terça-feira, 30 de agosto de 2016

Excluídos de planos de saúde rejeitam atendimento restrito, aponta pesquisa da PROTESTE



Escassez de oferta de plano individual não foi sentida porque consumidor contrata coletivo sem saber


Ao entrevistar os excluídos da saúde privada (aposentados e demitidos), em uma pesquisa qualitativa, a PROTESTE Associação de Consumidores constatou que apesar de acharem importante ter um convênio privado, só pretendem contratar futuramente ao melhorarem as condições financeiras, se a operadora tiver uma boa rede de médicos e hospitais, bom atendimento, agilidade para autorização de procedimentos e ampla cobertura. Isto mostra que planos "populares" com atendimento restrito, como estuda o Ministério da Saúde, não interessa aos usuários. Temem não ter cobertura e ter de recorrer ao Sistema Único de Saúde (SUS).

Os demitidos mais jovens têm expectativa de ter um novo plano ao conseguir recolocação no mercado de trabalho e obter o benefício por meio da empresa onde vierem a trabalhar. Já os aposentados relatam que os preços elevados para sua faixa etária tornam mais difícil voltar a ter um plano.

Na pesquisa qualitativa, os aposentados contaram que têm driblado a falta de plano com atitudes de prevenção, mantendo alimentação balanceada, exercícios físicos e recorrido a check-up esporadicamente. Os medicamentos têm sido obtidos de forma gratuita em programas nas farmácias populares, ou com preço menor recorrendo aos genéricos. Para atendimento médico, relatam que têm recorrido às Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e clínicas da família, hospitais públicos e esporadicamente, consultas em médicos particulares.

O que também pode ser constatado na pesquisa quantitativa, já que 86% dos entrevistados que alegaram não ter plano na época da entrevista, recorrem ao SUS quando necessitam de atendimento médico apesar de considerar o sistema deficitário e mostrar insatisfação  com  a demora e super lotação.

No XIV Seminário Internacional PROTESTE: Impactos da Crise na Saúde e Reflexos para o Consumidor, nesta terça-feira (30), em São Paulo, a PROTESTE divulgou  duas pesquisas, uma quantitativa e outra qualitativa. O objetivo foi verificar se há dificuldade na contratação de planos individuais e se o consumidor tem essa percepção.

Consumidor não sabe a diferença entre as modalidades

Foram realizadas duas pesquisas quantitativas, uma com 199 entrevistados que alegaram ter plano de saúde e outra com 331 entrevistados que disseram não ter plano, na semana de 08 a 29 de julho. A conclusão foi que mais de 70% dos consumidores com plano de saúde não sabem as diferenças entre plano coletivo e individual, o que acaba distorcendo a visão do momento atual de redução na oferta de planos individuais. Eles confundem o plano coletivo com o familiar.

Já a pesquisa qualitativa foi feita com dois grupos de 9 pessoas cada, no Rio de Janeiro, com pessoas sem planos de saúde. Um grupo de demitidos e outro de aposentados. Eles contaram como têm feito para driblar a falta do plano de saúde por terem perdido o emprego, ou por não conseguir arcar com os custos para manter o benefício.

Há uma tendência dos consumidores contratarem planos coletivos sem conhecimento prévio dessa modalidade. As operadoras estão desrespeitando a legislação que obriga a comprovar a legitimidade do interessado num plano coletivo antes de firmar o contrato.

Apesar de os testes comparativos da PROTESTE demonstrarem que reduziu em mais de 40% a oferta de planos individuais para os consumidores, impactando diretamente na abrangência dos planos ofertados com a saída de grandes operadoras do ramo, essa realidade não é percebida pelo consumidor.

Os resultados da pesquisa apontam que 64% dos corretores não explicaram as diferenças entre os contratos, e o consumidor pode acabar contratando o plano coletivo sem saber do risco de ter um reajuste elevado, já que não são regulados pela Agência Nacional de Saúde (ANS) e poder  ser rescindido pela empresa de forma unilateral.

Dos entrevistados sem planos, 49,6% pensam em contratar um novo, mas hoje o preço é um dos fatores proibitivos: desempregado ou aposentadoria insuficiente são alguns dos motivos que pesam nessa decisão. Aposentados e portadores de doenças pré-existentes mostraram uma maior preocupação com as coberturas do plano.

Entre os 331 que alegam não possuir plano, 61%  disseram ter tentado contratar, mas a maioria desses, 84% não conseguiu em função do preço. Metade dos entrevistados disse já ter tido plano anteriormente, sendo que 80 deles por meio da empresa onde trabalhou, e 52, correspondente a 36,9%, por conta própria.

Entre os 80 consumidores que tinham plano coletivo pela empresa, 57% contribuíam com parte da mensalidade e muitos não conseguiram absorver o custo coberto pelo empregador depois que deixaram o trabalho.

Dos entrevistados que tinham plano anteriormente e deixaram de ter, 80,9% precisaram de atendimento médico e desses, 85,8% tiveram que recorrer ao SUS. E outros 31% recorreram a médico particular em consultório médico.

Quando questionados sobre adquirir novamente um plano, 49,6% informaram ter a intenção de recontratar, mas atualmente com o que ganham não têm como pagar, pois o orçamento familiar não comporta.

Entre os 199 entrevistados com plano de saúde, 80,9% informaram não ter tido problema para contratar, sendo que 62,3% informaram ter contrato de plano individual. Como, se há pouca oferta de plano individual? Tudo indica que têm plano coletivo. É uma contradição, pois 63,5% disseram não ter tido explicação do corretor sobre a diferença entre o individual e o coletivo, e 47,7% delas não sabiam a diferença entre essas duas modalidades de planos.

Entre as pessoas que pensaram em cancelar o plano, 40% disseram ser difícil conseguir pagar com o orçamento familiar apertado.


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