Com a
chegada das festas, cresce a dúvida sobre pausar ou manter as canetas de
emagrecimento. Especialistas explicam o impacto da interrupção temporária e
como retomar o tratamento com segurança
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As drogas da classe dos GLP-1, como Ozempic, Wegovy e Mounjaro, se consolidaram como uma das principais novidades no manejo da obesidade nos últimos anos, criando um novo cenário em consultórios e no mercado de saúde. Ao mesmo tempo em que ampliaram o acesso a tratamentos eficazes, essas medicações também trouxeram um desafio prático para médicos e pacientes: como lidar com períodos de exceção, como as festas de fim de ano, sem comprometer a aderência e os resultados de longo prazo.
Na prática, muitos usuários optam por pausar a caneta de emagrecimento durante as comemorações, seja para evitar efeitos gastrointestinais em viagens e eventos, seja por acreditar que alguns dias de interrupção não farão diferença significativa. Do ponto de vista farmacológico, uma pausa curta tende mesmo a ter impacto limitado, já que essas drogas possuem meia-vida prolongada e permanecem no organismo por vários dias. Ainda assim, a combinação entre redução da dose, maior oferta de alimentos calóricos e quebra da rotina costuma se traduzir em aumento pontual do consumo e em uma percepção de “fome maior” em relação às semanas anteriores.
Esse cenário ajuda a explicar por que parte dos pacientes observa uma elevação rápida no peso, especialmente entre o Natal e a primeira semana de janeiro. Segundo especialistas, em grande medida esse ganho é explicado por retenção de líquidos, maior ingestão de carboidratos e flutuações naturais da balança, e não por perda definitiva de resultados. Estudos e a experiência clínica mostram que, quando o tratamento é retomado de forma adequada e o padrão alimentar volta gradualmente ao normal, a tendência é que o peso retorne à trajetória anterior em poucos dias ou semanas, sem caracterizar um efeito rebote clássico.
O risco maior está menos na pausa em si e mais na forma como o paciente interpreta esse período. Sensação de fracasso, culpa exagerada e tentativas de “compensar” com dietas extremas ou uso inadequado da medicação podem comprometer a segurança e a continuidade do tratamento. Do ponto de vista clínico, o foco não deve ser impedir qualquer oscilação, e sim preservar o vínculo com o plano terapêutico. Estratégias simples, como manter boa hidratação, incluir fontes de fibra nas refeições festivas, preservar algum nível de movimentação física e retomar as aplicações e consultas logo após as férias, costumam ser suficientes para recolocar o paciente no trilho.
Para o médico Dr. Gabriel Almeida,
CREMESP 180956 e RQE 121513, que atua na área de emagrecimento e saúde
integrada, é justamente essa perspectiva de longo prazo que precisa ser
reforçada com quem faz uso das canetas de emagrecimento. Na avaliação dele, o
fim de ano funciona como um teste de realidade para tratamentos voltados a uma
doença crônica. “A obesidade é uma condição de longo curso e, por isso, o
sucesso do tratamento depende de aderência ao longo dos meses, não de controle
absoluto em todos os dias do calendário”, afirma. Ele ressalta que pausas
curtas, planejadas e acompanhadas não costumam comprometer os resultados, desde
que o paciente retome o protocolo com orientação profissional. “Tratamento
eficaz não depende de perfeição, e sim de consistência. O papel da equipe de
saúde é ajudar o paciente a atravessar períodos como as festas sem culpa, mas com
responsabilidade, entendendo que o objetivo é proteger o projeto terapêutico
como um todo”, conclui.
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