Ação deve ocorrer nesta quarta (12) e pode reduzir idade mínima para esterilização
A possível
mudança nas regras para laqueadura e vasectomia no Brasil levanta diversas
questões sobre maturidade, planejamento familiar e direitos reprodutivos. Para
esclarecer os principais pontos do debate, Rafaela Schiavo, psicóloga perinatal
e fundadora do Instituto MaterOnline, responde às principais dúvidas sobre o
tema.
O Brasil tem um planejamento
familiar eficiente?
No Brasil, mais da metade das gestações acontecem
sem planejamento. A maioria das mulheres tem um, dois, três ou mais filhos sem
planejar. Existe até a ideia de política nacional de planejamento familiar, que
infelizmente não cumpre o papel de um planejamento efetivo. Muitas vezes, ela
se resume à distribuição de preservativos, pílulas anticoncepcionais,
laqueadura ou vasectomia. Falta diálogo verdadeiro sobre planejamento familiar.
A ausência de educação sexual
contribui para gestações precoces?
A falta de educação sexual nas escolas para
adolescentes ainda é um tabu para muitas famílias. Isso contribui para que
muitas jovens engravidem antes dos 18 anos. Aproximadamente 20% das gestações
no Brasil acontecem durante a adolescência, ou seja, antes de a pessoa
completar a maioridade. Muitas vezes ocorre também a recorrência, adolescentes
engravidam mais de uma vez antes dos 18 anos.
A renda e a escolaridade
influenciam a gravidez não planejada?
Sim. Mulheres com menor escolaridade e baixa renda
têm maior risco de enfrentar uma gravidez não planejada. A vulnerabilidade
social impacta diretamente as chances de uma gestação indesejada.
Aos 18 anos, uma pessoa já tem
maturidade suficiente para decidir pela laqueadura?
Alguns jovens conseguem ter clareza cedo sobre não
querer filhos, mas não é possível generalizar. Estamos falando de um período em
que prevalecem sentimentos de rebeldia e pensamentos mágicos, fantasiados,
próprios da adolescência. Do ponto de vista psicológico, a maturidade cognitiva
plena se dá aos 18 anos. Porém, apesar de alguns aspectos já estarem formados
entre 12 e 18 anos, o pensamento realmente maduro, adulto e crítico ocorre após
essa idade. Se já é complicada a pressão para um jovem escolher uma profissão e
ingressar numa faculdade aos 18 anos, imagine tomar uma decisão definitiva
sobre não ter filhos.
Claro que existem exceções. Há pessoas que atingem
uma maturidade mais cedo devido às circunstâncias da vida, às dificuldades que
enfrentaram ou às lutas que precisaram travar ainda na adolescência. Muitos
jovens já têm maturidade suficiente e clareza sobre essa escolha, e é
fundamental que sejam respeitados. No entanto, considerando a maioria,
estabelecer a idade de 18 anos para realizar uma laqueadura ou vasectomia
parece precoce.
Se a mulher já tem filhos
antes dos 21 anos, a laqueadura deveria ser permitida?
Sim. Se a pessoa já tem filhos antes dos 21 anos, o
cenário muda. Muitas mulheres com 18 anos já têm dois filhos, por exemplo, e
têm total clareza sobre não querer mais engravidar. Para esses casos, a
possibilidade da laqueadura deveria ser permitida, mesmo antes dos 21
anos.
A sociedade impõe a
maternidade às mulheres?
Sim. Vivemos em uma sociedade que impõe a
maternidade compulsória, como se todas as mulheres tivessem que ser mães para
se sentirem plenas e felizes com a maternidade. Quase nunca existe o questionamento
real se a mulher quer ou não ser mãe. Ainda hoje, mulheres com 30 anos que não
querem ter filhos são criticadas por suas decisões. Imagine mais jovens, com
menos de 25 anos. Essas enfrentam ainda mais resistência e descrédito por parte
da sociedade, que insiste em dizer que são muito novas para tomar essa
decisão.
A redução da idade mínima para
esterilização pode afetar os direitos reprodutivos?
Precisamos discutir esse tema com sensibilidade e
respeito, pois é uma decisão que envolve sobre a vida do outro com base em
nossa própria visão. Do ponto de vista da psicologia, 18 anos ainda não
representa uma maturidade cognitiva suficiente para uma decisão irreversível
como essa. Já sobre a percepção social, é necessário urgentemente de políticas
efetivas de planejamento familiar e educação sexual nas escolas. As pessoas
precisam ter liberdade real para decidir sobre filhos sem sofrerem
julgamentos.
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