Além de retenção da receita médica, bulas deverão informar sobre condição ocular rara que pode causar perda súbita de visão; o Dr. Matheus Silva explica a doença
Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, atualiza
as regras para a comercialização de medicamentos que contêm semaglutida na
composição. Presente em marcas como Ozempic, Rybelsus e Wegovy, a substância
ativa é indicada no tratamento do diabetes do tipo 2, obesidade e sobrepeso.
A semaglutida imita a ação do hormônio GLP-1, produzido
naturalmente pelo intestino e que atua no controle da glicose no sangue e no
apetite, sinalizando ao cérebro a sensação de saciedade. Isso fez com que a
substância fosse cada vez mais utilizada para a perda de peso.
No entanto, análises do Comitê de Avaliação de Risco em
Farmacovigilância da Agência Europeia de Medicamentos identificaram a
neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica (NOIA-NA), uma condição
ocular grave, como possível evento adverso raro ao uso de semaglutida.
“A NOIA-NA ocorre quando os vasos sanguíneos que irrigam o nervo
óptico ficam estreitados ou bloqueados, resultando em danos ao nervo”, explica
o Dr. Matheus Bedendo Rodrigues da Silva, oftalmologista do H.Olhos, Hospital
de Olhos da rede Vision One.
“O principal sintoma é a perda súbita e indolor da visão em um
olho, que pode ser temporária ou permanente. O paciente também pode enxergar de
forma desfocada, principalmente na metade inferior do campo visual, ter
dificuldade para reconhecer rostos ou identificar cores”, complementa o médico.
A neuropatia óptica isquêmica anterior não arterítica é mais comum
a partir dos 50 anos e, de acordo com o oftalmologista, “alguns fatores de
risco são o diabetes descontrolado, a hipertensão, doenças cardíacas, apneia
obstrutiva do sono ou colesterol elevado, que podem levar à redução do fluxo
sanguíneo para o nervo óptico”.
O Sistema VigMed, disponibilizado pela Anvisa e que recebe
informações sobre efeitos adversos de medicamentos e vacinas no Brasil,
registrou 52 notificações de suspeitas de distúrbios oculares relacionadas à
semaglutida. Os dados também contribuíram para a criação de novas regras em
relação ao uso da substância.
Uma delas é que, e que já está em vigor, é que todos os medicamentos com semaglutida ou substâncias que imitam a ação do hormônio natural GLP-1 em sua composição, terão retenção da receita médica. Além disso, a Anvisa determinou que as bulas deverão trazer informações sobre a possível reação adversa para a saúde ocular, mesmo que seja rara.
“É muito importante que, ao fazer uso desses remédios, a pessoa
realize exames oftalmológicos regulares e fique atenta a qualquer sintoma que
possa indicar problemas na visão, especialmente se fizer parte do grupo de
risco para NOIA-NA”, alerta o Dr. Matheus Silva. A recomendação da Anvisa é
para que os profissionais, ao prescrever estes medicamentos, orientem seus
pacientes sobre o risco para a saúde ocular e os sinais de alerta.

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