Se partirmos da premissa de que temos no Brasil 55 mil professores sem qualquer experiência no ensino a distância, já seremos induzidos a responder que é o próprio desafio. Somado a isso, temos que considerar o fato de que todo esse contingente docente, ao adentrar no espaço tecnológico, naturalmente, e por não ter sido formado para esse universo, será induzido a repetir o tradicional modelo de aula presencial, ou seja, expositiva, sem medida ponderada de atividades. Afinal, cada disciplina é a mais importante e o profissional não se formaria sem aquele pré-requisito. E, o mais trágico, o relógio sempre precisa andar e a carga horária prevista da matéria a ser cumprida em hora-aula. Desa forma, já nos será irrefutável que a transformação digital é o próprio desafio. Isso porque o principal ator do processo de ensino e aprendizagem não foi envolvido: o aluno. Ele, por sua vez, não foi convidado, envolvido ou despertado à interação.
Logo, essa
transformação está bem aquém apenas da tecnologia. Em primeiro lugar, ela passa
por um novo mindset, ou seja, uma mudança na forma de entender a sala de aula,
percebendo que o papel do professor não é mais o de conteudista, mas de
orientador, e não de protagonista dessa relação. Depois vem o domínio de
metodologias ativas de aprendizagem, o desprendimento das velhas aulas
expositivas e da falsa sensação de que uma orientação para ação não é eficaz
para o estudante, que ele não será capaz de resolver sozinho uma situação
problema, de que a experiência e a bagagem que ele traz consigo não servem de
nada para a escola. Precisamos, aliás, formar mais estudantes e menos alunos,
tirá-los da condição apática acadêmica e torná-los seres ativos, donos de seus
próprios destinos, protagonistas de suas vidas.
Alguma
novidade nesse cenário? Entendo que não, e se olharmos a história da filosofia,
Sócrates já o fez sem internet, smartphones, microchips, tablets ou
computadores. Se tivéssemos entendido o ser humano em construção lá atrás
sinalizado e não tivéssemos nos rendido ao ímpeto de enclausurar nossos
estudantes em verdadeiras caixas acadêmico-eclesiásticas, talvez a tecnologia,
hoje, fosse apenas mais um meio para, de fato, formarmos seres pensantes.
Consideremos, pois, que sábio é aquele que conhece os limites da própria
ignorância. Ademais, uma vida sem desafios não vale a pena ser vivida.
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