Os
custos da desqualificação: impactos da falta de investimento em pessoas no
ponto de venda no mercado da beleza
O mercado brasileiro de beleza e cuidados pessoais
é o quarto maior do mundo, movimentando US$ 26,9 bilhões anuais, segundo a
Associação Brasileira da Indústria da Higiene Pessoal, Perfumaria e Cosméticos
(ABIHPEC). Uma projeção da Redirection International estima crescimento médio
de 7,2% ao ano até 2027, quando deve alcançar US$ 40 bilhões em faturamento.
Apesar do cenário próspero, o setor enfrenta um gargalo que pode comprometer
resultados: a falta de qualificação da mão de obra e a alta rotatividade no
atendimento.
Falta de treinamento e alta
rotatividade: os desafios do atendimento
Uma pesquisa apresentada no Fórum de Varejo de
Beleza, realizada pela Beauty Fair em parceria com a Radar, mostra que 51% dos
entrevistados identificaram necessidade urgente de treinamento dos
profissionais no ponto de venda, já que não há mão de obra qualificada
disponível no mercado e muitos não demonstram interesse em aprender. Outros 10%
apontaram a alta taxa de turnover e a baixa dedicação da equipe como fatores
críticos.
“No setor de beleza, onde o atendimento deveria ser
consultivo e relacional, a ausência de treinamento e capacitação, deixa o
profissional limitado a somente atender ao pedido do cliente em vez de ouvir
seus desejos. Isso afasta as possibilidades de incremento nas vendas e esconde
talentos em potencial” comenta Bruna Pullig, fundadora da Ojo Consultoria,
especializada em RH e gestão de pessoas para o universo da beleza.
Investir em pessoas como
estratégia
A solução passa pela profissionalização do recrutamento
e pelo investimento contínuo em capacitação. Com o setor crescendo 30,5% em
termos absolutos nos últimos cinco anos, de acordo com a ABIHPEC, há espaço
para que empresas que investem em pessoas se diferenciem. “É preciso encontrar
profissionais que tenham fit cultural com a marca e investir no desenvolvimento
deles para que possam acompanhar as demandas do varejo”, defende Bruna Pullig.
Para ela, o mercado brasileiro tem potencial para
crescer ainda mais, mas só avançará se as empresas entenderem que a
qualificação não é custo, mas investimento estratégico. “Com um público amplo e
diversificado, e tendências como autocuidado masculino e consumo de
experiências em alta, as perspectivas são promissoras para quem souber aproveitar”,
comenta.
O peso da desqualificação afeta diretamente a
experiência do cliente no ponto de venda. Dados da mesma pesquisa revelam que
40% das consumidoras gastam mais que o planejado quando bem atendidas e 95%
afirmam considerar o contato humano essencial. “Esses dados mostram que existe
demanda e disposição para consumir, mas se o atendimento for ruim ou
inexistente, o cliente deixa de comprar. Em um mercado tão competitivo, a
experiência no ponto de venda é o diferencial entre conquistar ou perder um
cliente”, destaca Bruna Pullig.
Falta de mão de obra
qualificada e alta rotatividade: efeito dominó
A falta de profissionais qualificados alimenta um
ciclo vicioso: atendimento inadequado gera insatisfação, reduz vendas e
pressiona ainda mais os profissionais, o que contribui para o aumento da
rotatividade. “A ausência de mão de obra qualificada associada a
ausencia de investimento em qualificação por parte das empresas, impactam
diretamente na alta rotatividade, que impede a construção de relacionamentos
duradouros, essencial em um setor no qual a decisão de compra é emocional e a
experiência personalizada é determinante”, diz Bruna Pullig.
Os números confirmam que a dimensão do problema não
é algo específico do mercado da beleza, é uma constante no varejo brasileiro.
Segundo estudo de 2023 da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC) em
parceria com a Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), a taxa de
turnover é de 36% ao ano. Porém, especificamente no mercado de beleza, essa
rotatividade é mais grave, de acordo com Bruna Pullig.
“No mercado de beleza, em que a venda é altamente
baseada em relacionamento e confiança, essa rotatividade é ainda mais
prejudicial. Quando um cliente cria vínculo com um consultor e ele sai da marca
ou da empresa, muitas vezes o cliente também migra”, afirma Bruna Pullig.
https://www.linkedin.com/in/brunapullig/
https://www.instagram.com/ojoconsultoria/
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