Escola tem papel importante na discussão da igualdade de gênero, além de formar e incentivar que mais mulheres participem de setores chave da sociedade
O Dia
Internacional da Mulher, celebrado em todo o mundo em 8 de março, é mais do que
uma simples data comemorativa. É uma oportunidade para reflexão sobre as
conquistas das mulheres ao longo da história e os desafios que ainda enfrentam.
Nesse cenário, o ambiente escolar tem papel fundamental na formação de
estudantes conscientes e engajados na luta por igualdade de gênero.
A data foi celebrada pela primeira vez na história em
1911, três anos depois de uma marcha que reuniu 15 mil mulheres nas ruas de Nova
York, em 1908, exigindo a redução das jornadas de trabalho, salários melhores e
direito ao voto. Apenas décadas depois, em 1975, o Dia Internacional da Mulher
foi oficializado e reconhecido pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Além das tradicionais flores e cartões trocados na
data, a escola pode tornar o Dia da Mulher uma oportunidade de aprendizado e
contribuir para uma sociedade mais justa, incorporando atividades educativas
para formar gerações mais conscientes e preparadas para promover a igualdade de
gênero.
Para ajudar professores e educadores a abordar a data
nas atividades em sala de aula, especialistas em educação listam atividades
pedagógicas adequadas para cada fase da Educação Básica.
Educação Infantil e anos iniciais do Ensino Fundamental:
representatividade desde cedo
A infância é um período crucial para a formação de
valores e percepções sobre o mundo. "É essencial apresentar às crianças
figuras femininas inspiradoras, estimulando a representação positiva das
mulheres na sociedade e ajudando a desconstruir estereótipos desde cedo",
afirma a diretora pedagógica do Brazilian International School (BIS), de São
Paulo, Audrey Taguti.
Uma atividade recomendada pela especialista é a
leitura de histórias infantis (sejam leituras mediadas pelo professor, no caso
das crianças menores; ou a leitura feita pelo próprio aluno alfabetizado)
protagonizadas por mulheres fortes, como "Malala, a menina que queria ir
para a escola” e "Histórias de ninar para garotas rebeldes", que trazem
exemplos concretos de mulheres que desafiaram barreiras e transformaram suas
realidades.
Outra atividade recomendada é a dramatização de
momentos históricos protagonizados por mulheres, permitindo que as crianças
vivenciem de forma lúdica a importância da participação feminina em diversas
áreas. Criar um mural interativo com imagens e descrições de mulheres notáveis
também é uma forma visual e didática de reforçar a representatividade. Ao
incorporar essas práticas no dia a dia escolar, as crianças crescem mais conscientes
da diversidade de papéis femininos na sociedade e do impacto positivo da
igualdade de gênero.
Ensino Fundamental: desconstruindo estereótipos
Nesta fase da educação das crianças, é importante
trabalhar a desconstrução de estereótipos de gênero. "Trabalhar histórias
de mulheres de diferentes áreas é essencial para ampliar as referências das
meninas e para que os meninos também reconheçam a relevância feminina na
sociedade", afirma a diretora pedagógica da Escola Bilíngue Aubrick, de
São Paulo, Teca Antunes.
Para os anos iniciais do Ensino Fundamental, a
educadora aponta como uma proposta pedagógica eficiente conversar com alunos e
alunas a partir de vivências de seu cotidiano, como escolhas de brinquedos e
brincadeiras em que meninos e meninas podem igualmente se envolver. Além disso,
é essencial garantir a presença de mulheres em diferentes áreas curriculares:
artistas plásticas, escritoras, cientistas e figuras históricas devem fazer
parte do planejamento acessado pelas crianças.
