Além da destruição, as inundações também preocupam pelo grande aumento de doenças infectocontagiosas e de pele
Desde o final de abril, o Rio Grande do Sul tem sofrido com chuvas
intensas e inundações que já afetaram mais de 400 municípios do estado. Além da
destruição, as enchentes também preocupam pelo grande aumento de doenças de
pele e doenças infectocontagiosas como a leptospirose, que já causou a morte de
quatro pessoas. Por isso, o Pequeno Príncipe, maior e mais completo hospital
pediátrico do país, esclarece quais são as doenças que mais acometem as
crianças que estão vivenciando essa catástrofe.
Leptospirose
Além de acometer adultos, a leptospirose também é doença de
criança. Ela é transmitida por meio da exposição à urina de animais,
principalmente ratos, infectados pela bactéria leptospira. Essa transmissão é
muito comum em locais de inundação, como no Rio Grande do Sul, por conta da
contaminação da água com lama, lixo e dejetos que contém urina desses animais.
Ao apresentar sintomas da leptospirose, como febre, dor de cabeça,
dores musculares, náuseas e vômitos, é fundamental buscar atendimento para
iniciar o tratamento. Quando não tratada da maneira adequada, a doença pode
levar a óbito.
Hepatite
A
A transmissão dessa doença, que acomete o fígado, acontece
principalmente pela falta de saneamento básico ou pelo contato com água ou
alimentos contaminados com o vírus da hepatite A, como ocorre em locais
afetados por catástrofes climáticas. Os sintomas da doença podem manifestar-se
com mal-estar, fadiga, febre e dores musculares, ou com vômitos, diarreia e
dores abdominais.
“A principal complicação da hepatite é a evolução para a forma
fulminante da doença, fazendo com que o paciente apresente sintomas como olhos
e pele amarelada e urina escura. Em caso de suspeita de contato com o vírus da
doença, é fundamental buscar atendimento médico para um acompanhamento
adequado”, explica o infectologista pediátrico Victor Horácio de Souza, do
Pequeno Príncipe, que também reforça a importância da vacinação. “Além de
evitar o contato com água e alimentos contaminados, a principal maneira de
prevenir a hepatite é manter o calendário vacinal em dia, pois existem vacinas
eficazes contra os tipos A e B da doença”, conclui.
Doenças de pele
As doenças de pele, especialmente as piodermites, também se
manifestam com maior facilidade quando se está em contato com água contaminada.
“Essa é uma doença infecciosa de pele e que tem um caráter de disseminação
muito grande, porque são por bactérias. Elas podem passar rapidamente de pessoa
para pessoa, principalmente entre as crianças”, afirma a dermatologista pediátrica
Nádia Almeida, do Hospital Pequeno Príncipe.
A especialista reforça ainda que a aglomeração nos locais onde as
pessoas afetadas pelas enchentes são abrigadas também favorece o aparecimento
de doenças como piolho e escabiose. “Elas provocam lesões que coçam muito e que
começam como se fosse uma picada de inseto, formando bolinhas de água. Depois,
essas bolinhas de água crescem e vão formando crostas, criando pus, e de uma
simples lesão pode acabar disseminando para o corpo todo”, diz. Em caso de
contato com a água suja, é importante fazer a higienização o mais rapidamente
possível e buscar atendimento médico.
Traumas psicológicos
Além das doenças infectocontagiosas e de pele, as crianças atingidas pelas cheias no Rio Grande do Sul também estão passando por um momento atípico, o que pode desencadear traumas psicológicos. Elas perderam não apenas seus pertences materiais, mas também as referências que tinham em casa, na escola e na comunidade. Por isso, estar perto de pessoas de referência é fundamental para a redução da angústia e ansiedade causadas pelas perdas.
“Diante desse cenário de catástrofe, é fundamental que essas
crianças tenham a família de referência por perto. Se elas estão em abrigos,
que sejam perto da sua comunidade, com as pessoas que elas já conhecem. Com
isso, a gente traz uma ideia que se estuda muito na psicologia de emergência e
desastres, que é a de pertencimento”, explica a psicóloga Angelita Wisnieski da
Silva, do Hospital Pequeno Príncipe.
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