terça-feira, 24 de abril de 2018

Mitos e desinformação permeiam cuidados com a saúde infantil nas famílias brasileiras

Pesquisa do IBOPE aponta crenças equivocadas sobre a prevenção das doenças infecciosas mais comuns nos bebês


Quando o assunto é saúde infantil e proteção contra as doenças infecciosas mais frequentes na infância, falta informação e sobram percepções equivocadas entre os pais dos bebês brasileiros. Essa é a conclusão principal da pesquisa Doenças infectocontagiosas nos 2 primeiros anos de vida: mitos e temores das famílias brasileiras, um novo levantamento realizado pelo IBOPE Conecta, a pedido da Pfizer, a partir de 1.000 entrevistas on-line com mães e pais de todas as regiões do País. E, justamente como resposta a esse cenário de desinformação, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) acaba de lançar, com apoio da Pfizer, a campanha #MAISQUEUMPALPITE.

Os dados da pesquisa, que ouviu pais das classes A, B e C, apontam que os mitos são populares em todos os estratos sociais.  Chuva, vento e sereno são os elementos mais lembrados, por exemplo, quando os entrevistadores perguntam aos pais sobre os fatores que mais expõem as crianças pequenas às doenças infectocontagiosas. Essa relação é apontada, equivocadamente, por 63% da amostra.  E a porcentagem sobe para 70% entre os entrevistados da classe A, chegando a 67% na classe C. Por outro lado, os fatores que de fato mais favorecem a transmissão dessas doenças, como a permanência em locais fechados e o convívio com irmãos mais velhos, são menos citados. 

Se os fatores de risco para as doenças infectocontagiosas confundem os pais, na hora de adotar medidas preventivas contra essas enfermidades as dúvidas aumentam ainda mais. Embora 94% deles classifiquem a vacinação como uma forma de proteção muito importante, persistem mitos sobre as doses de reforço, a segurança das vacinas e a própria necessidade da imunização. Pelo menos 30% dos pais estão convencidos, por exemplo, de que higiene e cuidados pessoais seriam o suficiente para prevenir essas doenças, o que não é verdade.        
O conhecido mito de que as vacinas costumam causar a doença que deveriam prevenir também aparece no levantamento. Pelo menos 1 a cada 5 pais entrevistados acredita que essa relação é verdadeira, proporção que sobe para mais de 1 a cada três quando se analisa apenas a classe A. Além disso, a porcentagem daqueles que dizem não saber se essa relação é ou não verdadeira também se mostra alta, chegando a 26% na média do total de entrevistados, como demonstra o quadro abaixo:




O comportamento de subestimar a possível gravidade de doenças infecciosas comuns na infância é outro ponto que chama a atenção entre os resultados da pesquisa. No recorte por estrato social, 21% dos pais da classe A dizem concordar, totalmente ou parcialmente, com a ideia de que essas enfermidades seriam inofensivas, de modo que as crianças poderiam superá-las facilmente. Quando se considera o total da amostra, porém, a porcentagem relacionada a essa falsa percepção cai para 15%.       

      
SEGURANÇA – Ainda em relação à imunização, as incertezas dos pais a respeito da segurança das vacinas também se destacam. Mais de 20% dos entrevistados demonstram ter dúvidas sobre o assunto, de modo que 10% deles discordam, totalmente ou parcialmente, da ideia de que as vacinas sejam de fato seguras. Além disso, 11% desses pais dizem que não conseguem opinar sobre a segurança desses produtos. Como contraponto, o grupo de entrevistados da classe A é o único em que a maioria dos participantes diz concordar totalmente com a afirmação de que as vacinas são realmente seguras.

Presidente do Departamento de Imunizações da SBP, o pediatra Renato Kfouri lembra que a perpetuação de muitos dos mitos sobre vacinação que aparecem na pesquisa podem fortalecer cenários preocupantes, como os movimentos antivacinação. “Hoje, com a força das redes sociais, qualquer boato se espalha rapidamente. E, no campo da imunização, esse fenômeno se destaca ainda mais. É uma área que acaba sendo bastante impactada nesses tempos de fake news”, diz o médico. Vale lembrar que, em 2017, a maioria das carteirinhas de vacinação das crianças e adolescentes do País estava desatualizada, o que levou o Ministério da Saúde a promover uma campanha nacional de multivacinação.


DIFERENÇAS ENTRE VACINAS – Entre as percepções equivocadas a respeito da imunização infantil, a falta de informação sobre as diferenças entre algumas das vacinas oferecidas pela rede pública e as opções das clínicas privadas também se destaca na pesquisa. A maioria dos entrevistados na classe A (75%) e da classe B (73%) acredita que as alternativas oferecidas por postos e clínicas particulares são iguais ou não se sentem confortáveis para opinar sobre esse assunto.   
        
