Envelhecer é um processo que envolve múltiplos mecanismos intricados, que acabam por resultar na deterioração gradual das diversas funções do organismo. Embora a idade cronológica seja o principal fator de risco, é possível que indivíduos com a mesma idade sejam atingidos de formas diferentes pelo envelhecimento, tanto na aparência como no adoecimento. Alterações genéticas, ambientais, estilo de vida, estresse físico e psíquico contribuem para alterações celulares que favorecem o desenvolvimento de doenças.
A ciência tem estudado esse fenômeno intensamente
por razões óbvias e, nos últimos anos, várias maneiras para avaliar o
envelhecimento biológico têm sido desenvolvidas, numa tentativa de compreender
os mecanismos que aceleram ou retardam esse processo complexo.
Evidências recentes indicam que o sexo do indivíduo
e a ação dos hormônios reprodutivos podem influenciar o envelhecimento. As
mulheres estão sujeitas a mudanças físicas e psíquicas ao longo de suas vidas,
durante a menstruação e a gravidez, que produzem alterações hormonais e
metabólicas reversíveis, mas que podem afetar o envelhecimento.
Mulheres em condições sociais e econômicas
desfavoráveis, com múltiplas gestações em intervalos curtos de tempo, podem
sofrer efeitos mais duradouros do estresse de várias gravidezes seguidas, o que
resultaria no envelhecimento biológico.
A ocorrência da primeira menstruação antes dos 9
anos (menarca precoce), associada ao estresse e à dieta inadequada também podem
contribuir para o envelhecimento. A menopausa, por sua vez, pode acelerar o
desgaste do organismo, devido ao aumento do estresse oxidativo associado à
redução dos níveis do hormônio feminino (estrogênio). Esses fatores
reprodutivos femininos estão associados a vários marcadores de envelhecimento
biológico acelerado.
A remoção cirúrgica dos ovários antes da menopausa
acelera o envelhecimento e aumenta a ocorrência de doenças. O estrogênio também
pode interagir com o microbioma intestinal (conjunto de bactérias que habitam o
intestino), resultando em uma variedade de doenças que comprometem a
longevidade, tais como: obesidade, síndrome metabólica, infertilidade,
endometriose e câncer.
Novas pesquisas revelam que mulheres em menopausa
antes dos 40 anos têm maior risco de morte quando comparadas àquelas nas quais
a menopausa ocorre entre os 50 e 54 anos. Tais achados reforçam a importância
do estrogênio não só nos órgãos reprodutivos, mas também para o aparelho
cardiovascular, saúde óssea e funcionamento do sistema nervoso central, entre
outras funções. A boa notícia é que adotar um estilo de vida saudável pode
retardar o envelhecimento, reduzir a mortalidade prematura e promover a
longevidade.
Outra questão fundamental é envelhecimento
reprodutivo feminino, que ocorre de forma irreversível a partir dos 35 anos e é
tema frequente nos congressos e publicações científicas. Apesar de todo o
desenvolvimento tecnológico, não há como medir o tempo de vida fértil de uma
mulher, nem meios eficazes para prolongá-lo naturalmente. A maioria das
intervenções ainda se restringe aos estudos experimentais em modelos animais.
Por isso, a opção para quem deseja adiar a maternidade é o congelamento de
óvulos, que preferencialmente deve ser feito até os 35 anos para obtenção dos
melhores resultados.
Dessa forma, é possível concluir que saúde reprodutiva
feminina e longevidade caminham lado a lado. As mudanças hormonais associadas
ao envelhecimento, além de reduzir a fertilidade, podem trazer riscos à saúde
(como obesidade, doenças cardiovasculares e câncer), comprometendo a qualidade
de vida e a longevidade. Assim, é fundamental no cuidado à saúde das mulheres
reconhecer os limites biológicos da fertilidade feminina e o papel vital dos
hormônios femininos, educando a população e os profissionais de saúde para que
as escolhas reprodutivas sejam livres e esclarecidas, além de disponibilizar
acompanhamento médico especializado.
Dra. Márcia Mendonça Carneiro
- Professora titular do Departamento de Ginecologia Faculdade de Medicina da
UFMG. Diretora científica da Clínica Origen BH
Nenhum comentário:
Postar um comentário