Jovens enfrentam aumento preocupante de casos de câncer no Brasil e no mundo

Estudos indicam avanço expressivo da doença antes dos 50 anos; especialistas reforçam importância da prevenção, vacinação e diagnóstico precoce.

 

Dados em destaque

79% foi o aumento global nos casos de câncer em pessoas com menos de 50 anos entre 1990 e 2019 (BMJ Oncology).

45 mil é a estimativa anual de novos casos de câncer colorretal no Brasil até 2025 (Inca).

4 vezes maior é o risco de câncer retal em pessoas nascidas após 1990, em comparação às nascidas nos anos 1950 (American Cancer Society).

40% dos casos poderiam ser evitados com mudanças no estilo de vida (ONU).

O câncer, historicamente associado ao envelhecimento, tem avançado entre adultos jovens. Dados internacionais e nacionais mostram que a incidência da doença antes dos 50 anos cresce de forma consistente. Um estudo da BMJ Oncology revela que, entre 1990 e 2019, houve aumento de 79% nos diagnósticos globais nessa faixa etária. No Brasil, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), os tipos mais comuns entre jovens são os de mama, intestino, tireoide, pele e órgãos reprodutivos.

A tendência preocupa especialistas. “Ainda não conseguimos entender completamente os mecanismos que levaram a esse aumento expressivo dos casos de câncer em pacientes jovens nas últimas décadas. Temos observado maior incidência de câncer de mama, estômago, cólon, pulmão, pâncreas, colo de útero, dentre outros”, afirma a oncologista Dra. Nathalia Naves, do Hospital Mater Dei Santa Genoveva.

O papel do estilo de vida

Embora fatores genéticos estejam envolvidos, hábitos de vida têm peso significativo. Estimativas da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que cerca de 40% dos casos de câncer poderiam ser evitados com mudanças comportamentais. “A epigenética explica que é possível acionar ou silenciar determinados genes a partir do estilo de vida, e hábitos como tabagismo (incluindo cigarros eletrônicos), etilismo, sedentarismo e consumo elevado de alimentos ultraprocessados estão diretamente relacionados a esse aumento da incidência de câncer”, reforça a Dra. Nathalia.

No Brasil, a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) lembra que a vacinação contra o HPV é uma medida eficaz para reduzir o risco de diversos tumores, incluindo colo do útero, vagina, vulva, pênis, canal anal e garganta.

Diagnóstico tardio é um desafio

Um dos maiores obstáculos para os jovens é o diagnóstico precoce. Como a maioria não está incluída nos programas de rastreamento, a doença costuma ser identificada apenas quando já há sintomas avançados. “Pacientes jovens ainda não têm indicação de rastreio e, por isso, acabam diagnosticando o câncer numa fase mais avançada. É importante se atentar para sinais como perda de peso expressiva não associada a dieta ou atividade física, dor persistente, vômitos, mudança no hábito intestinal ou presença de sangue vivo nas fezes, além de nódulos palpáveis na mama”, explica a especialista.

Ela alerta que mulheres jovens devem manter acompanhamento anual com ginecologista e realizar o exame preventivo, enquanto homens e mulheres devem se vacinar contra o HPV. “A prevenção é uma importante aliada, e o diagnóstico precoce implica em uma maior chance de cura”, acrescenta.

O impacto do câncer colorretal

Entre os tumores que mais crescem entre jovens está o câncer colorretal. O Inca estima mais de 45 mil novos casos por ano no Brasil até 2025. Já a American Cancer Society indica que pessoas nascidas após 1990 têm até quatro vezes mais risco de desenvolver câncer retal do que aquelas nascidas nos anos 1950.

Diante desse cenário, sociedades médicas internacionais reduziram a idade recomendada para início do rastreamento por colonoscopia de 50 para 45 anos — ou antes, em casos de histórico familiar.

Informação que salva vidas

O avanço do câncer em pessoas no auge da vida rompe paradigmas e exige atenção redobrada à prevenção. Como conclui a Dra. Nathalia Naves, “manter hábitos saudáveis, estar atento a sinais de alerta e buscar acompanhamento médico regular são passos fundamentais. Quanto antes começarmos a cuidar da saúde, maiores são as chances de prevenir e tratar o câncer com sucesso”.