quinta-feira, 31 de outubro de 2024

Morte do lutador Maguila expõe perigos da encefalopatia traumática crônica

Neurologista do CEJAM explica o que é a demência popular entre atletas e destaca formas de prevenção da doença

 

A morte do boxeador José Adilson Rodrigues dos Santos (66), popularmente conhecido como Maguila, na última quinta-feira (24), impactou milhares de fãs. O atleta, considerado um dos maiores de sua modalidade, sofria de encefalopatia traumática crônica, também chamada de demência pugilística ou síndrome de “punch drunk".

A doença neurodegenerativa ocorre frequentemente em atletas expostos a repetidos impactos na cabeça. Os esportistas mais afetados por essa condição costumam ser os pugilistas, seguidos pelos praticantes de MMA, futebol americano, boxe chinês, muay thai e outras atividades que possam provocar microtraumas no crânio.

"Na população em geral, outros tipos de demência são mais comuns. Por isso, esse diagnóstico pode ser confundido com a doença de Alzheimer, mas são quadros totalmente diferentes. Sabemos que a encefalopatia traumática crônica é causada por traumas e golpes que afetam o encéfalo, enquanto a causa do Alzheimer ainda é desconhecida, tendendo a ter um perfil mais genético”, afirma a Dra. Márcia Rodrigues, neurologista do CEJAM – Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.

Com traumas repetidos na região da cabeça, podem ocorrer microsangramentos, dificuldade das células em respirar (hipóxia) e lesões estruturais nos neurônios. Esses fatores acabam provocando a liberação de substâncias tóxicas para as células cerebrais, desencadeando uma resposta inflamatória no indivíduo.

O declínio cognitivo pode resultar em sintomas parecidos com a doença de Parkinson, além de alterações cerebelares, comportamentais e motoras, semelhantes aos do Alzheimer. “Os sintomas mais comuns incluem alteração de memória, mudanças comportamentais, agressividade e o ‘desaprendizado’ de funções, como reconhecer pessoas, interagir com o ambiente, falar e nomear objetos, entre outros”, relata.

A neurologista explica que os sintomas podem se tornar mais evidentes ao longo do tempo. Normalmente, esse processo coincide com a perda natural de neurônios, que ocorre à medida que envelhecemos. No entanto, nada impede que os sinais apareçam antes e de forma mais grave se, por exemplo, a pessoa já sofrer com comorbidades como hipertensão arterial, diabetes, dislipidemias ou vícios como tabagismo e alcoolismo.

O diagnóstico costuma ser feito com base no histórico do paciente e com o exame físico solicitado por um neurologista. Os exames complementares recomendados para confirmação do quadro ainda incluem avaliação neuropsicológica para identificar alterações cognitivas, tomografia computadorizada e ressonância magnética.

“O tratamento é semelhante ao aplicado em casos de outras demências, com o uso de medicação específica, geralmente prescrita por um neurologista; e medicamentos para alterações comportamentais, prescritas por um psiquiatra, além de suporte clínico regular”, ressalta.

A especialista destaca que a encefalopatia traumática crônica não tem cura e requer cuidados multidisciplinares como fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, apoio psicológico, e, sobretudo, suporte familiar.


Afinal, é possível prevenir a encefalopatia traumática crônica?

Dra. Márcia responde que depende muito, mas ressalta a importância da prevenção de traumas no crânio, seja por meio do uso adequado de equipamentos de proteção em esportes de contato, ou evitando situações de risco no dia a dia.

“Embora não possamos garantir a prevenção total, essas medidas certamente podem reduzir o risco e ajudar a manter a saúde cerebral.”

Além disso, é fundamental evitar hábitos como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e um estilo de vida desequilibrado que possa levar ao aumento do colesterol, diabetes e hipertensão. “Outra ação útil é encontrar maneiras de aliviar o estresse cotidiano”, finaliza. 




CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial



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