quarta-feira, 29 de novembro de 2023

Entenda como as guerras podem desencadear traumas nas crianças

 Conflitos na Ucrânia e na Faixa de Gaza retomaram terror por conflitos sangrentos mundialmente; psicóloga Vanessa Gebrim explica como isso pode afetar crianças  

 

A vivência em áreas de guerra e conflito é uma realidade brutal para inúmeras crianças em todo o mundo. A exposição constante à violência e ao medo em contextos de guerra deixa cicatrizes profundas no desenvolvimento emocional e psicológico das crianças. Os recentes conflitos na Faixa de Gaza e na Ucrânia reacenderam uma preocupação global sobre guerras.

 

Hoje, existem cinco conflitos em atividade no mundo que, somados, já deixaram centenas de milhares de mortos que diariamente estão nos noticiários e nas redes sociais. Para se ter ideia, de acordo com dados compilados pela agência de notícias Al Jazeera (emissora estatal da monarquia do Qatar), a guerra entre Israel e o grupo extremista Hamas já conta com mais de 11 mil mortos confirmados.

 

O estresse e o trauma associados à guerras resultam em consequências emocionais profundas, como o desenvolvimento de traumas, medo, ansiedade, depressão e isolamento. As crianças, muitas vezes incapazes de compreender a complexidade dos conflitos, enfrentam um fardo emocional pesado, que pode afetar profundamente sua autoestima, confiança e senso de segurança.

 

Para a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, essas situações de estresse podem afetar até o aprendizado dos pequenos. "O estresse altera a química cerebral e as áreas de funcionamento do aprendizado, como memória e raciocínio, apresentando regressão no desempenho escolar, problemas de memória e raciocínio", revela.


 

Efeitos da guerra: uma cicatriz psicológica

 

O medo de perder a vida, sair de casa, ou até mesmo frequentar a escola torna-se uma parte avassaladora de suas vidas. Os pesadelos noturnos e a insônia são sintomas comuns, deixando-as em estado de hipervigilância constante. "As crianças começam a sentir medo de morrer, de sair de casa, de ir para a escola, pesadelos à noite, causando insônia, situações onde fica hipervigilante o tempo todo", enumera a psicóloga.

 

Esta exposição contínua à violência e ao medo não apenas afeta o presente das crianças, mas também deixa um impacto duradouro em seu futuro. “Podem deixar sequelas, como um TEPT (transtorno de estresse pós traumático) que traz sintomas como insônia, irritabilidade, mudanças de humor, agitação, quadros de ansiedade, uma depressão e também uso abusivo de álcool e também o suicídio”, alerta.

 

Essas alterações de humor em áreas de conflito estão diretamente ligadas com a forma na qual nosso cérebro lida com esses impulsos. “Toda vez que acontece uma situação de violência causando estresse é liberado um hormônio chamado cortisol que acaba alterando as áreas relacionadas ao aprendizado, memória e raciocínio”, explica.

 

Além disso, as guerras também afetam quem não está nela fisicamente, crianças que acompanham os conflitos pelas redes sociais ou pela televisão também podem ficar marcadas psicologicamente. “Acompanhar os perfis por telas pode desencadear sensações de medo, angústia, problemas de sono e quadros de ansiedade. Essa reação é agravada em crianças por não estarem acostumadas com esse tipo de violência brutal e com a existência de mortes”, indica.

 

O ideal seria que houvesse um esforço para preservar a saúde mental dessas pessoas, um povo traumatizado por uma guerra necessita de muito apoio psicológico na superação do trauma vivenciado. Nestes casos, a psicoterapia é muito efetiva. “É necessário reforçar os programas de ajuda humanitária, como apoio a programas para a saúde mental, além de promover a cooperação internacional para evitar guerras. Estamos vivendo em uma sociedade com alto índice de comprometimento na saúde mental. O risco de desenvolvimento de transtornos mentais e problemas de saúde são enormes”, finaliza Vanessa Gebrim. 

 

 

Vanessa Gebrim - Pós-Graduada e especialista em Psicologia pela PUC-SP. Teve em seu desenvolvimento profissional a experiência na psicologia hospitalar e terapia de apoio na área de oncologia infantil na Casa Hope e é autora de monografias que orientam psicólogos em diversos hospitais de São Paulo, sobre tratamento de pacientes com câncer (mulheres mastectomizadas e oncologia infantil). É precursora em Alphaville dos tratamentos em trauma emocional, EMDR, Brainspotting, Play Of Life, Barras de Access, HQI, que são ferramentas modernas que otimizam o tempo de terapia e provocam mudanças no âmbito cerebral. Tem amplo conhecimento clínico, humanista, positivista e sistêmico e trabalha para provocar mudanças profundas que contribuam para a evolução e o equilíbrio das pessoas. Mais de 20 anos de atendimento a crianças, adolescentes, adultos, casais e idosos, trata transtornos alimentares, depressão, bullying, síndrome do pânico, TOC, ansiedade, transtorno de estresse pós-traumático, orientação de pais, distúrbios de aprendizagem, avaliação psicológica, conflitos familiares, luto, entre outros.

 

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