segunda-feira, 6 de janeiro de 2025

Uso indiscriminado de medicamentos pode provocar bruxismo, dores crônicas na cervical e deterioramento dos dentes, aponta especialist



Por trás de muitos sorrisos, estão pessoas tomadas pelo estresse, pela depressão ou ansiedade. Muitas, dependentes de ansiolíticos, antidepressivos, antipsicóticos e psicoestimulantes para manter o equilíbrio emocional.

 

No entanto, o uso indiscriminado desses medicamentos tem preocupado os dentistas. Marcelo Kyrillos, cirurgião dentista da clínica Ateliê Oral, destaca que uso pode estar diretamente ligado ao aumento dos casos de bruxismo, transtorno que segundo a OMS afeta 30% da população mundial [no Brasil, pode chegar a 40%.] e é caracterizado pelo apertamento involuntário dos dentes durante o período do sono mais profundo (chamado REM).

 

Kyrillos explica que, além de danos como erosão dentária e mudanças irreversíveis na função mastigatória e na articulação temporomandibular (ATM), o bruxismo é um dos responsáveis por causar dores crônicas em toda a musculatura da face e da região cervical.

 

“Destaco aqui os psicoestimulantes, que têm sido usados muitas vezes sem prescrição médica, principalmente por executivos que fazem uso para aumentar o foco e a produtividade. O Venvanse, por exemplo, é um medicamento que estimula o sistema nervoso central, indicado para o tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH). No entanto, é usado ‘off label’ – com e sem receita médica – no ambiente corporativo, principalmente por quem trabalha no mercado financeiro”, frisa.


 

O que fazer

Segundo o especialista, a primeira decisão a ser tomada é evitar esse uso recreativo. Feito isso, caso a pessoa precise do medicamento, o recomendado é visitar o dentista e buscar uma alternativa como o uso de placas oclusais para evitar o ranger de dentes e minimizar o bruxismo.

 

Outro tratamento disponível, a depender do caso, é a liberação neurofacial no consultório odontológico. Tal liberação permite ao cérebro criar novas ligações que tirem a sobrecarga da musculatura da face e do pescoço, além de reprogramar a respiração nasal.

 

Esse foi o caso do executivo Raphael Soares (42), que tomou Venvanse durante alguns meses com objetivo de aumentar a concentração e a produtividade. “Comecei a ter aquela dor tensionada na cabeça e na cervical, boca seca, enxaqueca, e até dificuldade para abrir o maxilar, que chegava a estalar. Parei o medicamento e, após um ano de ter deixado o estimulante, iniciei o tratamento”, conta.

 

Kyrillos salienta que o processo é feito com o dentista por ser diretamente atrelado a um sistema chamado estomatognático, que está relacionado aos músculos da mastigação, às articulações temporomandibulares (ATMs), e a um dos principais nervos responsáveis pela sensação da face e pela função motora dos músculos da mastigação (o nervo ‘trigêmeo’), fundamental para a fala, a mastigação e a deglutição.

 

“Nada haverá efetividade se o paciente continuar tomando esses estimulantes de forma indiscriminada, sem orientação médica. Caso precise tomar, de fato, são necessários cuidados para que os medicamentos não tenham efeitos colaterais danosos e irreversíveis”, completa.


Nenhum comentário:

Postar um comentário