Trabalho feito em parceria com Adolfo Lutz, USP e UNESP visa
preparar o Brasil para futuras epidemias da doença
Um estudo conduzido pelo Instituto Butantan, órgão ligado à Secretaria de Estado da Saúde, em parceria com o Instituto Adolfo Lutz, também ligado à pasta estadual e as universidades de São Paulo (USP) e Estadual Paulista (UNESP/SJRP) publicado na revista Viruses em fevereiro deste ano, identificou dois peptídeos (fragmentos) da NS1 que detectam a presença de anticorpos específicos contra o zika.
“Atualmente, um dos grandes obstáculos do diagnóstico de zika é que os testes utilizados no mercado ainda apresentam risco de reação cruzada com o vírus da dengue, dificultando a diferenciação das infecções”, explica Roxane Piazza, pesquisadora do Laboratório de Bacteriologia. Segundo ela, isso ocorre porque a principal proteína presente nestes vírus, a NS1, é muito semelhante entre os dois. “A partir desta identificação será possível desenvolver novos testes mais precisos”, destaca.
O primeiro passo do estudo, feito no Laboratório de Bacteriologia do Instituto Butantan, foi gerar anticorpos a partir da imunização de modelos animais com a proteína NS1 de zika, produzida pelo grupo do Professor Luis Carlos Ferreira do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biomédicas da USP. “Após obtermos anticorpos monoclonais e policlonais específicos, fizemos testes para descobrir que partes da proteína NS1 reconheciam que eram de zika e que não cruzavam com dengue”, explica a pesquisadora.
A partir das sequências identificadas, foram desenvolvidos peptídeos sintéticos de NS1 em colaboração com o pesquisador Carlos Prudêncio, do Adolfo Lutz. Ao testar as moléculas com amostras de soro de pacientes, os cientistas encontraram dois peptídeos capazes de detectar, de forma precisa, anticorpos anti-zika. Com isso, seria possível desenvolver testes para identificar anticorpos IgG e IgM e saber se a pessoa já esteve ou está infectada pelo vírus.
Outra abordagem, segundo Roxane, é fazer o caminho oposto: usar os anticorpos específicos de zika para detectar a presença do antígeno (proteína NS1) no sangue dos pacientes. “A NS1 é a proteína mais secretada pelo vírus durante a infecção e, portanto, é o principal alvo de diagnóstico”, aponta.
Os cientistas ressaltam que é questão de tempo até uma nova epidemia de zika acontecer e o desenvolvimento de testes mais precisos é de extrema importância para o monitoramento da doença, especialmente para acompanhar as gestantes e prevenir a microcefalia. “Nosso objetivo é ter técnicas e ferramentas para o diagnóstico individual de casos esporádicos e/ou uma possível epidemia . Assim, estaremos muito mais preparados do que estávamos em 2015”, afirma Carlos.
Entre 2015 e 2016, o Brasil enfrentou um dos maiores surtos de zika, com um aumento expressivo no número de recém-nascidos diagnosticados com microcefalia (malformação do cérebro), principal consequência da infecção em gestantes. Segundo o Ministério da Saúde, foram quase 2 mil casos confirmados de bebês com síndrome congênita associada à infecção pelo vírus zika (SCZ). Antes da epidemia, a média de casos era 9 por ano.
Um estudo recente publicado na revista The
New England Journal of Medicine mostrou que a taxa de mortalidade em crianças
de até 3 anos nascidas com SCZ é 11,3 vezes maior do que naquelas nascidas sem
a condição. Outra pesquisa mostrou que, entre 2015 e 2018, mais de 80% das
mortes em crianças com SCZ ocorreu antes de completarem um ano de idade.
Casos
de zika aumentaram 42% em 2022
Segundo boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, em 2022, o Brasil registrou 9 mil casos prováveis de zika, sendo 591 em gestantes. Em comparação a 2021, houve um aumento de 42% no número de casos da doença. Os estados que mais registraram casos prováveis em gestantes foram Rio Grande do Norte (210), Bahia (53), Paraíba (53), Alagoas (48) e Pernambuco (43), concentrando 68,9% dos casos do país.
O vírus da zika é transmitido pelo mosquito Aedes
aegypti, assim como outras arboviroses como dengue e chikungunya.
Os sintomas costumam aparecer de dois a sete dias após a picada e podem incluir
febre baixa, erupções cutâneas, dor de cabeça, dor nas articulações, dor
muscular e conjuntivite. De acordo com a Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS), é possível que apenas uma em cada quatro pessoas infectadas desenvolvam
sintomas.
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