“O Programa Nacional de Imunizações (PNI), considerado um dos melhores do mundo, oferece gratuitamente as vacinas prioritárias em termos de saúde pública. Elas evitam as doenças que mais acometem a população, nas faixas etárias com maior risco de adoecer e de apresentar complicações. Já o foco dos calendários das sociedades médicas, que são seguidos pelos serviços particulares, é a proteção individual, de modo que estão contempladas todas as vacinas que podem beneficiar aquele paciente. Há, portanto, calendários diferentes, mas as duas estratégias são importantes”, afirma Kfouri.      
     
As diferenças entre as vacinas das duas redes estão relacionadas, sobretudo, à cobertura que elas proporcionam.  Esse é o caso da imunização contra as doenças pneumocócicas: enquanto a vacina preconizada pelos serviços particulares de vacinação protege contra 13 sorotipos da bactéria pneumococo, a do posto de saúde contempla 10 sorotipos. Essa variação de cobertura também ocorre na vacinação contra a meningite bacteriana causada pelo meningococo. A rede pública oferece o imunizante para o sorogrupo C, o mais comum no País, mas nas clínicas particulares é possível vacinar a criança, de uma só vez, contra quatro sorogrupos de meningococo (ACWY). Também há uma vacina específica para o sorogrupo B.    

Apesar dessas diferenças, a maioria dos participantes da pesquisa, ou 51% da amostra, está convencida de que os postos oferecem todos os imunizantes indicados para as crianças pelas sociedades médicas. Essa percepção é menos acentuada entre os pais mais velhos, a partir dos 40 anos, e também menos evidente na classe A, na qual a porcentagem cai para 40%. Já entre os pais da classe C, esse número chega a 54%.  
         
O levantamento também evidencia que as famílias têm dúvidas importantes sobre o esquema vacinal das crianças. Por exemplo: 68% dos pais desconhecem a informação de que o atraso na aplicação da segunda ou da terceira dose pode interferir no resultado da imunização – ou preferem não opinar sobre o assunto. Outros 40% desconhecem o impacto do adiantamento dessas mesmas doses sobre a eficácia da imunização.       
    
“Os dados da pesquisa indicam que ainda existe um amplo trabalho de conscientização a ser feito com esses pais e mães, já que vários mitos persistem nessas famílias. Por isso, disseminar informações confiáveis é imprescindível”, afirma o diretor médico da Pfizer, Eurico Correia.


DOENÇAS TEMIDAS – Em meio a tantas dúvidas sobre a imunização dos filhos, em um ponto os entrevistados concordam: meningite é a doença mais temida pelas famílias brasileiras, tanto na média geral dos participantes quanto em cada um dos subgrupos analisados pela pesquisa, considerando recortes por faixa etária, classe social e regiões. Em segundo lugar aparece a pneumonia, mencionada por 59% da amostra, como ilustra o quadro abaixo. E essa porcentagem sobe para 68% quando se analisa apenas os pais da classe A. 




Ainda que os pais entrevistados demonstrem uma preocupação forte em relação à pneumonia, o levantamento aponta uma contradição nessa temática: questionados sobre as doenças que poderiam ser prevenidas por meio das vacinas, apenas 33% dos participantes citaram a pneumonia. Hepatite B e tétano foram as enfermidades mais lembradas. Meningite também se destaca, em quinto lugar, mencionada por 80% desses pais.      
     
O temor dos pais em relação à meningite tem fundamento. A doença é potencialmente grave, sobretudo os quadros bacterianos, e a criança infectada pode chegar ao óbito rapidamente ou apresentar sequelas graves.  Apesar disso, a pesquisa aponta que as famílias estão pouco atentas a sintomas sugestivos de meningite, como a rigidez na nuca. Essa condição é mencionada por apenas 33% dos entrevistados quando questionados sobre sintomas que consideram mais assustadores nos filhos.




No recorte por subgrupos, a preocupação com a rigidez na nuca se acentua na classe A e se enfraquece entre os pais mais jovens. Há, porém, outros sintomas importantes que podem sugerir um quadro de meningite, como manchas vermelhas na pele e vômitos em jato. Nesses casos, é fundamental contatar um pediatra de confiança o quanto antes. “Este 24 de abril, quando celebramos o Dia Mundial de combate à Meningite, é uma oportunidade importante de conscientizar a população sobre essa doença tão impactante, mas que pode ser prevenida”, complementa Correia.

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