenteada com doces ou guloseimas, pode começar a ver a
comida como uma solução para lidar com as emoções”, alerta.
É na infância que começa a formação de hábitos que
podem acompanhar uma pessoa por toda a vida. É também nessa fase que alguns
comportamentos, como as compulsões alimentares, podem se manifestar de forma
sutil, mas com impactos profundos no bem-estar físico e emocional da criança
que se entende para a vida adulta. Para a psicóloga, reconhecer esses sinais
precocemente é essencial para ajudar a prevenir consequências futuras mais
graves na adolescência e na vida adulta.
“Uma criança que come de forma exagerada, mesmo
quando não está com fome e que ainda apresenta episódios são seguidos de
sentimentos como culpa, tristeza ou vergonha já pode ser um alerta de compulsão
marcada pela perda de controle na hora de comer”, alerta.
A falta de rotina alimentar também é um fator que
pode levar a episódios de compulsão. “A ausência de horários regulares para
refeições e lanches pode gerar ansiedade em relação à próxima refeição, levando
a uma ingestão exagerada de alimentos quando, finalmente, têm acesso à comida”,
explica Valeska.
Não é à toa que o consumo de doces é indicado para
crianças maiores de 2 anos. “Os alimentos ricos em açúcar, gordura e sódio
também pode predispor a criança a comer compulsivamente pois ativam o sistema
de recompensa do cérebro, levando a uma busca constante por prazer imediato,
tornando difícil para a criança parar de comer quando deveria”.
Valeska afirma ainda que estar atento aos sinais, manter um ambiente familiar acolhedor e buscar orientação de profissionais capacitados são passos importantes para garantir que a criança cresça com uma visão saudável sobre si mesma e sua alimentação. “Os hábitos que são cultivados na infância têm grande influência sobre o futuro das crianças, tanto no aspecto físico, quanto no emocional”, finaliza a especialista.
Valeska Bassan - Psicóloga aprimorada em Transtornos Alimentares pelo Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas de São Paulo (Ambulim/IPQ/ USP) e pós graduanda em Medicina e Estilo de Vida e coaching de saúde no Hospital Israelita Albert Einstein. Coordenou o Curso de Aprimoramento em Transtornos Alimentares Programa de Transtornos Alimentares do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas de São Paulo (Ambulim/IPQ/ USP) e a equipe de psicólogos do Grupo de Estudos do Comer compulsivo em mulheres portadoras de obesidade (GRECCO) também do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clinicas de São Paulo (Ambulim/IPQ/ USP).Professora de pós graduação das disciplinas de Transtornos Alimentares Pós Cirurgia Bariátrica e dos Aspectos Psicológicos dos Transtornos Alimentares na Faculdade iGPs.
@psicologavaleskabassan
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