Composto pode ser produzido com tecnologias já utilizadas na indústria, o que facilita escalonamento, além de manter o nutriente no solo para os próximos ciclos de cultura e demandar menos aplicações de adubo. Pesquisadores buscam empresas parceiras para testes em larga escala
O fósforo é um dos nutrientes
essenciais para a nutrição das plantas, mas cerca de 80% do que é aplicado na
forma de fertilizante pode ser perdido em processos químicos de interação com o
solo.
Um grupo de pesquisadores da
Embrapa Instrumentação, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e da
Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri)
desenvolveu um composto que mantém até 35% do nutriente no solo após a
aplicação, além de também fornecer nitrogênio, outro nutriente primordial.
Os resultados foram publicados na
revista Communications in Soil Science and Plant Analysis.
“Quando aplicado no solo, o
fósforo reage com os minerais presentes naquele ambiente e forma fases pouco
solúveis, que não permitem que as raízes das plantas absorvam o nutriente.
Alteramos a estrutura do fertilizante para que ele protegesse o fósforo contido
e fosse mais bem aproveitado”, conta Amanda Giroto, que realizou o trabalho
como parte de seu doutorado na Embrapa Instrumentação, em São Carlos, com bolsa da FAPESP.
O trabalho teve ainda entre os
autores Gelton Guimarães, bolsista de pós-doutorado.
A fórmula é composta de 50% de
ureia, que disponibiliza nitrogênio, e 50% de hidroxiapatita em pó, um mineral
que é fonte natural de fósforo. O composto, nomeado UHap, foi transformado em
grânulos por meio de uma extrusora, máquina usada na indústria de fertilizantes
para esse fim.
“Era preciso ter o fertilizante
numa apresentação que o produtor rural e o agrônomo já conhecessem e soubessem
como aplicar, além de poder mostrar as vantagens diante do produto normalmente
utilizado, um dos mais vendidos no país”, explica Cauê Ribeiro, pesquisador da Embrapa
Instrumentação, que coordenou o estudo.
Outra vantagem do novo composto
é que ele traz mais de um nutriente, o nitrogênio, diminuindo o número de
aplicações de fertilizante no campo. Levando em conta que uma lavoura de grande
escala demanda toneladas de adubo, a diminuição do número de aplicações pode
trazer mais economia para o produtor.
“Uma vez que parte do fósforo
permanece no solo para futuros plantios, esse ganho pode ser ainda maior”,
comenta Giroto, que também teve bolsa https://bv.fapesp.br/pt/bolsas/182537/ de
pós-doutorado da FAPESP para continuar o estudo.
Milho
adubado
Para comparar a eficiência do
material com outras fontes de fósforo, os pesquisadores verificaram a
disponibilidade do nutriente em solos que receberam cada um de três
tratamentos: o novo composto, apenas o pó de hidroxiapatita e um fertilizante
fosfatado comercial, conhecido pela sigla MAP. Os três tratamentos foram
aplicados também em cultivos experimentais de milho, em escala laboratorial.
Tanto o fertilizante comercial
quanto a hidroxiapatita apresentavam 89% de fósforo no primeiro dia do
experimento. Após 21 dias, a disponibilidade do nutriente no solo baixou para
28%, até chegar a 18% depois de 42 dias. O nanomaterial, por sua vez, começou o
experimento com 53% de fósforo, tendo o teor reduzido para 42% e permanecendo
em 35% ao fim dos 42 dias de testes.
O milho adubado com o novo
composto e o que recebeu hidroxiapatita produziram 60% mais matéria seca do que
o tratamento controle, em que não foi administrado nenhum fertilizante. As
plantas que receberam o fertilizante comercial, por sua vez, produziram 30%
mais do que as usadas como controle.
Todos os tratamentos mostraram
resultados similares de absorção de fósforo pelas plantas. No entanto, a
quantidade do nutriente que ficou no solo de forma disponível para absorção
pelos vegetais foi maior no tratamento com o novo composto, indicando a
capacidade de aproveitamento do nutriente em futuros cultivos.
Em trabalhos anteriores também
apoiados pela FAPESP, os pesquisadores já haviam analisado outros aspectos do
mesmo material, como o papel da ureia em aumentar a solubilidade da
hidroxiapatita e de uma outra versão do nanomaterial,
adicionando amido termoplástico à
fórmula.
Além disso, foram
testados nanomateriais que
disponibilizavam outro nutriente, o enxofre, para as plantas.
Esses trabalhos foram feitos
durante estágio de pós-doutorado realizado
por Giroto no Forschungszentrum Jülich, na Alemanha.
“Os fertilizantes são
estratégicos para o Brasil, mas hoje dependemos exclusivamente de importações.
Precisamos reindustrializar o país nesse setor, além de desenvolver produtos
mais eficientes”, encerra Ribeiro (leia mais em: revistapesquisa.fapesp.br/estrategias-podem-reduzir-a-dependencia-externa-de-materia-prima-para-fertilizantes/).
Os pesquisadores buscam agora
empresas parceiras que possam produzir o material em grande quantidade para a
realização de experimentos em larga escala.
O artigo Effect of
Urea: Hydroxyapatite Composites for Controlled-Release Fertilization to Reduce
P Complexation in Soils pode ser lido por assinantes em: www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/00103624.2023.2268645.
https://agencia.fapesp.br/novo-nanomaterial-mantem-mais-fosforo-disponivel-no-solo-do-que-fertilizante-vendido-no-mercado/50950
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