Rachel Lotan,
formadora de educadores da Universidade de Stanford, propaga metodologia em
instituições de ensino brasileiras
A dicotomia entre equidade e excelência permeia o
debate sobre política educacional e trabalho docente. Ao desafiar a turma,
alguns alunos podem não acompanhar a classe. Por outro lado, ao nivelar por
baixo, alguns não serão desafiados. Dessa forma, o professor se vê diante da
tarefa de ajudar aqueles com mais dificuldades ou apostar nos que sentam nas
carteiras da frente. Para Rachel Lotan, autora do livro "Planejando o
trabalho em grupo" e professora da Universidade de Stanford, essa
dicotomia não precisa e não deve existir.
Segundo Rachel, que foi diretora do Stanford
Teacher Education Program (STEP) por quase 20 anos, o trabalho em grupo é a
arma mais eficaz para a obtenção de resultados ao mesmo tempo equitativos e
rigorosos. "Para isso, é preciso deixar de lado nossa percepção sobre
trabalho em grupo como algo artesanal ou intuitivo em que uns poucos fazem
tudo, seja porque alguns não conseguem ter voz, seja porque há quem se
aproveite dos mais esforçados", explica.
A educadora veio ao Brasil para um módulo de
imersão do Programa de Especialização Docente (PED), que reuniu professores de
nove instituições de ensino de todo o país na Universidade Positivo, em
Curitiba (PR). No programa, os participantes descobriram que é preciso
construir uma nova prática que possibilite um processo de aprendizagem
realmente significativo e produtivo para todos os alunos. "Um trabalho em
grupo só vai promover a equidade se todos os estudantes participarem
ativamente", afirma Marilda de Souza, assessora do PED Brasil no Colégio
Positivo.
Na metodologia difundida por Rachel, pautada no
Ensino para Equidade, cada integrante do grupo recebe uma função e, juntos,
devem buscar soluções para problemas complexos - cada um no seu tempo. "O
grupo só acaba quando todos acabam", reforça Marilda. "Em um trabalho
em grupo, devemos delegar aos alunos autoridade e, ao mesmo tempo, torná-los
responsáveis para desempenharem determinadas funções dentro da equipe,
elaborando atividades abertas, em que um dos objetivos é desenvolver o
sentimento de pertencimento ao grupo”, completa.
Múltiplos Benefícios
De acordo com a gerente geral do Centro de Inovação
Pedagógica do Colégio Positivo (CIPP), Maria Fernanda Suss, o trabalho em grupo
é uma técnica eficaz para o aprendizado conceitual e para a resolução criativa
de problemas. "Com a prática, o aluno melhora o relacionamento
interpessoal, a autoconfiança e o respeito à diversidade - habilidades
fundamentais que servem para toda a vida", afirma.
Ainda segundo ela, com autonomia, os estudantes
tornam-se mais envolvidos e engajados no processo de aprendizagem, fazendo com
que o conteúdo realmente tenha significado. "Ao discutir e pesquisar o
tema com os colegas, eles falam a mesma linguagem, experimentam a mesma fase de
vida e, por isso, trazem o conhecimento que faça sentido para aquele momento em
que vivem. É muito diferente de quando o professor expõe um assunto do qual tem
completo domínio, mas sem conexão com a realidade do aluno", ressalta
Maria Fernanda.
Ela explica também que, ao permitir aos alunos que
tomem decisões por si mesmos, em vez de dizer a eles exatamente o que fazer,
eles aprendem a ser cidadãos ativos na coletividade e protagonistas da sua
história. "Estamos falando de um contraponto para os métodos em que o
professor faz toda a condução e diz o que os alunos devem fazer, limitando-os a
receptores de conteúdos", reforça.
Impulso
para o Ensino Bilíngue
A metodologia proposta por
Rachel é um grande diferencial também para o Ensino Bilíngue, de acordo com
Mariângela Hoog Cunha, diretora do Colégio Positivo Master. "Em uma sala
de aula comum, é normal que o professor fale e os estudantes prestem atenção.
Já com as atividades em grupo, o debate entre os alunos e a apresentação dos
resultados para a turma promovem, de forma muito mais rápida e eficaz, o
desenvolvimento de proficiência na segunda língua", explica.
Cada um com seu papel
"Eu achava que trabalho em grupo era colocar
alunos juntos e dar uma atividade. E não é isso”, conta a professora Letícia
Castro, do Colégio Positivo Internacional. "No PED, a gente aprende que
tem que organizar o trabalho em grupo. Na primeira vez, achei que daria muito
trabalho e perderia muito tempo dividindo a turma e delegando funções. Depois,
percebi que isso se torna automático - é algo que acaba facilitando demais o
aprendizado, a motivação e a disciplina", relata.
Em cada grupo, os alunos têm papéis diferentes. O
Facilitador é responsável por procurar respostas para as perguntas que surgirem
dentro do grupo (o professor é consultado apenas se ninguém na equipe puder
ajudar); o Harmonizador facilita a resolução de conflitos interpessoais, mantém
a disciplina e a unidade da equipe; o Verificador certifica-se de que todo
mundo tenha completado seu relatório individual; o Monitor de Recursos é
responsável por obter materiais e recursos e guardá-los adequadamente; e o
Repórter organiza o relatório do grupo e faz a apresentação para a turma.
"Minhas crianças têm de sete a oito anos e, mesmo assim, elas conseguem
desempenhar todos os papéis. É questão de hábito, eles vão se
acostumando", garante Letícia.
Para ela, essa divisão de funções garante mais
tempo para explicações e mais atenção para cada grupo. "Quando um
professor tem cinco facilitadores que vão fazer as perguntas do grupo é muito
mais tranquilo que 23 crianças levantando e indo conversar com ele. Com essa
organização, eles têm muito mais chance de conversar com a professora",
ressalta.
Formação
Desde 2016, quando o PED foi implantado no Brasil,
o Colégio Positivo promove a formação de seus professores na especialização.
"São cerca de 70 profissionais formados todos os anos e, atualmente, temos
23 professores do Colégio Positivo em formação continuada, sendo que nove deles
já estão habilitados a preparar outros colegas para dar andamento nesta
missão", afirma o diretor-geral do Colégio Positivo, Celso Hartmann.
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