A Era Digital tem contribuido para a propagação de desinformação sobre os alimentos? Freepik |
A maior acessibilidade à informação durante a
Era Digital tem seus prós e contras devido à facilidade de propagação de
desinformação. Confira 3 mitos e 3 verdades sobre o popular "leite de
caixinha"
Ao
mesmo tempo que nos trazem um universo quase que infinito de informações e
conteúdos relevantes e construtivos, as redes sociais também são hoje a
principal fonte de desinformação no mundo moderno. Essa fato ganha contornos
ainda mais sérios se levarmos em conta os resultados de um estudo feito em
2023, pela Brazil Panels, uma das maiores agências de pesquisa de mercado no
país, em parceria com a Vasques Marketing Digital, que revelou que mais de 90%
da população brasileira considera as redes sociais fundamentais para o consumo
de informações e notícias. Já outro estudo, este feito em 2022 pelo Comitê
Gestor da Internet no Brasil, apontou que quase metade dos 149 milhões de
brasileiros não checam a veracidade das informações que recebem, pelas redes
sociais.
Quem
repassa uma notícia ou conteúdo sem se certificar de que as informações
correspondem à realidade, pode achar que o estrago é pequeno ao se divulgar nos
seus perfis digitais um “pequeno equívoco”. Mas não, uma informação errada
divulgada em larga escala pode gerar situações muito graves, especialmente
quando dizem respeito a medicamentos e alimentos. No campo da alimentação, o
leite, por exemplo, é uma das vítimas daquelas fake news que aparecem em nossas
timelines com cara de notícia séria ou como um alerta para ajudar.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) até o ano de 2023, o consumo de leite e seus derivados no Brasil era de 183 litros/habitante ao ano, acima da média mundial de 116 litros per capita/habitante ao ano. O dado demonstra a enorme relevância que tem o leite como uma das principais fontes de proteína do Brasileiro, e que por isso a desinformação sobre o produto pode sim trazer um impacto negativo a milhares de pessoas. Com base em informações fornecidas por uma das mais tradicionais marcas de leite e derivados do Brasil, a Marajoara, cuja fábrica está localizada em Hidrolândia (GO), esclarecemos a seguir três mitos e três verdades sobre o leite.
- Leite de caixinha tem agentes cancerígenos
MITO - O processo de envase
do leite longa vida, o “leite de caixinha”, é conhecido como UHT, uma
abreviação do termo em inglês ultra-high temperature, ou seja:
tratamento do leite com altas temperaturas. Esse procedimento é feito do
seguinte modo: o leite in natura é recolhido dos produtores
rurais e armazenado em tanques com isolamento térmico, revestido por chapas de
alumínio que conservam a temperatura do alimento.
Imediatamente
após a chegada na indústria, uma amostra de cada caminhão é submetida à testagem
de qualidade. Na fábrica da Marajoara, por exemplo, são realizadas 17 pesquisas
no período de duas horas. “O produto estando dentro dos padrões é descarregado
num tanque de resfriamento físico, e depois é encaminhado para a sala de
pasteurização. Só esse primeiro processo já elimina 85% das bactérias presentes
no leite, pelo menos aqueles que são nocivas, pois vale lembrar que o leite
possui bactérias naturais, como os lactobacilos e bifidobactérias, que fazem
bem à saúde”, esclarece Vinícius.
Após esse processo, o alimento é direcionado para a sala de esterilização, onde, por meio de um processo de injeção de vapor, são eliminados os outros 15% das bactérias que permaneceram após a pasteurização. Nessa etapa, uma tubulação de vapor quente que chega a 150° C realiza a esterilização do leite por choque térmico, e logo em seguida, uma tubulação com água gelada recupera a temperatura de 26°C a 27°C do produto. Na sala de esterilização também acontece a homogeneização do leite com a regulagem do seu nível de acidez. "O leite é um produto 100% natural, todos os processos de pasteurização e esterilização são feitos por meio de reações fisioquímicas do próprio leite, sem adição de qualquer conservante ou agente artificial que possa levar ao desenvolvimento de células cancerígenas", enfatiza Vinícius.
- Leite desnatado é leite integral com água
MITO - O leite desnatado ou
semidesnatado passam pelos mesmos processos de pasteurização e
esterilização e também pelas mesmas regras rigorosas de controle de qualidade e
sanitárias previstas em lei. De acordo com as explicações de Vinícius
Junqueira, gerente de marketing da Marajoara, o que diferencia esses dois tipos
de leite, do chamado leite integral, é a redução da quantidade de gordura.
“O
leite, em sua composição natural, já possui mais de 80% de água. Entre 12% e
13% de sua composição é de elementos sólidos como lipídios (gordura),
carboidratos, proteínas, sais minerais e vitaminas. Portanto, o leite desnatado
ou semidesnatado, nada mais é do que um leite um percentual de gordura bem
menor do que o leite chamado integral, e não um leite que recebe água”, explica
Vinícius.
Essa redução do teor de gordura acontece na sala de pasteurização, em que o leite passa pela centrífuga. Nesse maquinário acontece a regulagem do teor de lipídios, definindo se o leite será integral, semidesnatado ou desnatado. “A redução desse teor de gordura não afeta em nada o nível de nutrientes, que são a vitaminas, proteínas e sais minerais, o que é reduzido de fato é só a gordura do leite”, enfatiza o gerente de Marketing.
