A participação ativa da família na vida escolar é fundamental para o sucesso educacional do estudante, pois contribui para a motivação, o acompanhamento do desempenho e o suporte emocional ao longo da trajetória acadêmica
A relação entre família e escola vem se
transformando ao longo dos últimos anos. Quando os atuais pais dos estudantes
da Educação Básica ainda ocupavam o papel de estudantes, a dinâmica entre essas
duas esferas era bem diferente da que se observa hoje. O vínculo, antes
restrito à troca de informações e responsabilidades, evoluiu para uma parceria
na qual escola e família compartilham a missão de educar e formar integralmente
cada estudante.
A partir das décadas de 1980 e 1990, com o
avanço dos estudos em psicologia educacional e sociologia da educação,
passou-se a reconhecer que o sucesso escolar depende não apenas de fatores
internos à escola, mas também do contexto familiar e do grau de envolvimento
dos pais ou responsáveis. Nesse sentido, à medida que escola, família e
comunidade atuam de forma integrada, a aprendizagem e o bem-estar dos
estudantes são favorecidos.
Fatores de mudança na parceria família-escola
Tradicionalmente, a escola concentrava-se na
instrução acadêmica, enquanto a família assumia a responsabilidade pela
educação moral e social dos filhos. Essa divisão rígida de papéis, embora
garantisse certa estabilidade social, mantinha os ambientes escolar e familiar
quase independentes e com pouca comunicação.
Nas últimas décadas, entretanto, a
compreensão sobre a formação integral dos estudantes se ampliou, reconhecendo
que o processo educativo deve abranger não apenas aspectos cognitivos, mas também
emocionais, sociais e éticos. Assim, a escola expande o seu papel para além da
formação acadêmica e passa a ser vista como um espaço social de formação, onde
as relações entre estudantes e educadores tornam-se oportunidades para o
desenvolvimento das competências socioemocionais.
Com essa nova perspectiva, que amplia os
papéis da escola, para garantir o novo conceito de aprendizagem e de formação
integral, o emocional e o social se tornam fatores integrantes do meio
educativo, o que demanda o envolvimento das famílias como parceiras
fundamentais nesse processo, visto que ainda se tem na família a primeira
instituição formadora do indivíduo.
Como a relação família-escola se altera
em cada fase
O desafio de equilibrar o incentivo à autonomia dos filhos com o
acompanhamento responsável da jornada escolar é constante e se manifesta de
maneiras distintas ao longo das etapas da Educação Básica.
Na Educação Infantil, há uma proximidade
intensa entre pais e educadores, motivada pela vulnerabilidade das crianças,
que ainda não dominam plenamente a comunicação e dependem da mediação dos
adultos para expressar suas necessidades e experiências.
Nos Anos iniciais do Ensino Fundamental, a
participação da família continua próxima, com foco no bem-estar da criança, no
acompanhamento das rotinas escolares, no apoio às lições de casa e na resolução
de eventuais problemas comportamentais ou de aprendizagem. A comunicação
constante entre pais e escola, favorece o desenvolvimento social e cognitivo da
criança.
À medida que o estudante avança para os anos
finais do Ensino Fundamental, ocorre uma transição gradual em seu processo de
desenvolvimento. Nessa fase, a criança começa a conquistar maior autonomia e
senso de responsabilidade, enquanto a família passa a se concentrar mais no
acompanhamento do desempenho acadêmico, das notas e do comportamento. Essa
mudança marca o início de uma relação mais orientada pelo diálogo e pela
orientação, preparando o estudante para desafios mais complexos nas etapas
seguintes.
No Ensino Médio, essa dinâmica se torna ainda
mais evidente, pois os jovens enfrentam desafios acadêmicos complexos e se preparam
para a vida adulta, decisões profissionais e acesso ao ensino superior. O
engajamento familiar costuma centrar-se no suporte à escolha profissional, na
motivação para o cumprimento das responsabilidades escolares e na supervisão do
desempenho, muitas vezes por meio de reuniões e acompanhamento das avaliações.
Como evitar os excessos?
A participação ativa da família na vida
escolar é fundamental para o sucesso educacional do estudante, pois contribui
para a motivação, desempenho e o suporte emocional ao longo da trajetória
acadêmica. Contudo, existe um limite tênue entre essa participação saudável e o
excesso de interferência, que pode comprometer o desenvolvimento da autonomia,
fundamental para o crescimento pessoal e acadêmico.
A interferência excessiva ocorre quando a
família assume o controle das atividades escolares, resolve problemas que cabem
ao estudante ou impõe pressões que limitam sua capacidade de tomar decisões,
enfrentar desafios e aprender com seus próprios erros. Essa postura pode gerar
dependência, reduzir a confiança do jovem em suas habilidades e até causar
conflitos entre família e escola.
Assim, a participação familiar deve se
configurar como um suporte que incentiva o protagonismo, estimulando a
iniciativa, o diálogo e a autoconfiança, sem assumir o controle das tarefas e
decisões do estudante.
Para distinguir participação ativa de
interferência prejudicial, é essencial que a família valorize a autonomia progressiva
do estudante, respeitando seu ritmo e capacidade de lidar com desafios,
enquanto a escola orienta e comunica claramente os limites e responsabilidades
de cada parte no processo educativo. Dessa forma, constrói-se uma relação
equilibrada, que fortalece o desenvolvimento integral do estudante e o prepara
para a vida acadêmica e para a cidadania.
Como fortalecer essa relação na prática
Para consolidar a parceria família-escola no
contexto contemporâneo, é fundamental que o diálogo, a confiança e a
corresponsabilidade sejam construídos com base na comunicação aberta, no
respeito mútuo e no reconhecimento dos diferentes papéis e saberes de cada
participante envolvido. A escola colabora ao atuar como um espaço inclusivo que
valoriza não apenas os estudantes, mas também suas famílias e os profissionais
que contribuem para sua formação integral.
Nesse sentido, observa-se o investimento em
canais institucionais de comunicação mais efetivos, com o uso de diferentes
plataformas educacionais que ampliam o contato para além das reuniões e
comunicados tradicionais. A incorporação planejada de tecnologias digitais,
como aplicativos, plataformas de acompanhamento escolar e mensagens
personalizadas, facilita um contato frequente e acessível entre famílias e educadores.
No entanto, é imprescindível que esses canais sejam regulados pela escola, com
clareza nos fluxos de informação e acolhimento das demandas, fortalecendo a
confiança e a corresponsabilidade, e evitando dinâmicas informais e
desestruturadas.
Outro caminho importante é a promoção de uma
cultura de corresponsabilidade, em que as famílias compreendam seu papel no
processo educativo e tenham apoio para exercê-lo com autonomia, sem cair em
posturas de delegação total ou de intervenção excessiva. À escola, por sua vez,
cabe auxiliar neste processo formativo das famílias, por meio de oficinas,
formações e materiais explicativos que esclareçam os objetivos pedagógicos e
estimulem o equilíbrio entre acompanhamento e valorização da autonomia dos
estudantes.
Portanto, a parceria família-escola, longe de ser uma simples mudança terminológica, representa um novo paradigma educativo, necessário para enfrentar os desafios contemporâneos da educação. Essa parceria exige um vínculo que seja construído coletivamente, com escuta mútua, confiança, diálogo estruturado e cooperação ativa.
Thaís Gonçalves Camilozzi de Melo -
Coordenadora Educacional da unidade de Belo Horizonte da Rede de Colégios Santa Marcelina, instituição que alia tradição à uma proposta
educacional sociointeracionista e alinhada às principais tendências do mercado
de educação.

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