sexta-feira, 27 de setembro de 2024

Educação: transformação digital é a chave para o desafio, ou é o próprio desafio?

Se partirmos da premissa de que temos no Brasil 55 mil professores sem qualquer experiência no ensino a distância, já seremos induzidos a responder que é o próprio desafio. Somado a isso, temos que considerar o fato de que todo esse contingente docente, ao adentrar no espaço tecnológico, naturalmente, e por não ter sido formado para esse universo, será induzido a repetir o tradicional modelo de aula presencial, ou seja, expositiva, sem medida ponderada de atividades. Afinal, cada disciplina é a mais importante e o profissional não se formaria sem aquele pré-requisito. E, o mais trágico, o relógio sempre precisa andar e a carga horária prevista da matéria a ser cumprida em hora-aula. Desa forma, já nos será irrefutável que a transformação digital é o próprio desafio. Isso porque o principal ator do processo de ensino e aprendizagem não foi envolvido: o aluno. Ele, por sua vez, não foi convidado, envolvido ou despertado à interação.

Logo, essa transformação está bem aquém apenas da tecnologia. Em primeiro lugar, ela passa por um novo mindset, ou seja, uma mudança na forma de entender a sala de aula, percebendo que o papel do professor não é mais o de conteudista, mas de orientador, e não de protagonista dessa relação. Depois vem o domínio de metodologias ativas de aprendizagem, o desprendimento das velhas aulas expositivas e da falsa sensação de que uma orientação para ação não é eficaz para o estudante, que ele não será capaz de resolver sozinho uma situação problema, de que a experiência e a bagagem que ele traz consigo não servem de nada para a escola. Precisamos, aliás, formar mais estudantes e menos alunos, tirá-los da condição apática acadêmica e torná-los seres ativos, donos de seus próprios destinos, protagonistas de suas vidas.

Alguma novidade nesse cenário? Entendo que não, e se olharmos a história da filosofia, Sócrates já o fez sem internet, smartphones, microchips, tablets ou computadores. Se tivéssemos entendido o ser humano em construção lá atrás sinalizado e não tivéssemos nos rendido ao ímpeto de enclausurar nossos estudantes em verdadeiras caixas acadêmico-eclesiásticas, talvez a tecnologia, hoje, fosse apenas mais um meio para, de fato, formarmos seres pensantes. Consideremos, pois, que sábio é aquele que conhece os limites da própria ignorância. Ademais, uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.

 

Ludovico Omar Bernardi - Doutor em Letras pela Universidade Estadual de Maringá (UEM), mestre em Engenharia de Produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), especialista em Didática e Metodologia do Ensino Superior pela Universidade Norte do Paraná (UNOPAR), graduado em Letras pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná (UNIOESTE) e em Publicidade & Propaganda pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e graduando em Engenharia da Computação pela Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP). Atualmente é diretor acadêmico do Grupo MoveEdu, detentor das marcas Microlins, Prepara Cursos e Ensina Mais Turma da Mônica, respondendo pelas graduações, pelos ursos técnicos e Educação de Jovens e Adultos (EJA).


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