Neurologista do
CEJAM explica o que é a demência popular entre atletas e destaca formas de
prevenção da doença
A morte do boxeador José Adilson Rodrigues dos
Santos (66), popularmente conhecido como Maguila, na última quinta-feira (24),
impactou milhares de fãs. O atleta, considerado um dos maiores de sua
modalidade, sofria de encefalopatia traumática crônica, também chamada de
demência pugilística ou síndrome de “punch drunk".
A doença neurodegenerativa ocorre frequentemente em
atletas expostos a repetidos impactos na cabeça. Os esportistas mais afetados
por essa condição costumam ser os pugilistas, seguidos pelos praticantes de
MMA, futebol americano, boxe chinês, muay thai e outras atividades que possam
provocar microtraumas no crânio.
"Na população em geral, outros tipos de
demência são mais comuns. Por isso, esse diagnóstico pode ser confundido com a
doença de Alzheimer, mas são quadros totalmente diferentes. Sabemos que a
encefalopatia traumática crônica é causada por traumas e golpes que afetam o
encéfalo, enquanto a causa do Alzheimer ainda é desconhecida, tendendo a ter um
perfil mais genético”, afirma a Dra. Márcia Rodrigues, neurologista do CEJAM –
Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”.
Com traumas repetidos na região da cabeça, podem
ocorrer microsangramentos, dificuldade das células em respirar (hipóxia) e
lesões estruturais nos neurônios. Esses fatores acabam provocando a liberação
de substâncias tóxicas para as células cerebrais, desencadeando uma resposta
inflamatória no indivíduo.
O declínio cognitivo pode resultar em sintomas
parecidos com a doença de Parkinson, além de alterações cerebelares,
comportamentais e motoras, semelhantes aos do Alzheimer. “Os sintomas mais
comuns incluem alteração de memória, mudanças comportamentais, agressividade e
o ‘desaprendizado’ de funções, como reconhecer pessoas, interagir com o
ambiente, falar e nomear objetos, entre outros”, relata.
A neurologista explica que os sintomas podem se
tornar mais evidentes ao longo do tempo. Normalmente, esse processo coincide
com a perda natural de neurônios, que ocorre à medida que envelhecemos. No
entanto, nada impede que os sinais apareçam antes e de forma mais grave se, por
exemplo, a pessoa já sofrer com comorbidades como hipertensão arterial,
diabetes, dislipidemias ou vícios como tabagismo e alcoolismo.
O diagnóstico costuma ser feito com base no
histórico do paciente e com o exame físico solicitado por um neurologista. Os
exames complementares recomendados para confirmação do quadro ainda incluem
avaliação neuropsicológica para identificar alterações cognitivas, tomografia
computadorizada e ressonância magnética.
“O tratamento é semelhante ao aplicado em casos de
outras demências, com o uso de medicação específica, geralmente prescrita por
um neurologista; e medicamentos para alterações comportamentais, prescritas por
um psiquiatra, além de suporte clínico regular”, ressalta.
A especialista destaca que a encefalopatia
traumática crônica não tem cura e requer cuidados multidisciplinares como
fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional, apoio psicológico, e,
sobretudo, suporte familiar.
Afinal, é possível prevenir a
encefalopatia traumática crônica?
Dra. Márcia responde que depende muito, mas
ressalta a importância da prevenção de traumas no crânio, seja por meio do uso
adequado de equipamentos de proteção em esportes de contato, ou evitando
situações de risco no dia a dia.
“Embora não possamos garantir a prevenção total,
essas medidas certamente podem reduzir o risco e ajudar a manter a saúde
cerebral.”
Além disso, é fundamental evitar hábitos como tabagismo, alcoolismo, sedentarismo e um estilo de vida desequilibrado que possa levar ao aumento do colesterol, diabetes e hipertensão. “Outra ação útil é encontrar maneiras de aliviar o estresse cotidiano”, finaliza.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial
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