Segundo o ANTRA, estima-se que o país
tenha mais de 4 milhões de pessoas transgêneroFreepik
Durante o mês de outubro, marcado pela campanha do Outubro
Rosa, a importância da conscientização sobre a prevenção ao câncer
de mama ganha destaque. Contudo, é fundamental ampliar essa discussão,
considerando populações vulneráveis, como a comunidade transgênero, que requer
um olhar especial no manejo de suas necessidades de saúde.
No Brasil, a população trans enfrenta desafios diários, inclusive
no acesso à saúde. Segundo dados da Associação Nacional de Travestis e
Transexuais (ANTRA), estima-se que o país tenha mais de 4 milhões de pessoas
transgênero. Entretanto, muitas delas são negligenciadas no atendimento médico
adequado, especialmente no que se diz ao cuidado preventivo de doenças como o
câncer.
Além disso, o país lidera as estatísticas globais de violência
contra pessoas trans, o que acentua ainda mais a necessidade de políticas
públicas inclusivas. No contexto da prevenção de cânceres, essa população
requer uma atenção especial, dadas as particularidades relacionadas às terapias
hormonais e cirurgias de transição.
O Dr. Thiago Assunção, oncologista do Instituto
Paulista de Câncer (IPC), reforça a necessidade
de atenção diferenciada para pessoas trans na prevenção e rastreamento de
diversos tipos de cânceres, como o de mama e de próstata.
"As terapias hormonais e cirurgias de transição de gênero são
frequentemente utilizadas pela população trans, o que requer um cuidado
redobrado dos profissionais de saúde, visto que essas intervenções podem
alterar o risco de desenvolvimento de certos tipos de câncer", alerta o
Dr. Thiago. Ele destaca que, em muitos casos, as cirurgias de masculinização
(como a mastectomia) não removem completamente o tecido mamário, mantendo o
risco de câncer de mama nos homens trans.
Diretrizes
para rastreamento e prevenção
Baseado nos dados do Instituto de Medicina da Universidade Johns
Hopkins e do Colégio Americano de Ginecologia e Obstetrícia (ACOG), o
Dr. Thiago ressalta que tanto homens quanto mulheres transgêneros devem seguir
protocolos de rastreamento oncológico adaptados a suas particularidades
biológicas e histórico de saúde familiar.
Homens
transgêneros
- Para aqueles que passaram pela mastectomia, mas não removeram
completamente a glândula mamária, recomenda-se o rastreamento regular do
câncer de mama com exames clínicos anuais e ultrassonografia mamária.
- Homens trans sem terapias hormonais devem seguir as recomendações
de rastreamento conforme as mulheres cisgênero, com especial atenção para
mutações genéticas no BRCA1 e BRCA2.
Mulheres
transgêneros
- Mulheres trans em uso de terapia hormonal feminilizante ou que
apresentem mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 devem ter o
rastreamento individualizado de acordo com os fatores de risco e histórico
familiar.
- O câncer de próstata também deve ser considerado, uma vez
que, mesmo após cirurgias de redesignação, a glândula prostática
permanece. A recomendação é realizar exames de PSA
e toque retal a partir dos 50 anos, ou antes, caso haja histórico familiar
positivo para essa neoplasia.
Inclusão
e acolhimento
Dr. Thiago reforça a importância de capacitar as equipes
multidisciplinares de saúde para que acolham adequadamente os pacientes
transgêneros. "É essencial que os profissionais de saúde estejam bem
informados e preparados para abordar as dúvidas e angústias dessa população. Infelizmente,
muitas vezes esses indivíduos são negligenciados ou até mesmo evitam o
atendimento por receio de constrangimento", destaca o oncologista.
A criação de políticas públicas e centros de saúde especializados
voltados para a comunidade trans deve ser incentivada. "Garantir o acesso
à saúde de qualidade e ao rastreamento oncológico adequado é um passo
fundamental para assegurar que essa população não seja invisibilizada,
sobretudo em campanhas tão importantes quanto o Outubro Rosa", finaliza o
Dr. Thiago Assunção.
O cuidado com a saúde da população transgênero requer uma
abordagem individualizada e sensível às suas necessidades específicas. No
contexto do Outubro Rosa, é fundamental garantir que todos os grupos
vulneráveis, incluindo as pessoas trans, recebam a atenção adequada para a
prevenção e tratamento do câncer.
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