quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Permanece a pressão inflacionária no setor supermercadista devido à alta dos produtos semielaborados

 

Divulgação: APAS

O Índice de Preços dos Supermercados (IPS), calculado pela APAS em parceria com a Fipe, registrou inflação de 1,69% em novembro de 2024, após alta de 0,88% observada no mês anterior. O resultado de novembro marca a terceira alta seguida no indicador.

 

No acumulado do ano, o índice registra aumento de 5,23%, enquanto no acumulado de 12 meses, a alta alcançou a marca de 6,50%, maior patamar desde junho de 2023. Ao comparar o resultado de novembro com o mesmo período do ano anterior, constata-se aceleração no indicador, passando de 0,74% em novembro de 2023 para 1,69% em novembro deste ano, puxado, principalmente pela alta dos produtos semielaborados e bebidas alcoólicas. 

Entre as categorias que influenciaram no comportamento do índice em novembro, os produtos semielaborados lideraram a alta (4,24%), seguidos por bebidas alcoólicas (2,23%), industrializados (1,26%), produtos in natura (1,20%) e bebidas não alcoólicas (0,67%). 

Por outro lado, os artigos de higiene e beleza e artigos de limpeza apresentaram redução moderada de preços no último mês, com variação de -0,2% e -0,14%, respectivamente.

 

 

Os preços dos alimentos nos supermercados paulistas, como aponta o IPS, subiram principalmente devido às mudanças climáticas, que causaram estiagens e queimadas, especialmente no Sudeste do Brasil. As queimadas recentes têm destruído áreas agrícolas importantes, como as do Norte, Centro-Oeste e interior de São Paulo, prejudicando ainda mais as colheitas locais. Além disso, a intensificação de fenômenos climáticos extremos, como secas e chuvas fortes, também tem afetado a produção mundial de alimentos, incluindo café, vinhos e azeites. Por isso, o aumento de 1,69% no IPS em novembro exige atenção constante.

 

Semielaborados

Os produtos da categoria de semielaborados registraram inflação de 4,24% em novembro, após alta de 2,56% observada no mês imediatamente anterior. No acumulado do ano, o grupo atingiu 14,44%, enquanto no acumulado de 12 meses registrou inflação de 15,46%. 

Entre as subcategorias analisadas no mês, a carne bovina registrou inflação de 10,69%, seguido por carne suína (8,42%) e aves (5,02%). 

Por outro lado, as subcategorias de leite (-1,96%), pescados (-0,59%) e cereais (-0,12%) apresentaram deflação.


  • Carnes bovinas

O preço da carne bovina ao consumidor final apresentou inflação de 10,69% em novembro, a maior taxa da série histórica desde dezembro de 2019. No acumulado de 12 meses também houve aumento significativo nos preços das carnes bovinas (16,96%). 

Dentro dessa subcategoria, houve o aumento generalizado dos preços em novembro, sendo que a maior alta ocorreu no braço (14,84%), seguido pela alcatra (13,66%), acém (13,36%), fígado (13,25%) e fraldinha (12,40%). 

A pressão inflacionária observada pode ser atribuída, em grande parte, à desvalorização do real, que estimulou as exportações de carne e reduziu a oferta no mercado interno. 

Ao mesmo tempo, o consumo doméstico também aumentou, impulsionado pelo aquecimento da economia brasileira, melhora nos níveis de emprego e maior demanda por carnes, especialmente em função das festividades de final de ano. 

Além disso, vale mencionar que o custo do boi permanece em alta. Na última semana de novembro, o indicador do boi gordo no estado de São Paulo atingiu R$ 355,07, segundo dados do CEPEA.
 

 
  • Carnes suínas

Em novembro de 2024, as carnes suínas registraram inflação de 8,42%, maior alta desde outubro de 2020. No acumulado dos ultimos 12 meses, a inflação desses produtos registrou 22,37%. 

Ao analisar a evolução dos preços dos itens que compõem a subcategoria, pernil com osso apresentou alta de 10,94% em novembro de 2024, enquanto no acumulado dos últimos 12 meses o índice chegou a 30,94%. 

