sexta-feira, 14 de março de 2025

“420 mil pessoas morrem por ano por alimentos contaminados”, alerta especialista em segurança dos alimentos

A cada ano, 420 mil pessoas morrem no mundo devido ao consumo de alimentos contaminados, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). O dado alarmante escancara um problema muitas vezes invisível: quem realmente garante que os alimentos que chegam ao nosso prato são seguros? 

No Brasil, os surtos de intoxicação alimentar são mais frequentes do que se imagina – e 35% deles acontecem dentro das próprias casas, de acordo com a Vigilância Epidemiológica de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar (DTHA), do Ministério da Saúde. Falta de higiene, armazenamento inadequado e consumo de produtos fora da temperatura segura estão entre as principais causas. 

Nos estabelecimentos comerciais, o problema também persiste. Especialistas alertam que o controle inadequado de tempo e temperatura na manipulação de alimentos pode transformar um prato aparentemente fresco em um verdadeiro risco para a saúde pública. 

"O perigo nem sempre é visível. Muitas pessoas acreditam que, se o alimento está com boa aparência e cheiro, ele está seguro para consumo. Mas vírus, bactérias e fungos podem estar presentes mesmo sem sinais de deterioração", explica Paula Eloize, especialista em Inspeção de Alimentos e mestre em Segurança dos Alimentos pela Universidade de Lisboa.

 

O perigo mora na cozinha 

Muita gente acredita que intoxicação alimentar é um problema exclusivo de restaurantes e indústrias, mas a verdade é que a falta de cuidados na preparação e conservação dos alimentos dentro de casa também coloca a saúde em risco. 

"A geladeira não é cofre. Um alimento que foi mal armazenado ou passou muito tempo na temperatura errada pode se tornar um terreno fértil para a multiplicação de bactérias", alerta Paula. 

Entre os erros mais comuns que podem levar à contaminação alimentar dentro de casa, especialistas apontam: 

·         Descongelar carnes em temperatura ambiente: O correto é fazer isso na geladeira ou no micro-ondas, nunca sobre a pia.

·         Armazenar alimentos crus junto com cozidos: Isso aumenta o risco de contaminação cruzada.

·         Consumir ovos crus ou mal cozidos: Pode levar à contaminação por Salmonella, uma das principais causadoras de intoxicações graves.

·         Reaproveitar alimentos sem o devido reaquecimento: Comida que ficou fora da geladeira por muito tempo precisa ser descartada.

·         Beber água não filtrada ou sem tratamento adequado: A água contaminada pode ser um dos principais vetores de doenças.

 

Além dos cuidados na manipulação e armazenamento, o controle da temperatura dos alimentos também é essencial para evitar a proliferação de microrganismos:

 

Acima de 60°C: para manter alimentos quentes expostos ao consumo.

Abaixo de 5°C: para alimentos prontos frios ou armazenados na geladeira.

Entre 2°C e 8°C: temperatura ideal para alimentos perecíveis em preparo.

 

“O intervalo entre 5°C e 60°C é o mais perigoso para a proliferação de bactérias. Ou seja, quanto mais tempo um alimento permanece nessa faixa, maior o risco de contaminação”, explica a especialista. 

Responsabilidade técnica: o que a indústria e os restaurantes precisam fazer? 

Se dentro de casa o risco já é alto, em cozinhas industriais e grandes redes de alimentação a responsabilidade deve ser ainda maior. Estabelecimentos precisam seguir normas rígidas para garantir que o consumidor não esteja ingerindo um alimento contaminado.

 

"A segurança dos alimentos não é apenas uma questão de boas práticas, mas de compromisso com a vida do consumidor. Restaurantes e indústrias precisam investir em controle de qualidade, treinamento e fiscalização para evitar surtos de intoxicação alimentar", reforça Paula.

 

Entre as medidas obrigatórias estão a implementação do sistema APPCC (Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle) para monitoramento dos processos, o treinamento contínuo de funcionários sobre manipulação segura de alimentos, o armazenamento adequado para evitar contaminação cruzada, o controle rigoroso de fornecedores para garantir a procedência dos insumos e, claro, o monitoramento da temperatura dos alimentos ao longo de toda a cadeia produtiva.

 

“Além disso, a transparência com o consumidor é um fator cada vez mais valorizado no mercado. Empresas que demonstram compromisso com a segurança alimentar e seguem protocolos rigorosos tendem a conquistar mais confiança e fidelidade do público”, conta.

 

O que o futuro reserva para a segurança alimentar? 

Com o avanço das tecnologias, a tendência é que o controle da qualidade dos alimentos seja cada vez mais rigoroso. Métodos inovadores como rastreabilidade digital, inspeção com apoio da inteligência artificial e sensores térmicos já estão sendo implementados para garantir maior transparência e segurança para os consumidores.

 

Ainda assim, a especialista reforça que a informação continua sendo a melhor ferramenta para evitar problemas. Quanto mais consumidores, empresas e profissionais da área estiverem atentos à segurança dos alimentos, menos casos de intoxicação alimentar serão registrados. 

“Afinal, o que está em jogo não é apenas a qualidade do alimento – é a saúde e a vida de milhões de pessoas”, alerta Paula.


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