terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Golpe do “Pig-buchering” ou “Abate do porco”

Aprenda o que é, onde acontece e como se defender

 

O Abate do porco é uma vasta e sofisticada modalidade de golpe on-line que qualquer pessoa está sujeita, até mesmo vindo de um “amigo” seu! 

Trata-se de uma indústria global que rouba de vítimas do mundo todo mais de US$ 500 bilhões por ano. A prática teve início na China em 2019, e é conhecida como “sha zhu pan”, gíria criminosa chinesa. 

No Brasil o Pig-buchering” é chamado de “Abate do porco”, e funciona da seguinte forma: primeiro os golpistas constroem um “chiqueiro” com perfis falsos nas redes sociais. Depois escolhem a vítima, o “porco”, identificando um alvo on-line nas redes sociais. O Linkedin tem sido muito usado, pois ali encontra-se informações importantes a respeito das pessoas. A partir daí criam o porco durante semanas ou meses, construindo a amizade e a confiança, de maneira a conseguir explorar a vítima emocionalmente. O relacionamento pode ser de qualquer natureza, eles identificam uma fragilidade na pessoa, que pode ser solidão, medo, tédio, luto, ganância, falta de relacionamentos, amizades, e “investem” no ponto fraco. Todos nós temos um! A seguir cortam o porco, coagindo-o a investir. E finalmente o abatem, tirando todo o dinheiro da pessoa, da família e/ou amigos do “porco”. 

Entre as vítimas são encontradas todo tipo de pessoas e geralmente têm boa formação. Por exemplo, até mesmo indivíduos com PhD em neurociência já foram vitimados, assim como parentes de investigadores do FBI, cujo trabalho é acabar com os golpes, jovens com formação em tecnologia, policiais, consultores financeiros e até mesmo o curioso caso de Shan Hanes, que mesmo conhecendo os riscos de fraude on-line, pois ele era o CEO de um banco no Kansas, ex-presidente da Associação de Banqueiros do estado e ex-diretor da Associação Americana de Banqueiros foi vítima do golpe “Abate do porco”. 

Tendo o CEO aplicado em criptomoedas não somente os próprios recursos, mas também o dinheiro do banco onde era gerente, $47 milhões, e recursos da igreja onde era pastor, Hanes acabou sendo acusado de peculato após investigação do FBI, e cumpre pena de 24 anos. Obviamente, ele nunca conseguiu trazer de volta da Ásia o dinheiro que havia aplicado e movimentado, ele mesmo, num site falso on-line, levando o banco à falência em 2023. 

O fato de o gerente de um banco ter sido enganado ao ponto de quebrar o banco é um sinal de quão sofisticados e abrangentes os golpes on-line se tornaram.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, em 2023 a indústria empregava em torno de 250 mil pessoas no Camboja e em Mianmar, e outra estimativa coloca o número de trabalhadores em todo o mundo em 1,5 milhões. 

Os fraudadores enriqueceram e são poderosos, ao ponto de corromperem governos inteiros, transformando países em fraudes cibernéticas, equivalentes aos narcoestados. As operações fraudulentas podem ser encontradas em todo o mundo, de Mianmar ao México. 

Chocante é o fato de que a ONU estima que, em 2023, pelo menos 220 mil pessoas foram forçadas a trabalhar como golpistas em Mianmar e no Camboja. Pessoas de mais de 70 países foram traficadas para fábricas fraudulentas no Sudeste Asiático, afirma Eric Heintz, da ONG “Missão de Justiça Internacional”. Muitos são diplomados universitários multilíngues, oriundos de países pobres que foram atraídos pela promessa de um emprego bem remunerado num call center.

Os ex-golpistas descreveram as condições angustiantes para a “Scam Inc”. “Se não atingimos as metas, eles nos eletrocutam”, explica um ugandês que ficou preso num complexo fraudulento em Mianmar em 2023. No caso de Sara (nome fictício), que foi traficada da África do Sul para Mianmar, exigiram que ela ganhasse mais dinheiro ou seria enviada “para o segundo andar… onde enviam as mulheres para serem escravas do sexo”. 

Para escapar, as pessoas fazem com que os parentes paguem resgates enormes ou até enganam outras pessoas para que os substituam. Jalil acabou indo parar em um complexo porque um amigo que estava preso lá prometeu um emprego bem remunerado em armazenamento de dados e marketing online. 

Segundo relatos, os golpistas recebem manuais detalhados sobre como enganar as vítimas. Existe cartilha sobre criptomoeda e um guia sobre como evitar que contas falsas da mídia social sejam sinalizadas e removidas. Há sugestões de conversa sobre livros, música, jardinagem, futebol, e perguntas destinadas a ajudar a discernir a riqueza de um alvo potencial. 

Outras instruções incluem como estabelecer intimidade. Fazer elogios, espelhar o tom da pessoa, cumprimentá-la todas as manhãs e à noite quando vão dormir. O intuito é aprender sobre as vítimas e o que falta na vida delas. Qual é o vazio emocional que pode ser preenchido? As técnicas são “verdadeiras armas psicológicas” segundo a conselheira de saúde mental Cathy Wilson. 

Além do Sudeste Asiático, um número crescente de organizações vem sendo encontradas na África, Europa Oriental, Oriente Médio, na América do Sul e até mesmo numa ilha britânica, Ilha de Man (Isle of Man). 

Como se proteger? Principalmente, nunca envie dinheiro, negocie, nem invista com pessoas que você conheceu na internet ou jamais forneça seus dados bancários, números de documentos, cópias de documentos de identidade ou passaporte a pessoas online sem antes conhecê-las. 

A matéria tomou por base publicações do “The Economist” na série Scam Inc.


Florence Rei - formada em Química pela Oswaldo Cruz em São Paulo, graduada pela Faculdade de Medicina OSEC em Biologia e formada em Microscopia Eletrônica. Atualmente vive na Flórida (USA) e desde 2019 vem atuando como pesquisadora independente e escritora. contato: www.florencerei.com / email: florence@florencerei.com

 


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