terça-feira, 29 de março de 2016

Duas em cada três pessoas com deficiência no Brasil sofrem preconceito no ambiente de trabalho, revela estudo





Levantamento da consultoria Santo Caos mostra que um dos principais fatores para o problema é a falta de adequação das empresas


Embora 23,9% da população brasileira tenha algum tipo de deficiência e a legislação específica para esse público esteja avançando, a inclusão de profissionais com essas características nas empresas ainda é muito pequena. É o que mostra o estudo “PCD S/A”, realizado pela consultoria de engajamento Santo Caos (www.santocaos.com.br) durante o segundo semestre de 2015, com 461 entrevistados entre pessoas com deficiência, gestores, opinião pública e especialistas do assunto, de 23 estados brasileiros.

O levantamento constatou que 45,3% dos brasileiros sem deficiência estão trabalhando e que 44,7% das PcDs também realizam atividades ocupacionais, mas há uma grande diferença entre os dois grupos no que diz respeito à formalização do emprego: apenas 1,8% das pessoas com deficiência têm registro no Ministério do Trabalho. “Proporcionalmente, a PcD é tão ocupada quanto qualquer outra e cerca de três milhões delas têm ensino superior completo, mas nem todas estão em um emprego registrado. Nossa avaliação é que boa parte das empresas ainda enxerga a pessoa com deficiência como alguém que não agrega valor às suas equipes, e, por mais que tenham que cumprir a cota, recusam-se ou dizem não conseguir fazê-lo pela falta de profissionais capacitados, o que não é real”, explica Guilherme Françolin, sócio-diretor do Santo Caos.   

Nos casos em que a cota é cumprida, ela não é feita de maneira adequada por falta de preparação das equipes para receber, conviver e produzir ao lado de colaboradores com deficiência. Num primeiro momento, 92% dos gestores se dizem prontos para gerenciar um funcionário com deficiência, mas apenas 32% afirmam não ter problemas para lidar com qualquer tipo de deficiência. Para as PcDs, apenas 1 em cada 3 colegas de trabalho estão preparados para lidar com parceiros de trabalho com deficiência.  “Hoje somente 8% das empresas cumprem as cotas e os funcionários com deficiência se sentem ‘encostados’ dentro das organizações, recebendo salários muito baixos, o que ocasiona um turn over médio de 88%”, afirma o consultor.

Todas essas dificuldades de convivência apareceram nas respostas dos participantes quando foram estimulados a falar sobre qual é o maior desafio no engajamento da PcD nas empresas: para os líderes de equipes a acessibilidade é a principal resposta; para os colaboradores com deficiência o relacionamento com gestores e companheiros é a maior dificuldade e, para a opinião pública, o grande desafio é entender as necessidades. “Para mudar o cenário de turn over alto e falta de integração das PcDs com os demais funcionários, as empresas devem primeiro trabalhar sua cultura e marca empregadora, adequando seus costumes internos e o comportamento das pessoas de suas equipes antes mesmo da acessibilidade de suas instalações”, orienta Françolin.

Cotas
A pesquisa verificou ainda que a maioria dos pesquisados (56%) considera justa a existência de uma cota para pessoas com deficiência, pois se há a necessidade de reservar um espaço específico para esses indivíduos nas empresas significa que a sociedade não os está incluindo como deveria. Porém, quando essa inclusão é feita, gera resultados positivos. Isso porque, para os entrevistados, trabalhar com as PcDs altera a percepção que eles tem sobre elas: 24% afirmaram que mudaram a opinião de “coitado e esforçado” para “normal e super-herói” e 60% a mais acreditam que as pessoas com deficiência  podem realizar qualquer função.

A Lei de Cotas foi criada em 24 de julho de 1991 e teve a fiscalização de seu cumprimento iniciada somente em 2001. Ela estabelece que empresas com 100 ou mais funcionários são obrigadas a preencher de 1% a 5% dos seus postos de trabalho com colaboradores com deficiência.



Sobre a Santo Caos
Formada por três ex-alunos da USP, Daniel Santa Cruz, Guilherme Françolin e Jean Soldatelli, a consultoria de engajamento Santo Caos tem como objetivo auxiliar as instituições a aprimorar  o relacionamento com seus principais públicos, sejam eles internos ou externos. Com a finalidade de melhorar a estratégia de negócios das companhias, a empresa realiza trabalhos além da pesquisa de mercado, auxiliando também no desenvolvimento e implementação do plano de negócios. Desta maneira, transformam a maneira que a companhia se posiciona com consumidores, funcionários, fornecedores e até com a comunidade.

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