Especialistas da sociedade explicam como o vírus
age e por que ele é tão transmissível
O
norovírus ficou conhecido recentemente por ter sido o provável agente causador
do surto de gastroenterite no litoral paulista, no início do ano. De acordo com
especialistas da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina
Laboratorial (SBPC/ML), o vírus é transmitido via fecal-oral (em águas ou
alimentos contaminados) e causa quadros de vômito e diarreia nas pessoas
infectadas.
De
acordo com Carolina Lázari, médica infectologista e patologista clínica da
SBPC/ML, o norovírus tem características que o diferencia de outros agentes que
causam as gastroenterites. “Os vômitos, muito frequentes durante a fase aguda
da infecção, contêm o vírus e, no momento em que a pessoa vomita, formam-se
pequenas gotículas, aerossóis desse vômito, que o carregam. Assim, a
contaminação de superfícies e objetos ao redor é muito frequente. A outra
característica é que o inóculo, ou seja, a quantidade de vírus necessárias para
infectar uma pessoa, é muito pequena. Então, pode acontecer transmissão de
pessoa a pessoa, por exemplo, ao usarem o mesmo banheiro, compartilharem
objetos na mesma casa ou dormirem juntas”, explica.
Esse aspecto, segundo Lázari, é um dos fatores que facilita a propagação desse vírus. E como ele é altamente transmissível, acaba causando surtos principalmente em áreas litorâneas, onde há grande circulação de pessoas, agora no verão. Além disso, alimentos preparados e consumidos nas praias, dependendo das condições, podem ser muito suscetíveis a contaminação. Caso o local não tenha saneamento básico, o contato ao nadar no mar, por exemplo, pode contaminar a pessoa também. Isso quem afirma é Andre Doi, diretor científico da SBPC/ML.
Como é feito o diagnóstico do norovírus?
Segundo
os especialistas da SBPC/ML, o diagnóstico é feito por meio de exames de
pesquisa de antígenos (teste rápido) ou teste molecular (PCR) nas fezes. “Em
geral, o teste é solicitado para os pacientes imunossuprimidos e para aqueles
que têm uma repercussão maior no estado geral, que precisam de internação, de
hidratação endovenosa. Então, para esses é importante fazer o diagnóstico
diferencial, principalmente com outros vírus que causam gastroenterocolite,
como rotavírus, adenovírus, e com algumas bactérias, porque o quadro clínico
pode ser muito semelhante”, diz a infectologista.
No
entanto, o diretor clínico da SBPC/ML reitera da importância da testagem em
todos os pacientes para o rastreio da doença. “Apesar de que, para o tratamento
clínico, identificar o norovírus não pareça tão essencial, do ponto de vista
epidemiológico e controle de disseminação da doença, identificar o agente
causador das diarreias é fundamental. Sem o exame diagnóstico não é possível
identificar esse vírus”, ressalta.
De
acordo ainda com ele, o teste rápido é a opção mais acessível e barata, já o
PCR é mais sensível e específico para o diagnóstico da doença.
Tratamento e prevenção do norovírus
Carolina
Lázari esclarece que: “Não há um tratamento antiviral específico. O tratamento
é de suporte, focado na hidratação, que se não puder ser feita por via oral,
caso a pessoa esteja vomitando muito, precisa ser por via endovenosa. Se houver
repercussão no estado geral, febre, também, o uso de antipiréticos (medicamento
que reduz a febre)”.
As
pessoas com maior risco de evolução mais grave, conforme os especialistas, são
as crianças e os idosos, porque a desidratação pode ocorrer de forma mais
rápida e intensa, e pessoas imunocomprometidas (com doenças autoimunes e transplantadas,
por exemplo).
Para
se prevenir da doença, Andre Doi enumera algumas ações que a população pode
realizar como:
- Não ingerir água que possa estar contaminada (tomar cuidado também
com o gelo contaminado);
- Lavar bem as mãos e alimentos;
- Evitar contato com águas potencialmente impróprias para banho (mar,
lagoas, chuveiros de barracas de praia, etc.).
O
diretor científico da SBPC/ML ressalta ainda a importância do acesso à água de
qualidade. “É essencial medidas de saneamento básico, como acesso à água
potável tanto para beber como para lavar alimentos, escovar os dentes e tomar
banho. Tanto o paciente quanto as pessoas que cuidam dos pacientes devem lavar
bem as mãos após ir ao banheiro ou manipular as fezes do paciente”, finaliza.
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