O preço do lombo com osso registrou aumento de 9,27% em novembro, acumulando índice de 24,47% em 12 meses. 

No que se refere aos preços da costela suína, verificou-se aumento de 5,66% no mês de novembro e uma pressão inflacionária de 14,07% nos últimos 12 meses.
 

 

  • Aves

A subcategoria de aves registrou inflação de 5,02% no último mês, impulsionado pelo aumento sazonal do preço do peru (8,80%). O frango, por sua vez, registrou inflação de 4,88% em novembro.
 

A expectativa é que no próximo mês, a subcategoria continue registrando alta nos preços, principalmente, em decorrência das comemorações de final de ano.

  • Leite

A subcategoria de lácteos indicou deflação de 1,96% em novembro de 2024, mesmo movimento registrado pelo item leite longa vida, que possui o maior peso dentro da subcategoria.
 

O preço do leite Tipo B recuou 1,19% no mês, enquanto o leite especial registrou queda de 0,85%.
 

Por outro lado, no acumulado de 12 meses, a inflação de leite acumula alta de 21,13%, enquanto no acumulado do ano, o IPS observado é de 23,45%.
 

O aumento do preço do leite tanto no ano quanto em doze meses é reflexo, em grande medida, das alterações climáticas e do consequente efeito sobre as chuvas e os pastos. Além disso, os custos de produção, incluindo ração animal e logística, permaneceram elevados.
 

 

  • Cereais

Em novembro, a subcategoria de cereais registrou deflação de 0,12%, mantendo a tendência observada desde julho de 2024. Esse processo deflacionário está relacionado principalmente à queda no preço do feijão, que vem apresentando deflação desde abril de 2024. No caso do arroz, o preço ao consumidor final diminuiu 0,10% em novembro.
 

Por outro lado, o preço do milho registrou inflação de 1,02% em novembro, após um aumento de 0,68% no mês anterior.
 

No acumulado de 12 meses, os cereais registraram inflação de 10,85%, impulsionados principalmente pelo preço do arroz, que apresentou alta de 15,96%. O preço do feijão (+3,61%) apontou aumento bem mais moderado no mesmo período, enquanto o milho registrou deflação (-7,39%). 




Industrializados

Os produtos industrializados apresentaram inflação de 1,26% no mês de novembro. No acumulado de 12 meses, o índice apontou inflação de 5,37%, enquanto no acumulado do ano a alta foi de 4,53%.
 

Entre as subcategorias de produtos industrializados, os óleos tiveram a maior taxa de inflação (8,55%), seguidos por cafés, achocolatados em pó e chás (4,44%), adoçantes (3,31%) e panificados (1,37%).
 

Na sequência, os demais produtos a apresentarem inflação no mês de novembro na categoria de industrializados foram: derivados do leite (0,80%), enlatados e conservas (0,73%), condimentos e sopas (0,68%), biscoitos e salgadinhos (0,33%) e alimentos prontos (0,23%).
 

Por outro lado, alguns produtos apresentaram deflação, ainda que moderada: doces (-0,23%), seguidos por derivados de carne (-0,11%) e massas, farinhas e féculas doces (-0,07%).
 



  • Óleos

O preço dos óleos continua em alta, com elevação de 2,83% em outubro para 8,55% em novembro. No acumulado do ano, o índice apontou uma inflação de 19,15%.

A inflação dessa subcategoria está sendo influenciada, principalmente, pelos aumentos nos preços do óleo de soja (14,93%) e do azeite (0,48%). Vale ressaltar que no acumulado do ano esses mesmos produtos apresentaram taxas de inflação de 29,14% e 16,41%, respectivamente.

Esse aumento nos preços é decorrente da redução na oferta, causada principalmente por condições climáticas adversas nos países produtores, que comprometeram significativamente a colheita.

 

  • Cafés, achocolatados em pó e chás

A inflação da subcategoria de cafés, achocolatados em pó e chás aumentou de 1,42% em outubro para 4,44% em novembro, registrando no acumulado de 12 meses, a maior taxa de inflação entre os produtos industrializados (24,66%), além disso, o índice acumulado no ano também foi bastante expressivo (23,63%).

