quinta-feira, 16 de maio de 2024

Especialista analisa o impacto dos extremos climáticos e aponta ações para mitigar os efeitos

Professora da Universidade Federal de Santa Catarina alerta sobre a necessidade de fortalecer a infraestrutura do país frente às mudanças climáticas 

O estado de calamidade pública que o país presencia, resultado dos extremos climáticos, afeta a população de maneira trágica e impacta todas as estruturas de uma localidade. Infelizmente, esses extremos são uma realidade e para mitigar seus efeitos será necessário o fomento de soluções e, principalmente, reforçar toda a infraestrutura das cidades para proteger os habitantes.  

A análise é da professora Regina Rodrigues, que atua na Universidade Federal de Santa Catarina na área de Oceanografia Física e é Coordenadora da Sub Rede Desastres Naturais da Rede CLIMA. Em entrevista ao Instituto Trata Brasil, a professora discorre sobre os extremos climáticos e ressalta que um dos grandes problemas é o impacto na disponibilidade hídrica. Confira na íntegra:

 

Como os extremos climáticos, como ondas de calor, secas intensas e tempestades severas, estão relacionados às mudanças climáticas? 

Em resumo, pense que o clima da Terra estava equilibrado e nós, seres humanos, vamos mudando esse equilíbrio, adicionando de forma exacerbada o carbono na atmosfera, o que começa reter mais calor e resulta na reação do sistema climático de várias maneiras. Regiões que são secas estão ficando mais secas, enquanto as regiões úmidas estão ficando mais úmidas. Sendo assim, uma região como Santa Catarina, Rio Grande do Sul, que tem uma época de estiagem e uma época chuvosa, o período de estiagem vem aumentando de forma intensa e, quando as chuvas caem, mesmo que em curto período de tempo, acontecem torrencialmente.

 

De que maneira as calamidades que acontecem através dos extremos climáticos influenciam na segurança hídrica da população? 

A partir das secas, consequência das mudanças climáticas, cresce o período de estiagem, resultando em um período muito longo sem chuva. Isso acaba afetando o abastecimento de água. Por outro lado, quando chove como está acontecendo no Rio Grande do Sul, veja, existe muita água, mas essa água não é disponível para consumo. Essa quantidade de água acaba destruindo a infraestrutura do abastecimento de água e impacta na segurança hídrica da população. Esse é um dos problemas principais das mudanças climáticas, teremos cada vez mais interrupção no nosso abastecimento de água. É fundamental as autoridades observarem essa questão dos reservatórios hídricos e até mesmo em construir reservatórios específicos. Algo que ainda não tem a devida atenção, o que deixa a população cada vez mais vulnerável.

 

Além da assistência de curto prazo, quais devem ser as estratégias de longo prazo para reconstruir e fortalecer as comunidades afetadas no Rio Grande do Sul? 

O foco agora é dar assistência de curto prazo, mas, em longo prazo, durante a reconstrução, temos que fazer a sociedade ficar mais resiliente. Como podemos fazer isso? Por exemplo, temos que preservar as áreas de matas nativas que protegem a gente, manguezais, todas essas áreas, elas nos protegem. Áreas mais verdes dentro da cidade, proteger os mananciais de água. O país precisa fortalecer a legislação nos aspectos ambientais. Também é essencial o fomento de inovações e soluções! Conversar cada vez mais com cientistas e especialistas para analisar as projeções. A infraestrutura terá que ser construída mais forte em áreas que sejam vulneráveis.

 

Qual o panorama para o futuro em relação às mudanças climáticas no país? O que é preciso ser implantado nas políticas públicas para mitigar os impactos dos extremos climáticos na vida dos habitantes? 

O panorama futuro em relação às mudanças climáticas, caso não tenha a devida atenção, é bem destruidor. Só observar o que vem acontecendo nessa última década e nesses últimos cinco anos no Brasil. No ano de 2023, tivemos um extremo de norte a sul. Para mitigar esses efeitos existem duas ações fundamentais. Uma delas é diminuir a emissão dos efeitos dos gases de estufas, como fazer a transição para energia renovável e diminuir o desmatamento. Ao mesmo tempo, o aumento nos extremos climáticos é uma realidade, então precisamos nos adaptar, por exemplo, é importante aumentar a nossa resiliência, como infraestrutura mais forte, mais bem colocada, mais bem pensada e soluções baseadas na natureza, de preservação e restauração de ambientes naturais.


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