Segundo
especialistas, prioridade ao visto H1-B revela estratégia para suprir falta de
mão de obra especializada nos EUA, apesar de medida desagradar base governista
e beneficiar brasileiros que pretendem trabalhar nos EUA
.
Os Estados Unidos estão em fase de reconfiguração
da força de trabalho. Se, de um lado, houve maior saída de imigrantes e queda
nos índices de aprovação de vistos, por outro lado pessoas qualificadas e com
experiência de mercado estão com mais facilidade para entrar em solo americano.
As possibilidades são ainda maiores quando o imigrante possui planejamento e
organização documental, conforme explica Henrique Scliar, especialista em
mobilidade global.
Scliar avalia que o cenário abre oportunidades para
profissionais com trajetória reconhecida, e eles têm encontrado espaço para
avançar em processos de vistos e ingressar em áreas consideradas estratégicas
da economia americana.
“Se você tem experiência comprovada, boa formação e
atua em uma área estratégica, as possibilidades de aprovação aumentarão. Além
disso, o governo tem dado prioridade a processos que apresentam planejamento,
documentação bem organizada e objetivos claros. Erros ou informações
incompletas podem resultar em atrasos significativos, negação do pedido e até
mesmo a proibição de entrar nos EUA”, afirma.
O sinal público mais recente dessa orientação
ocorreu durante o evento EUA–Arábia Saudita, em Washington, quando o presidente
Donald Trump mencionou a importância de profissionais estrangeiros para setores
como tecnologia, semicondutores, energia e infraestrutura avançada. Ele afirmou
que “não dá para abrir uma fábrica gigantesca de chips de computador por
bilhões de dólares, como no Arizona, e achar que vai contratar pessoas
desempregadas para operá-la”.
A fala foi interpretada por especialistas como um
indicativo de que o governo busca priorizar categorias de trabalhadores com
formação técnica e experiência consolidada. O tema voltou a aparecer em
entrevista à Fox News, quando Trump defendeu o uso de vistos voltados a
ocupações especializadas. Segundo ele, há setores que não conseguem suprir suas
demandas apenas com a mão de obra local.
Redução da base imigratória
pressiona mercado
O país registrou a primeira retração imigratória
desde os anos 1960, com a saída de 1,5 milhão de imigrantes entre janeiro e
agosto de 2025. Para especialistas, isso pressiona ainda mais a necessidade de
mão de obra qualificada, ampliando as oportunidades para quem possui
experiência comprovada e documentação organizada.
Bruno Lossio, especialista em mobilidade global e
sócio de Scliar, destaca que essa combinação de redução da base imigratória com
incentivo à entrada de profissionais qualificados está relacionada à
necessidade de suprir demandas do mercado.
“O governo está tentando equilibrar proteção do
sistema com atração de talentos. Há uma tentativa clara de privilegiar
estrangeiros capazes de suprir demandas reais do mercado americano”, explica.
Contradição estratégica:
restrição para uns, prioridade para outros
O discurso recente das autoridades americanas
indica uma diferenciação entre perfis imigratórios. Para Hugo Serri, advogado
licenciado nos EUA e especialista em imigração, declarações públicas têm peso
na orientação interna. Segundo ele, “é raro um presidente citar categorias
específicas de visto. Quando isso acontece, o recado é direto para o USCIS
(Serviços de Cidadania e Imigração dos Estados Unidos) e costuma afetar a forma
como os critérios são interpretados”.
Ao mesmo tempo, comunicados recentes do
Departamento de Estado orientaram consulados a considerar fatores como
obesidade grave e filhos com necessidades especiais como elementos relevantes
para negar vistos permanentes, sob o argumento de custo para o sistema de
saúde. Embora distintos, esses movimentos ocorreram no mesmo período e foram
analisados pelos especialistas como parte de uma política que diferencia perfis
imigratórios conforme o impacto econômico esperado.
Oportunidades para brasileiros
O Itamaraty estima que 2 milhões de brasileiros
vivem nos EUA. Em 2019, mais de 502 mil foram registrados como imigrantes
legais, enquanto o Pew Research apontou 230 mil brasileiros não autorizados em
2022. Com o novo cenário, brasileiros com formação robusta passam a ter mais
espaço para avançar com processos de vistos profissionais.
“Há uma janela real de oportunidade. O governo está
apertando de um lado, mas abrindo para quem tem carreira sólida e pode
contribuir para o desenvolvimento econômico e tecnológico dos Estados Unidos”,
reforça Lossio.
Ele lembra que documentação detalhada e
planejamento cuidadoso fazem diferença. “Muita petição é negada ou atrasada por
erros evitáveis. Assessoria técnica é crucial.”
Outras possibilidades de
vistos
EB-1: Voltado para profissionais de destaque internacional: cientistas,
artistas, executivos, acadêmicos e atletas. Não exige oferta de trabalho. É um
dos vistos mais valorizados pelo governo quando o foco é mérito.
EB-2 NIW: Para profissionais altamente qualificados que demonstram capacidade de
gerar impacto nos EUA nas áreas de interesse estratégico, como tecnologia,
saúde, educação, energia e engenharia. Dispensa oferta de emprego.
Os especialistas alertam, no entanto, que mesmo em
um cenário favorável para profissionais qualificados, o planejamento continua
sendo essencial e pode definir o sucesso do pedido em qualquer categoria de
visto. Scliar esclarece que o processo imigratório envolve definir a categoria
de visto mais adequada ao perfil, reunir toda a documentação com antecedência,
comprovar experiência profissional e alinhar os objetivos da mudança.
“A assistência de um profissional especializado em imigração é fundamental para navegar por esse labirinto burocrático e garantir que todas as etapas sejam cumpridas corretamente”, orienta Scliar.
Bruno Lossio - advogado em Direito Internacional e Imigratório, sócio em três escritórios de advocacia, dois deles sediados nos Estados Unidos: a Premium Global Mobility Partner, referência em planejamento imigratório, e a SLS Legal Advisory, com sede em Washington, D.C. No Brasil, também é sócio do LSF Advogados Associados, no Rio de Janeiro. Coordena o Centro de Estudos e Atualizações em Direito Internacional do Instituto Nêmesis, contribuindo para a formação de uma nova geração de advogados. Sua trajetória e visão estão registradas no livro “Incendiários- Os Códigos das Mentes Imparáveis”, em que mostra que, com estratégia, coragem e propósito, é possível transformar o conhecimento jurídico em liberdade geográfica e realização pessoal.
Henrique Scliar - especialista em Mobilidade Global, Direito Internacional, Tributação e Expatriação Corporativa, com mais de 10 anos de experiência; Especialista em Direito Tributário pela Universidade Candido Mendes; LL.M em Direito Imigratório pela University of Southern California (USC); possui ampla vivência em imigração para os Estados Unidos e Portugal; Sócio-CEO da Premium Global Mobility Partner e do escritório SLS Legal.
Hugo Serri - advogado licenciado nos Estados Unidos (Alabama e Washington, D.C.) e iniciou sua carreira jurídica no Brasil em 1999, após se formar em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Com uma sólida formação internacional, possui dois títulos de Master of Laws (LL.M.), um em Direito Comercial Internacional pelo King’s College London (2012) e outro em Prática Jurídica Americana pela University of Denver (2019). Desde 2021, exerce a advocacia nos Estados Unidos com foco em Direito Imigratório. Tem ampla experiência na representação de clientes em processos de remoção, incluindo casos de asilo e cancelamento de remoção, perante cortes de imigração e órgãos administrativos.
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