É cada vez maior o número de
executivos e profissionais chineses que chegam ao Brasil para trabalhar, ao
lado dos brasileiros, em empresas de transportes,
equipamentos, energia, mineração, eletroeletrônico, telecomunicações.
Eles vêm para fundar ou administrar empresas chinesas, que obedecem à lógica de
internacionalização do país asiático na busca por insumos, como petróleo,
minérios e alimentos, e acesso a mercados.
O aumento nas relações comerciais
entre Brasil e China impõe às empresas a necessidade de incrementar esse
relacionamento não só a partir da compreensão das melhores práticas comerciais,
mas, sobretudo, da avaliação precisa dos efeitos das diferentes culturas na
maneira de fazer negócio.
A maioria dos chineses chega ao
Brasil com experiência internacional, mas isso não significa que não
enfrentarão dificuldades relacionadas às diferenças culturais. Inclusive,
porque muitos brasileiros nunca trabalharam com estrangeiros de qualquer
nacionalidade e, portanto, desconhecem as formas de viver, pensar, se expressar
e comportar de outra cultura.
Mais do que estranhamento, essas
diferenças – que abarcam valores, mitos, tabus, crenças, hábitos e costumes – podem gerar um desconforto na convivência
de times multinacionais, capaz de comprometer o sucesso do negócio. Sendo
assim, para que chineses e brasileiros possam conviver e trabalhar
confortavelmente, é fundamental que ambos tenham conhecimento da cultura do
outro e estejam dispostos a aprender e desenvolver novas competências
interculturais.
Nesse processo, os líderes são
fundamentais. A eles, cabe a tarefa de engajar cada membro da equipe –
considerando as competências habituais e o perfil intercultural de cada um – no
trabalho integrado e harmonioso, no qual impera o respeito mútuo. Ao
profissional, por sua vez, cabe exercitar a capacidade de manter a mente aberta
para as diferenças.
Apesar das diferenças culturais,
muitos pontos em comum são observados entre os times sino-brasileiros, como
mostram os aspectos abaixo, que devem ser analisados por cada um dos gestores
em seu dia a dia:
Percepção de hierarquia –
“Prefiro estruturas hierárquicas ou não-hierárquicas?”
As duas culturas têm alta
percepção de hierarquia. Para elas, as diferenças de status são aceitas como
normas, especialmente por aqueles em posição inferior.
Relacionamento versus
Orientação para tarefa – “O que é mais importante para mim: o
relacionamento ou a tarefa?”
Em negócios, o que é mais
relevante: concentrar-se na tarefa a ser realizada e resolver o problema de
maneira eficiente e imediata? Ou criar e manter um ambiente de trabalho
harmonioso no qual o bom relacionamento entre os indivíduos é valorizado? Brasileiros
e chineses preferem preservar o relacionamento e manter o ambiente agradável.
Este aspecto tem tudo a ver com o próximo item.
Comunicação indireta versus
Comunicação direta – “Como eu me comunico?”
Nenhuma das duas culturas gosta
de se expressar abertamente (“bater de frente”) ou tomar posição clara, do tipo
“doa a quem doer”. Criticar, só se for de maneira sutil e por códigos. Manter a
harmonia e resguardar a face é essencial para brasileiros e chineses.
Perfil Analítico versus
Pragmático – “Como eu resolvo problemas?”
Chineses e brasileiros tendem a
ser pragmáticos para tomar decisões e resolver problemas, diferente do que
acontece naquelas culturas em que a análise do problema e da estratégia tomam
mais energia e tempo.
Reação à Incerteza – “Como
eu reajo a mudanças e risco?”
Com diferença pequena, as duas
culturas têm boa tolerância a riscos e ao desconhecido. São abertas a
novas maneiras de fazer e não percebem as rupturas na rotina como ameaças,
tendendo a tratar mudanças como oportunidades de melhoria.
Perfil Racional versus
Intuitivo – “Minhas decisões são lógicas ou intuitivas?”
As duas culturas são mais
intuitivas, apoiam-se mais em instinto e feeling para tomar decisões.
Isso não significa que ignorem fatos e dados sólidos, mas muitas vezes decidem
com base em critérios que nem sempre parecem lógicos.
Multi-focused versus Single
focused time – “Qual a minha atitude em relação ao uso do tempo?”
Nesta dimensão, as duas culturas
podem ser consideradas multi-focused, ou seja, fazem várias coisas ao
mesmo tempo. Mas os brasileiros são significativamente mais “multitarefas”.
Nessas dimensões, que contam na
hora de fazer negócio, as duas culturas têm muitas semelhanças. Mas há uma
diferença fundamental, que pode estar na origem da ascensão da economia
chinesa: enriquecer e ser o melhor são as grandes motivações dos chineses. Esta
postura, no entender deles, nada tem de condenável. Todo chinês sabe:
“Enriquecer é glorioso” – frase atribuída a Deng Xiao Ping, por ocasião da abertura
de mercado da China e da criação das Zonas de Desenvolvimento Especiais, na
década de 1970. No caso da China, isto está associado à educação, meritocracia,
planejamento, pressa, trabalho duro e governo competente.
Hsieh Ling Wang - é farmacêutica com mestrado
em bioquímica e administradora. É sócia da W!N Education, Business Support. ling@winbusiness.com.br
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