Ao analisar os itens que compõem essa subcategoria, a alta foi influenciada pelo "café em pó", que apresentou inflação de 5,71% em novembro de 2024, acumulando um aumento de 33,40% nos ultimos 12 meses.

O café solúvel (3,28%), os achocolatados em pó (1,43%) e o chá mate (0,26%), também mostraram aumento nos preços em novembro.

O aumento do preço do café ao consumidor final paulista não se deve, necessarimente, ao aumento da demanda doméstica, visto que a elasticidade da demanda desse produto é relativamente baixa.

Há basicamente três fatores que afetam o preço do café ao consumidor doméstico em 2024:

  1. Redução da oferta. A escassez de oferta causada, tanto no Vietnã quanto no Brasil, maior produtor mundial de robusta, é a principal razão para o aumento dos preços. Além disso, a alta nos preços dos grãos arábica (variedade de café premium) também exerce influência sobre a valorização do robusta. Conforme informações da CONAB, a expectativa é que a produção doméstica de café apresente queda de 0,5% das sacas colhidas.
     
  2. Aumento da cotação no mercado internacional. Com a redução da oferta do produção no mercado internacional, especialmente entre os produtores do sudoeste asiático, a commodity passou por um forte processo de apreciação no mercado internacional.
     
  3. Desvalorização cambial. Como o Brasil é um dos principais exportadores internacionais de café, a redução da oferta global produziu maior procura internacional do produto brasileiro. Por outro lado, a conjunção de valorização do produto no mercado internacional e desvalorização cambial gerou maior incentivo ao produtor interno direcionar sua produção ao mercado internacional, enquanto “ajustou” o preço doméstico ao preço internacional.  

 

In natura

Os produtos in natura, após a forte queda observada em julho (-9,32%) – menor nível registrado desde julho de 2018 –, vem apresentando aceleração de preços nos últimos meses. Em novembro, a categoria apresentou alta de 1,20%, contra 0,14% de outubro.

Comparando com o mesmo período de 2023, quando a categoria apurou inflação 6,84% o resultado do último mês, apesar da alta, indica comportamento mais moderado. No acumulado de 12 meses, o IPS desta categoria indica inflação de 2,91%. Já no acumulado do ano, os produtos dessa categoria registram deflação de -3,21%. 

O aumento dos preços da categoria em novembro foi impulsionado principalmente pela subcategoria verduras, que registrou inflação de 7,74%, revertendo a deflação de -2,01% observada no mês anterior. Os ovos também contribuíram, com alta de 2,06%, seguidos pelos tubérculos, que passaram de uma deflação de -6,27% para inflação de 1,76%, e pelas frutas, que aumentaram 0,68% frente a 1,44% no mês anterior. Em contrapartida, os legumes apresentaram deflação de -2,76%, em contraste com a inflação de 6,90% registrada em outubro. 

No acumulado de 12 meses, a inflação dos produtos in natura, de 2,91%, permanece abaixo do índice geral de 6,50%. Esse resultado é reflexo, por um lado, da alta do preço das frutas (13,60%), seguidas pelas verduras (3,11%) e pelos tubérculos (1,21%). Por outro lado, os legumes e ovos acumulam deflações de -9,67% e -7%, respectivamente.
 



  • Frutas

A subcategoria Frutas registrou inflação de 0,68% em novembro, acumulando alta de 10,01% no ano. Ao analisar a variação dos preços por produto no mês, o mamão se destacou com uma taxa inflacionária expressiva de 15,15%, seguidos pelos abacaxis, que registraram aumento de 7,67%. Em contrapartida, os menores índices foram observados no melão, com deflação de -7,19%, e na melancia, que apresentou queda de -4,70%. 

