A dualidade entre
ser racional e ser expressivo nas emoções, com certeza, faz parte do universo
masculino. E essa dinâmica acaba sendo confrontada quando chega o Novembro
Azul, mês em que temos a campanha de prevenção do câncer de próstata e os
cuidados com a saúde do homem.
Como fugir
da obrigatoriedade que a sociedade impõe, de forma velada, de ser um homem
forte, a ponto de sentir-se um super-herói inabalável?
Existem muitos
mitos e tabus associados à masculinidade inabalável. A Psicologia nos mostra
que, no inconsciente, os homens tendem a entender que a demonstração de
fragilidade pode comprometer seu poder e autonomia. Afinal, ele foi,
socialmente, ensinado que ele não pode chorar, não pode sentir nada e não pode
verbalizar sentimentos e dores que o diminuam perante o outro.
Por esse
motivo, realizar o exame de próstata, tão necessário para detecção precoce de
um câncer ou reconhecer uma vulnerabilidade física ou emocional,
psicologicamente, pode intensificar sentimentos potencializados por medo,
vergonha, insegurança, baixa autoestima e impotência, pois transformam-se em
uma ameaça à necessidade de manter a “fama” e imagem de um ser forte e potente.
Nesse sentido, a
saída mais fácil é se proteger através dos mecanismos de defesa que ativam a
procrastinação. Portanto, esse homem passa a racionalizar e negar qualquer tipo
de fragilidade. Ou seja, os sinais são ignorados, a busca por prevenção e
tratamento é adiada e o medo e a insegurança escancaram a falta de maturidade
emocional.
Trazendo tudo isso
para o campo psicológico, é preciso compreender a força da mente. A linguagem
da mente, ainda desconhecida por muitos, se não tiver interações de
inteligência emocional e gerenciamento de sentimentos, poderá operar desastres
severos. Isso porque ela é muito poderosa e a maior dificuldade é reconhecer
que somos seres integrativos, portanto, não é possível desassociar mente e
corpo.
Se a mente
não anda bem, o corpo vai responder por isso. E quando falamos de prevenção,
sabemos que muitas doenças físicas nascem do acúmulo de problemas mentais, do
não dizer “não, das emoções reprimidas, da dificuldade de verbalizar desejos e
das cobranças internas e externas. Ou seja, tudo está interligado. O
autoconhecimento e controle emocional ajudam a trabalhar as inseguranças e
medos impostos pelo mito do homem forte.
Associado à
negação está o medo de morrer. A sensação de proximidade com a finitude reforça
o pânico de reconhecer que é preciso se autocuidar, pois não temos controle de
tudo e estamos suscetíveis à doenças e fraquezas. É necessário fortalecer essa
autoestima, resgatar o senso de pertencimento e reconstruir a identidade que
faz a conexão entre corpo e mente saudáveis e equilibrados.
Além disso, é
muito importante trabalhar uma rede de apoio, o autocuidado, a coragem de
verbalizar sentimentos e emoções reprimidas e potencializar a autocompaixão, já
que a vida continua.
Portanto, é fundamental
descontruir o culto à masculinidade que fortalece a falsa ilusão da
invencibilidade do homem. Essa venda nos olhos pode custar caro.
Pode custar a
vida. A avaliação preventiva do câncer de próstata, a partir dos 45 anos de
idade, é o primeiro passo para iniciar as práticas de culto ao bem estar físico
e mental. O conhecimento e a quebra de paradigmas e preconceitos sobre o tema,
também contribuem de forma positiva para a busca do equilíbrio do corpo.
Dra. Andréa Ladislau - Psicanalista
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