Novas exigências
de capital e governança devem elevar a segurança do sistema, mas também
desafiam o modelo de crescimento das startups financeiras
O Banco Central do Brasil publicou, em outubro de
2025, um novo conjunto de regras para fintechs e instituições de pagamento,
revisando parâmetros de capital mínimo, governança e gerenciamento de riscos
para sociedades de crédito direto (SCD), sociedades de empréstimo entre pessoas
(SEP) e iniciadores de transações de pagamento (ITPs). As mudanças buscam
fortalecer a estabilidade do sistema financeiro e reduzir riscos operacionais
diante da expansão acelerada do setor.
De acordo com o BC, as instituições que
movimentarem acima de R$500 milhões em ativos ou operações anuais deverão
adotar estruturas mais robustas de controles internos e compliance, além de se
enquadrar em níveis mais altos de exigência de capital regulatório. O órgão
também determinou novas normas de transparência e prevenção à lavagem de
dinheiro, alinhadas às recomendações do GAFI (Grupo de Ação Financeira
Internacional).
Para Luis Molla Veloso,
especialista em Embedded Finance e integração de serviços financeiros em plataformas
digitais, o movimento é natural em um mercado que amadurece rapidamente. “Nos
últimos anos, as fintechs deixaram de ser exceção e passaram a ter papel
relevante no sistema financeiro. As novas regras trazem segurança e
previsibilidade, mas exigem uma maturidade operacional que muitas startups
ainda estão construindo. O desafio será manter a inovação e a escalabilidade
sem perder a conformidade”, avalia Veloso.
Segundo levantamento da ABFintechs, o número de
instituições autorizadas pelo BC mais que dobrou em três anos, ultrapassando
1.400 empresas em 2025. Esse avanço fez o Brasil se consolidar como o maior
ecossistema de fintechs da América Latina, com 60% das operações concentradas
em crédito, pagamentos e banking as a service. A nova regulação busca
equilibrar o ritmo de expansão com mecanismos de segurança que evitem riscos
sistêmicos.
Veloso destaca que as mudanças podem afetar o
modelo de negócios de fintechs menores, mas também abrir oportunidades. “As
exigências de capital e governança tendem a reduzir a quantidade de novos
entrantes, mas favorecem a profissionalização e a confiança do mercado.
Empresas que já nasceram digitais e integradas a modelos como o Embedded
Finance terão mais facilidade para se adaptar, porque já operam
dentro de ecossistemas de dados e conformidade regulatória”, afirma.
Com a ampliação do Open Finance e a chegada de
novos instrumentos, como o Pix Automático, o ambiente regulatório do país se
tornou mais complexo e, ao mesmo tempo, mais favorável à integração entre
bancos e plataformas digitais. Para o especialista, a convergência entre
inovação e regulação definirá a próxima fase do sistema financeiro nacional. “O
Brasil vive um ponto de inflexão. O BC está ajustando o ritmo da inovação ao da
segurança, e isso é positivo. O futuro do setor dependerá da capacidade de as
fintechs se tornarem instituições sólidas, com base tecnológica e regulatória
ao mesmo tempo”, conclui Veloso.
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