Psicólogo da Telavita traz recomendações para normalizar discussões sobre o tema e implementar políticas de conscientização
Os benefícios dos exercícios físicos para a saúde mental e o bem-estar são amplamente reconhecidos. Atividades físicas regulares são associadas à redução do estresse, ansiedade e depressão, além de promoverem a autoestima e a sensação de bem-estar. No entanto, atletas, especialmente aqueles em competições de alto nível como as Olimpíadas, frequentemente enfrentam desafios significativos em relação à sua saúde mental.
Algumas histórias de atletas olímpicos que sofreram com depressão ou outros problemas de saúde mental já são de conhecimento público. Michael Phelps, o nadador mais condecorado da história olímpica, falou abertamente sobre suas batalhas com a depressão e ansiedade. Simone Biles, uma das maiores ginastas de todos os tempos, retirou-se de várias competições nos Jogos Olímpicos de 2020 para focar em sua saúde mental. Naomi Osaka, uma das principais tenistas do mundo, também compartilhou sua luta contra a depressão e a ansiedade social.
Uma pesquisa recente realizada pela Universidade de Campinas (Unicamp) investigou as doenças mentais provocadas pela alta pressão e a rotina intensa de treinos. O estudo, que envolveu 148 atletas e 106 treinadores brasileiros, revelou dados alarmantes: 30% dos participantes apresentam sintomas leves e moderados de depressão, 24% já pensaram em cometer suicídio, 14% sofreram abuso, 8% tomam remédios para dormir e 6% tentaram se matar.
Para o psicólogo da Telavita, Kleber Kaplar, os atletas enfrentam enormes pressões durante as Olimpíadas, uma competição para a qual se prepararam por anos e que muitos têm apenas uma chance na vida de participar. “Utilizar essa pressão de forma positiva, transformando-a em motivação ao invés de um fator inibidor, é um dos maiores desafios. A percepção do evento é o que determina seu potencial estressor, não o evento em si. Os atletas estão realizando o sonho de uma vida, mas a ansiedade sobre a performance e a alta expectativa podem levar a um desequilíbrio psicológico”, diz o especialista.
Falar sobre saúde mental ajuda a desmistificar estereótipos de perfeição, principalmente, quando envolve o público masculino, que ainda tem um grande tabu com o tema. Entre as referências, Filipe Toledo retornou ao mundo do surfe para competir nos Jogos Olímpicos de Paris 2024, o surfista deu uma pausa de seis meses em sua carreira para cuidar da saúde mental. Em 2022, Gabriel Medina ficou cinco meses fora do circuito de surf para tratar uma depressão. Já Richarlison, atacante da seleção brasileira tornou público seu período de depressão após a Copa do Mundo e ressaltou a importância da psicóloga esportiva em seu tratamento.
“Nos últimos anos, a percepção
sobre saúde mental entre atletas e treinadores mudou significativamente.
Testemunhos de atletas e maior cobertura da mídia têm impulsionado essa
mudança, normalizando a discussão sobre o tema. É crucial implementar políticas
abrangentes, recursos adequados, educação contínua e uma cultura de aceitação e
apoio para melhorar a saúde mental dos atletas. Organizações esportivas devem
desenvolver políticas e programas de saúde mental, criar uma cultura de apoio e
garantir acesso a serviços de aconselhamento e terapia para todos os atletas.
Afinal, esses atletas acabam sendo referências e exemplos para muitas pessoas”,
finaliza Kaplar.
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