sábado, 28 de setembro de 2024

Depressão no idoso: causas psicológicas e orgânicas potencializam o quadro

Para psiquiatra, além do tratamento medicamentoso, é preciso que a família tome medidas de suporte ao idoso, sempre respeitando sua autonomia e história 

 

Segundo o IBGE, em 2019, antes da pandemia, 13% dos idosos sofriam com depressão. Mas, apesar de não existirem números atualizados desse instituto, estima-se que o período da pandemia causou um aumento expressivo de casos de depressão nesse público. Um estudo* publicado na plataforma Scielo, realizado com 411 idosos da cidade de São Paulo, mostrou que a prevalência de sintomas depressivos na população idosa foi de 39,7%. Houve predomínio do sexo feminino, daqueles com idade entre 60 e 69 anos, com companheiro, estudo superior e sem alteração da renda. 

Para o psiquiatra Pérsio de Deus, que tem 40 anos de experiência no tratamento dos mais variados distúrbios psíquicos, como depressão e ansiedade, a depressão no idoso acontece por causas psicológicas e orgânicas. “É difícil ter perdas, como a de autonomia, de força, performance, energia, aquelas ligadas à autoimagem e a tudo o que dificulta o processo de envelhecimento. Também existe a ‘perda de função’, porque antes a pessoa era uma profissional e, agora, pode estar aposentada; as perdas de amigos e familiares, que falecem ou se afastam... Essas causas psicológicas podem trazer a depressão. Por outro lado, as perdas orgânicas, como a piora da memória, cognição (muitas vezes pela perda de microcirculação cerebral), desempenho, mobilidade (ligada à musculatura e ao equilíbrio) e autonomia são fatores preponderantes para que quadros depressivos também se instalem na velhice”, enfatiza o médico.

O julgamento de terceiros sobre a possível perda de capacidade de quem está envelhecendo também potencializa o quadro. “É comum encontrar pessoas que acreditam que o idoso ‘não dá mais conta de si’, ‘está desatualizado’, e fazem questão de deixar isso claro. Essa situação prejudica o estado do paciente, porque ele acredita já não ser quem era”, adverte.

Outra condição que causa depressão no idoso é a trazida pela dificuldade financeira. “É na velhice que se têm muitos gastos com a saúde e a maioria dos idosos não possui uma rede de apoio familiar. Unindo muitos dos fatores citados, fica fácil entender por que existe a depressão em idosos”, diz o especialista.


Tratamentos

Tratar a depressão no idoso nos primeiros sintomas é a melhor forma de garantir que o quadro não se complique. Dr. Pérsio de Deus afirma que existem tratamentos medicamentosos que ‘fortalecem os neurônios’, como os nootrópicos; medicações para a melhora da microcirculação cerebral e, também, medicações pré-demenciais. “Paralelamente, indicamos exercícios físicos permitidos conforme a condição física do idoso, jogos de tabuleiro e atividades que potencializem a memória e, sempre, novos aprendizados. A vida continua e precisa ser prazerosa”.

O tratamento de doenças paralelas também não pode ser negligenciado. “Diabetes, hipertensão e outras patologias devem ser tratadas para que o idoso se sinta bem e tenha motivação, consiga buscar novos estímulos na vida. Se ele não tiver atividades, não haverá medicação eficiente”, considera.

Em relação às famílias, Dr. Pérsio aconselha a tratar o idoso de maneira respeitosa e não infantilizada, sempre dentro das condições atuais de suas capacidades. “É preciso se lembrar que aquela pessoa é um adulto e, se ela não tiver demência ou perdas cognitivas, pode tomar decisões sobre a própria vida. A autonomia precisa ser respeitada ao máximo e o apoio para superar a depressão deve vir em forma de sustento emocional (e financeiro, se necessário), atenção e cuidados, mas, acima de tudo, respeito pela história de vida daquele ser humano”, finaliza.

* Estudo disponível em: https://www.scielo.br/j/rbgg/a/ZC5DfmzCw6KMsWs3g3C3HNQ/

  

Dr. Pérsio de Deus – psiquiatra. Formado em Medicina pela Unifesp –Universidade Federal de São Paulo, com Residência Médica em Psiquiatria e título de Especialista em Psiquiatria pela APM – Associação Paulista de Medicina, Mestrado pela Universidade Mackenzie e Pós-Graduação em Neurociências na PUC – Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, o Dr. Pérsio de Deus tem 40 anos de experiência no tratamento dos mais variados distúrbios psíquicos, como depressão, ansiedade e dependência química. Até 2023, atuou no serviço médico do Instituto Presbiteriano Mackenzie, atendendo funcionários e alunos com foco na prevenção ao suicídio e inclusão. Paralelamente, consolidou sua clínica ao tratar pacientes com as mais variadas patologias com abordagem humanizada e atendimento contínuo. Foi Diretor-técnico de Saúde do Hospital da Água Funda, onde criou e dirigiu o PAD – Programa de Álcool e Drogas. Também foi Diretor-médico do CAIMS IV (Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental), na Água Funda, capital paulista; Coordenador da Divisão de Prevenção e Educação (Dipe) do Departamento Estadual de Investigações sobre Entorpecentes (Denarc). Dr. Pérsio de Deus também é palestrante e autor dos livros Psicologia Social da Conversão Religiosa (Editora Reflexão, 2013) e Eclipse da Alma (Fonte Editorial, 2010).


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