No acumulado de 12 meses, a inflação da subcategoria foi de 13,60%. Esse aumento foi impulsionado principalmente pelas laranjas, que apresentaram alta significativa de 88,04%, seguidas pelos limões (45,01%), maçãs (20,15%) e melões (14,55%). Por outro lado, as menores variações ficaram por conta das melancias, com deflação de -12,92%, e das peras, que registraram queda de -4,45%. 

A alta nos preços da laranja, em particular, está relacionada à redução aproximadamente de 7% da safra 2024/25 e à baixa produtividade nas regiões produtoras de São Paulo e Minas Gerais. Esses efeitos são resultado das mudanças climáticas, com períodos de estiagem prolongados ao longo do ano.

 

  • Bebidas

A subcategoria de bebidas não alcoólicas apresentou inflação de 0,67% em novembro, abaixo dos 0,96% registrados em outubro, indicando uma leve desaceleração no comparativo mensal. No acumulado de 12 meses, verificou-se uma pressão inflacionária, com o Índice de Preços do Setor (IPS) alcançando 8,02%, enquanto no acumulado do ano a taxa é de 6,40%.

Durante o mês analisado, todos os itens dessa subcategoria registraram inflação, exceto suco de frutas e água mineral, que apresentaram deflação de -0,30% e -0,26%, respectivamente. No acumulado em 12 meses, mantém-se a tendência inflacionária, destacando-se a bebida isotônica, que registrou a maior taxa, de 19,60%, entre os itens avaliados.

 

Artigos de limpeza

Em novembro, os preços dos artigos de limpeza registraram uma leve queda, com variação de -0,14%, revertendo a alta de 0,63% observada no mês anterior. No acumulado de 12 meses, o índice aponta deflação de -1,52%. Entre os itens analisados, as esponjas de aço apresentaram a maior redução mensal, com variação de -2,57%, enquanto as ceras destacaram-se com a maior alta da subcategoria, registrando 2,71% no período.

 

Produtos de higiene e beleza

Os produtos de higiene pessoal e beleza seguiram uma dinâmica semelhante à dos artigos de limpeza, com leve queda de -0,20% em novembro, após alta de 0,57% no mês anterior. No acumulado de 12 meses, a variação foi positiva, alcançando 0,65%, enquanto no acumulado do ano a taxa ficou em 0,86%. 

Dentro dessa subcategoria, os aparelhos de barbear apresentaram a maior redução em novembro, com uma taxa de -2,94%, enquanto o papel-alumínio registrou a maior alta, de 5,18%. No acumulado de 12 meses, o leve aumento observado foi impulsionado principalmente pelos protetores solares, que registraram aceleração nos preços, com variação de 12,89%, a maior entre os itens analisados.

 

Nota Metodológica

O Índice de Preços dos Supermercados tem como objetivo acompanhar as variações relativas de preços praticados no setor supermercadista ao longo do tempo. O Índice de Preços dos Supermercados é composto por 225 itens pesquisados mensalmente em 6 categorias: i) Semielaborados (Carnes Bovinas, Carnes Suínas, Aves, Pescados, Leite, Cereais); ii) Industrializados (Derivados do Leite, Derivados da Carne, Panificados, Café, Achocolatado em Pó e Chás, Adoçantes, Doces, Biscoitos e Salgadinhos, Óleos, Massas, Farinha e Féculas, Condimentos e Sopa, Enlatados e Conservas, Alimentos prontos,); iii) Produto In Natura (Frutas, Legumes, Tubérculos, Ovos, Verduras); iv) Bebidas (Bebidas Alcoólicas, Bebidas Não Alcoólicas); v) Artigos de Limpeza; vi) Artigos de Higiene e Beleza. Assim, o IPS se apresenta como instrumento útil aos empresários do setor na tomada de decisões com relação a preços e custos dos mais diversos produtos.

No que diz respeito à indústria, de maneira análoga, possibilita a tomada de decisão com relação a preços e custos dos produtos destinados aos supermercados. Ao mercado e aos consumidores é útil para a análise da variação de preços ao longo do tempo possibilitando o acompanhamento da evolução dos custos ao consumidor do setor supermercadista.
 

APAS –Associação Paulista de Supermercados



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