- É necessário ferver o leite de caixinha antes de consumir
MITO - Após a esterilização,
homogeneização e envase em embalagem asséptica, hermética e sem contato com a
luz, o leite está pronto para o consumo humano, sem a necessidade de
ferver.
Vinícius
Junqueira, da Marajoara, destaca ainda que o uso do processo UHT e das
embalagens longa vida representaram uma revolução em termos de segurança
alimentar para o leite. Ele lembra que é graças a esse processo e ao uso de
embalagens modernas que é possível a conservação do leite (lacrado na caixa)
durar por 4 meses.
“Nesse processo de esterilização conseguimos eliminar 99,9% das bactérias, por isso não é necessário ferver o leite antes do consumo. Isso trouxe uma alta sustentabilidade para a cadeia produtiva do leite, pois foi possível transportar o produtor para distâncias bem maiores e com isso chegar a muito mais pessoas, e com a mesma qualidade. O leite UHT só será contaminado depois que a embalagem for aberta. Por isso há o aviso nas embalagens de que o produto, após aberto, deve ser conservado na geladeira e consumido em no máximo entre dois e três dias”, diz Vinícius.
- Alergia é diferente de intolerância à lactose
VERDADE - A alergia é uma
reação do sistema imunológico da pessoa a determinados alimentos ou alguns de
seus componentes. Para algumas pessoas o leite pode ser um deles alimentos
alérgicos, e nessa situação o seu consumo deve ser totalmente restringido. Vale
lembrar que os sintomas de alergia costumam ser bem mais intensos e graves do
que a intolerância alimentar, que em geral se restringem a um desconforto
intestinal.
No
caso da intolerância à lactose, trata-se, não de uma alergia, mas sim uma
dificuldade maior de digerir esse açúcar existente no leite. Essa é uma reação
que pode ou não ocorrer e varia de pessoa para para pessoa e pode ocorrer que
intolerância, inclusive, não se manifeste numa determinada fase de vida, mas
ocorra em outro momento. Isso ocorre porque há uma deficiência do organismo na
produção da enzima lactase, responsável por sua digestão.
Porém, hoje em dia, além de medicamentos que auxiliam na produção na digestão da lactose, a moderna indústria da alimentação já fabrica em larga o leite e derivados livres de lactose. “O chamado leite zero lactose nada mais é do que um leite no qual é acrescido a lactase, enzima que tem a função de justamente de quebrar esse açúcar do leite, chamado lactose, antes que o leite seja envasado. Esse processo simplesmente facilita a digestão do leite e não afeta nenhuma de suas propriedades nutricionais”, salienta Vinícius.
- Nossa capacidade de digerir a lactose muda quando ficamos um tempo sem tomar leite
VERDADE - A lactose é digerida
facilmente quando o organismo tem a enzima lactase. Porém, quando ficamos
longos períodos (meses ou anos) sem consumir leite, o nosso corpo entende que
não é preciso mais produzir essa enzima. Se voltamos a consumir o leite, há
então um período de readaptação, que pode sim traduzir em algum desconforto
intestinal, um sintoma típico da intolerância à lactose, conforme explica a
nutricionista Yumi Kuramoto, que atende no centro clínico Órion Complex, em
Goiânia,.
Ela,
inclusive, explica qual o papel que o leite ocupa no nosso esquema alimentar e
na busca por nutrientes essenciais à vida. “O leite tem um papel
importantíssimo na nossa rotina porque ele é nossa principal fonte de cálcio,
além de ser rico em minerais, vitaminas, proteínas e lipídios. Ele deve ser
consumido corretamente e regularmente, independentemente da faixa etária que a
pessoa está”, orienta a nutricionista.
Considerando isso, a interrupção do consumo desse alimento incentivada por qualquer desinformação pode causar prejuízos à saúde. “Com muito tempo consumindo alimentos sem lactose, a pessoa sem intolerância a esse carboidrato abundante no leite deixa de produzir a enzima lactase, responsável pela catalização da lactose, e pode desenvolver a intolerância que antes não tinha”, explica Yumi.
- Tomar leite depois de praticar exercícios físicos é uma boa opção
VERDADE - Um estudo realizado
na Inglaterra pela Universidade de Newcastle e publicado no Medicine
and Science in Sports and Exercise revelou como positiva a
eficiência do leite para ser consumido como pós-treino. É recomendada sua
ingestão nos primeiros 30 minutos após o final da atividade. Outro artigo
publicado no European Jornal of Sport Science revelou que a ingestão de
leite após a prática de exercícios também tem tido grande influência na redução
do consumo de energia e, consequentemente, promovido mudanças mais favoráveis à
composição corporal.
A
mistura de proteína, carboidrato, água e micronutrientes presentes no leite
tornam a bebida um isotônico para o pós exercício, visto que ele aumenta a
síntese proteica muscular após as atividades, reidrata e contribui para a
ressíntese do glicogênio e ameniza dores e perdas de funções musculares.
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