Já nos anos finais do Ensino Fundamental, com uma
maior maturidade dos adolescentes, o professor tem a oportunidade de investir
em uma abordagem mais crítica e investigativa. Os alunos podem ser incentivados
a pesquisar biografias de grandes mulheres que transformaram o mundo e marcaram
a história, como Marie Curie (física polonesa que descobriu os elementos
químicos Polônio e Rádio), Frida Kahlo (pintora mexicana ícone do feminismo),
Dandara dos Palmares (guerreira negra do período escravagista e colonial
brasileiro) e Ada Lovelace (matemática inglesa responsável por criar o primeiro
algoritmo de computador da história), compartilhando suas descobertas com a
classe.
Ensino Médio: debate e reflexão crítica
Nesta fase, a discussão sobre desigualdade de gênero
pode ser aprofundada por meio de debates e análise de fatos reais. Atividades
como rodas de conversa sobre o impacto da desigualdade salarial, representação
feminina na ciência e na política e violência contra a mulher podem ser
enriquecedoras.
Além disso, filmes podem ajudar a ampliar a
discussão, como os títulos Estrelas Além do Tempo (conta a história de três
funcionárias da Nasa que foram fundamentais para que o homem chegasse à Lua) e
Adoráveis Mulheres (três irmãs com personalidades diferentes que crescem e
amadurecem unidas pelo amor em meio à Guerra Civil americana).
Outra estratégia é incentivar os jovens a resgatar
importantes memórias associadas a figuras femininas que foram de alguma forma
importantes em suas vidas: criar uma atividade em que eles possam justificar,
agradecer e parabenizá-las pelas suas habilidades, qualidades e forças que as
tornaram tão especiais e dignas de lembranças e admiração deles.
“Acredito ser uma grande oportunidade para
identificar o porquê essas mulheres são valorizadas por eles e chamar a atenção
para as suas próprias forças de caráter. Essa identificação revela aspectos que
eles valorizam na vida e que podem buscar para si mesmos, usando-as como
inspiração, exemplo e modelo”, opina a psicóloga, pedagoga e gestora da Escola
Internacional de Alphaville, de Barueri, Ana Cláudia Favano.
Além disso, é possível ainda resgatar modelos
femininos que embora os estudantes não tenham convivido presencialmente, tenham
de alguma forma contribuído para questões pessoais, que podem ser autoras de
livros marcantes, cientistas que fizeram grandes descobertas ou figuras
públicas que trouxeram importantes reflexões e aprendizados para suas vidas.
“Acredito que o Dia da Mulher é uma grande
oportunidade de trabalharmos como somos rodeados de pessoas que nem sempre
temos a percepção de seu devido valor. A possibilidade de experienciar a
gratidão entre os jovens é um exercício de crescimento pessoal”, completa Ana
Claudia.
Ana Claudia Favano - gestora da Escola Internacional de Alphaville. É psicóloga; pedagoga; educadora parental pela Positive Discipline Association/PDA, dos Estados Unidos; e certificada em Strength Coach pela Gallup. Especialista em Psicologia da Moralidade, Psicologia Positiva, Ciência do Bem-Estar e Autorrealização, Educação Emocional Positiva e Convivência Ética. Dedicada à leitura e interessada por questões morais, éticas, políticas, e mobiliza grande parte de sua energia para contribuir com a formação de gerações comprometidas e responsáveis.
Audrey Taguti - acumula 41 anos de experiência e trabalho em Educação. É formada em Magistério e Pedagogia, possui pós-graduações em Psicopedagogia e Bilinguismo e é especialista em Alfabetização. É diretora pedagógica do Brazilian International School – BIS, de São Paulo/SP desde a fundação do colégio, em 2000.
Teca Antunes - pedagoga, Mestre em Educação Especial e pós graduada nas áreas de Didática para Educação Bilíngue e Alfabetização. Tem experiência em sala de aula e na gestão de escolas bilíngues, além de atuar como formadora de professores em diversas áreas. Na Escola Bilíngue Aubrick, atua na direção pedagógica promovendo o alinhamento de práticas frente ao projeto pedagógico da instituição, acompanhando o desenvolvimento profissional dos colaboradores e buscando construir uma experiência de excelência e relevância para todos os estudantes.
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