“Não se combate a violência com um único modelo de enfrentamento. Cada geração exige uma abordagem diferente” — Davi Gebara
A violência contra a mulher não escolhe idade,
classe social nem geração. No entanto, as formas como boomers, millennials e
integrantes da geração Z encaram esse problema revelam diferenças — e essas
diferenças, muitas vezes, são decisivas para o enfrentamento do abuso. Do
silenciamento em ambientes familiares à exposição nas redes sociais, o cenário
da violência evolui, e com ele, também a forma como é percebido e combatido.
A geração Z, composta por jovens nascidos a partir
de 1995, cresceu em meio à internet e às redes sociais e, com isso, se depara
com violências que vão além do físico ou psicológico. Vazamento de imagens
íntimas sem consentimento, deepfakes com conteúdo sexual e perseguições
virtuais são algumas das agressões que afetam, em especial, meninas e mulheres
jovens. Para o advogado criminalista Davi Gebara, essa geração está mais
preparada para romper o silêncio, mesmo que por meio digital. “Elas denunciam,
compartilham, se articulam — mas também enfrentam novas formas de violência que
exigem respostas atualizadas”, explica.
Já os millennials, adultos entre 30 e 40 e poucos anos, vivem uma espécie de transição. Embora tenham sido criados em contextos onde o machismo ainda era pouco questionado, muitos hoje repensam relações e padrões herdados. Ainda assim, enfrentam obstáculos. Há quem hesite em reconhecer situações abusivas, principalmente quando envolvem pessoas próximas. Davi aponta que o medo do julgamento, o peso do estigma e a pressão social ainda são barreiras fortes nessa faixa etária.
Entre os boomers, a violência contra a mulher
muitas vezes permanece camuflada sob o véu da “vida privada”. Mulheres dessa
geração, hoje com 60 anos ou mais, cresceram em lares onde a submissão era
ensinada como virtude. Casamentos longos, muitas vezes marcados por ciclos de
violência silenciosa, tornam mais difícil o rompimento com a situação. “Atendo
muitas mulheres que permanecem anos em relacionamentos abusivos, não por falta
de coragem, mas porque dependem financeiramente do agressor ou têm medo de
ficar sozinhas. É uma prisão silenciosa, muitas vezes reforçada pela própria
família e pela sociedade”, afirma Davi.
Istock
Para ele, compreender esse recorte geracional é
essencial para aprimorar tanto a atuação jurídica quanto as políticas públicas
voltadas à proteção da mulher. “Uma jovem de 19 anos vítima de exposição online
precisa de um tipo de acolhimento muito diferente de uma mulher de 50 anos
presa há décadas em um ciclo de violência”, pontua.
O desafio, segundo o advogado, está em acompanhar a transformação das dinâmicas sociais sem perder de vista a complexidade de cada realidade. É preciso ouvir, acolher e atuar de maneira personalizada, porque, apesar de a violência ser a mesma em sua essência, o contexto de quem sofre muda tudo.
Davi Gebara
Instagram: @davigebaraadvogado

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