“Não é o
mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se adapta às
mudanças”! A famosa frase atribuída a Charles Darwin, que na verdade nunca foi
dita por ele, mas por Leon C. Megginson, é uma importante premissa sobre o
processo de evolução, sobretudo, do Mundo do Trabalho. Desde a primeira
Revolução Industrial, na Inglaterra, no final do século XVIII, passando pela
consolidação da Industrialização no Brasil, durante o início da era Vargas, na
década de 1930, as empresas, classes trabalhadoras e pessoas que melhor se
adaptaram aos mais variados cenários políticos e econômicos, não apenas
sobreviveram, como contribuíram para a formação do atual modelo de
relacionamento entre organizações corporativas e colaboradores.
Neste sentido, o desenvolvimento de mecanismos que
melhoram a produção, reduz custos e, em muitos casos, minimizam o esforço
humano, há mais de um século gera debates sobre os reais efeitos oriundos do
avanço tecnológico. E, na longa esteira do progresso, naturalmente, surgiram
pontos positivos e negativos que indicavam dúvidas sobre a efetividade dos
novos recursos apresentados de tempos em tempos. Inserido no contexto
evolutivo, o ser humano, a cada geração sente a necessidade de experimentar
novos desafios, o que provoca realinhamento de propósitos e, consequentemente,
cria novas expectativas.
Ao final das contas, todo esse aperfeiçoamento
envolvendo pessoas e tecnologia afeta diretamente no conceito de subordinação
do empregado em relação ao empregador que, por sua vez, passou a exigir mais
dos novos trabalhadores. Em uma época dominada pelas conexões virtuais e que
dispõe de dispositivos que facilitam a execução de diversas atividades
simultaneamente, o contratante tem buscado profissionais capazes de apresentar
versatilidade e entrega de resultados que vão além dos serviços contratados. Em
contrapartida, a nova geração de trabalhadores aspira condições que sugerem
desejos distintos dos personagens de décadas passadas que passaram por graves
crises inflacionárias.
É fato: o trabalhador atual que possui mais
informação e qualificação, diferentemente de outros períodos, não está disposto
a permanecer por anos no mesmo emprego, sonhando com o famigerado dia da
aposentadoria. Diante de uma realidade econômica que apresenta linhas de
crédito que facilitam ampliação do conhecimento, por meio dos estudos, dentro
ou fora do país, o perfil do empregado contemporâneo é livre, aventureiro e com
uma forte inclinação ao vínculo empregatício, ou prestação de serviços, com
organizações que apresentem características que se assemelhem ao seu estilo de
vida, aos seus propósitos e aos seus ideais.
E o impacto dessa transformação comportamental
reflete nas Negociações Coletivas, o momento em que representantes dos
trabalhadores, de um lado, e do empregador, de outro, se reúnem para alinhar a
autorregulamentação das condições de trabalho. Figura importante para
determinação da nova conjuntura, o trabalhador, cada vez mais atualizado e
conectado aos seus assuntos de interesse, tem manifestado pensamentos
diferentes das ideias ainda hoje defendidas por inúmeros sindicatos e centrais
sindicais. O resultado desse conflito de interesses tem sido o aumento
significativo do afastamento dos trabalhadores de seus sindicatos.
Em meio à transição de ideais e estabelecimento de
novos posicionamentos, a Reforma Trabalhista surge como possibilidade real de
se poder praticar a Negociação Coletiva, com viés mais atual, e em harmonia com
os anseios da nova classe de trabalhadores. A prevalência do negociado sobre o
legislado significa um enorme avanço, pois possibilita que as partes possam
adequar necessidades básicas com os propósitos almejados por esta nova geração.
Além disso, a legislação permite a modulação de certos direitos, o que torna a
relação trabalhista ainda mais dinâmica e reforça a importância de se observar
quais são as reais necessidades destes novos colaboradores.
Por fim, vivemos um período do irrefreável processo
evolutivo em que o trabalhador não se limita somente em reposição salarial, o
que parece não ter sido devidamente compreendido pelos sindicatos, que
limitados em somente “fazer política”, perderam oportunidade de aproximação com
os trabalhadores. Os novos tempos apresentam uma classe cada vez mais engajada
em causas sociais e preocupada com os impactos das organizações junto à
sociedade. E nessa nova fase, ouvir, compreender e apresentar soluções que
atendam às necessidades coletivas será determinante para o futuro das
organizações.
Dr. Reinaldo Garcia do Nascimento, - especialista
em Relações Sindicais e de Trabalho, sócio da Guirão Advogados, responsável
pela área trabalhista (individual e coletivo), negociador sindical e
palestrante.
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