terça-feira, 24 de abril de 2018

“É preciso abraçar a causa, não para sair bem na foto ou porque rende bons resultados para as empresas, mas porque isso é o justo, é o que deve ser feito”



Debate promovido pela WILL reuniu CEOs para debater a importância da diversidade de gênero no ambiente corporativo


A WILL (Women in Leadership in Latin America) – organização sem fins lucrativos que tem como objetivo fomentar a liderança feminina no mercado de trabalho - reuniu hoje, em São Paulo, 70 executivos durante a primeira edição, "Mulheres na Liderança: Práticas e Avanços". O debate foi moderado Cristiane Amaral, sócia-líder de Talento da EY, e teve a participação, Silvia Fazio, da presidente da WILL e sócia do escritório de advocacia Norton Fullbright,  André Araújo, CEO da Shell, Claudia Politanski, Vice Presidente das áreas Juridico, Pessoas, Marketing e Relações Institucionais Itaú, e Theo Von Der Loo, CEO da Bayer. 

Além de trazerem à plateia - composta por executivos de empresas dos mais variados setores - as experiências vividas em suas empresas no que se refere à pratica da diversidade de gêneros, os executivos, em alguns momentos, também relataram as suas vivências pessoais e, embora, por vezes, tenham salientando pontos de vistas divergentes, todos eles foram unânimes em afirmar que ainda há muito para ser feito neste campo. Até mesmo o CEO da Shell, empresa que liderou o ranking da pesquisa sobre liderança feminina (no setor químico e petroquímico) realizada no final de 2017 pela WILL, disse que, embora se sentisse muito feliz pela posição de liderança, sabia que muita coisa ainda precisa mudar de modo a promover a igualdade entre os gêneros.

Presente no Brasil há 105 anos, segundo André, a Shell iniciou este movimento em prol da diversidade cerca de 20 anos atrás. O CEO informou que, apesar de todos os esforços, ainda há poucas mulheres em posições de liderança na empresa, mas garantiu que estão lutando para mudar essa realidade. E salientou a importância de encontros como esse para promover o debate. “Sou CEO da empresa há cerca de seis anos e uma das minhas missões é promover a diversidade de gêneros”, adiantou.

Já o CEO da Bayer e membro do board da WILL, Theo Van de Loo, lembrou que são os momentos de crise que requerem mais atenção, pois quando precisam ser feitos cortes, estes acabam sendo implementados nas ações que seriam dirigidas aos programas de inclusão e diversidade, que acabam ficando relegados a um segundo plano. “Neste ritmo, os resultados vão demorar muito a aparecer”, desabafa. Segundo Theo, é igualmente importante que as empresas participem de rankings e pesquisas como o da WILL, pois isso “ajuda a convencer àqueles que ainda têm dúvidas sobre a importância do tema”. “Não se trata de aderirmos a determinadas iniciativas, pesquisas ou grupos de discussão apenas para sairmos bem na foto, quando são publicados os resultados, mas, principalmente, por entendermos que a questão da diversidade é uma causa justa”, finalizou.

O encontro possibilitou também a troca de vivências entre os homens e as mulheres presentes. Cláudia Politanski, vice-presidente executiva das áreas Jurídica e de Ouvidoria do Itaú, citou uma experiência vivida, quando a sua promoção chegou junto de sua gravidez, no início dos anos 90: “Depois de um comentário do meu chefe, naquela ocasião, de que eu era a primeira mulher ali a ter direito à licença maternidade, que acabara de ser estendida para quatro meses e que ele queria saber como se daria ‘aquilo’, fiz todos os esforços para que a minha gravidez não fosse notada, de modo a não dar o que falar. Mas isso não é justo! A gravidez é um momento especial para a mulher e não podemos permitir que se menospreze isso”, defendeu.

Na mesma linha, a advogada Silvia Fazio, presidente da WILL e sócia do escritório de advocacia Norton Fullbright, disse ter vivido experiência semelhante e que isso interferiu até na forma como ela se vestia, durante a gestação: ”fazia de tudo para disfarçar, usava roupas que não deixassem parecer que eu estava grávida”, informou.

“Os líderes precisam entender que esse comportamento é absurdo, afinal, se as mulheres não tiverem filhos, não nascerão as crianças, que serão futuros consumidores dos produtos e serviços que essas empresas vendem”, provocou o CEO da Bayer, para quem, entre outras vantagens, um ambiente em que prevalece a diversidade é também mais alegre. Embora apenas 5% dos cargos de alto escalão na indústria farmacêutica sejam, ainda, ocupados por homens, a Bayer tem em seus quadros 36% de mulheres, no cômputo geral, e apenas 16% em cargos de alta liderança, mas ainda não registra nenhum caso nos cargos de vice-presidentes.

Todos os executivos que participaram do debate foram enfáticos ao frisar a necessidade de canais de denúncias que sejam realmente confiáveis e que permitam que os casos de assédio ou discriminações de quaisquer tipos sejam registrados, para que ações possam ser implementadas no sentido de coibir práticas inaceitáveis. Outro ponto em comum entre eles é a necessidade de que o tema seja exaustivamente discutido, inclusive entre os homens. “Por conta disso, realizamos eventos em que reunimos alguns dos executivos mais bem sucedidos dos mais variados setores para que discutam a questão da necessidade de políticas que visem minimizar ou extinguir as políticas e os pensamentos ultrapassados que relegam a mulher a um segundo plano, como se fosse mercadoria de segunda. Hoje, já há pesquisas que mostram que a diversidade e a igualdade de gêneros geram lucros para as empresas”, explica a presidente da WILL. “Se ficarmos de braços cruzados, não iremos a lugar algum. Lembrem-se de que os senhores também têm filhas e que elas poderão ser submetidas a esse tratamento discriminatório e injusto”, conclui.



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