Primeiro veio o temor da queda, seguido pela
aversão a cobras. Esses medos já assombravam os ancestrais muito antes deles
descerem das árvores. Quando desceram, outros terrores surgiram com predadores
como leões. Mesmo quando não éramos caça, o medo do frio e da fome eram
constantes.
A consciência se expandiu, e medos mais difusos surgiram,
como o da escuridão, da morte e de eventos futuros, como a perda de alguém
querido. Também aprendemos a temer o maior predador da humanidade: outras
pessoas.
A reação ao medo evoluiu cedo nos primatas: luta ou
fuga. Duas estruturas gêmeas conhecidas como amígdalas cerebelosas desencadeiam
uma resposta hormonal, liberando adrenalina e cortisol. A pulsação aumenta,
mais sangue é bombeado para os músculos e os sentidos ficam mais alertas. Tudo
para sobreviver ao perigo.
Hoje as ameaças diminuíram. Armas surgiram, e
predadores viraram caça. Agricultura e fogo varreram a fome e o frio. E
inventamos, ainda que falhos, mecanismos como leis para o homem não ser o lobo
do homem. O medo parecia obsoleto.
Mas algo estranho aconteceu. Criou-se medos artificiais
para substituir os reais. Contos de vampiros, lendas assombradas, livros de
terror ou mesmo dar um susto no amigo. O medo aflora, mas de forma segura.
Mesmo medos atávicos, como o da queda, são simulados por paraquedismo ou bungee
jumping. Por que procurar o medo?
Uma explicação simples é a biologia: além de
adrenalina e cortisol, o corpo produz endorfina, analgésico natural que diminui
o estresse, e dopamina, hormônio ligado ao prazer e ao mecanismo de recompensa
do cérebro. A sobrevivência é recompensada com relaxamento e boas sensações.
Não importa se o susto é só uma mala mal colocada no alto do armário e não um
tigre pulando sobre você. Quantas vezes gargalhamos após um grande susto?
Há ainda a explicação cultural, a reposta ao tédio
e estresse cotidianos. Não se pode fugir e nem lutar, e isso traz frustração.
Um filme de terror afasta essa realidade e, por alguns momentos, fugimos junto
com os personagens do maníaco com facão. Quando o filme acaba, em nossa mente,
vencemos o monstro junto com a clássica “última sobrevivente”, um clichê nessas
produções.
Muitos também anseiam equilíbrio. Desastres
acontecem todo dia para pessoas que nada fizeram para merecer um destino tão
ruim. Doenças, crimes sem sentido, e tantas realidades duras e aleatórias. Histórias
de terror apresentam um causador desses males. Algo para focar o instinto de
luta ou algo do qual se pode fugir.
Se surgir uma fascinação por lobisomens, zumbis ou
monstros ainda mais estranhos, não se preocupe. São os instintos de
sobrevivência se mantendo em dia.
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