Em muitos casos, a
falta de rede de apoio, o preconceito social e a desinformação são alguns dos
desafios enfrentados por essas mães
O sonho de ser mãe é algo que acompanha muitas
mulheres ao longo da vida. Entretanto, algumas pesquisas mostram que a
romantização da maternidade é algo prejudicial para a saúde emocional dessas
mulheres.
“É importante abrir discussões em que as mães
possam trazer sua vivência e falar sobre a romantização materna, depressão
pós-parto, puerpério, maternidade solo, atípica, entre tantos outros
cenários.”, menciona a psicanalista do Ipefem (Instituto de Pesquisa de Estudos
do Feminino e das Existências Múltiplas), Ana Tomazelli.
De acordo com a comunidade materna Portal Mommys, 49% das
mães entrevistadas se sentem em um “limbo emocional” e 80% disseram estar
“exaustas”, mesmo não tendo nenhuma doença mental ou física
diagnosticada.
Maternidade solo, atípica e
burnout materno
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE), 11 milhões de mulheres são mães solo
e 64% delas estão abaixo da linha da pobreza. Para quem vive uma maternidade
atípica, as responsabilidades podem ser ainda mais complicadas, pois os
tratamentos contínuos dos filhos demandam mais tempo na vida dessas mães.
O estudo “Cuidando de quem cuida: um panorama sobre
as famílias e o autismo no Brasil”, realizado pela Genial Care, aponta que
86% das pessoas cuidadoras de crianças com TEA são as próprias mães, 70% não se
sentem confortáveis quanto ao futuro e planejamento de longo prazo do seu
filho.
Kelly Bia, médica, auditora e oftalmologista, mãe
de 3 filhos, relata o momento em que descobriu o diagnóstico do filho. “Na
descoberta, veio um misto de sentimentos, um pouco de sensação de ‘estar
perdida’ e um pouco de alívio por poder ter o que procurar. Depois, fui
buscando mais informações e pesquisando sobre o tratamento. Apesar de ser
médica, é muito diferente viver a situação de ter uma criança com espectro
autista. A minha vantagem é ter um conhecimento básico que ajuda a entender
melhor todo o processo. Então, veio a certeza de que tudo vai dar certo pois
estamos fazendo o que precisa ser feito.”
O termo “neurodivergente” se refere a quem tem um
desenvolvimento ou funcionamento neurológico diferente, como as pessoas com
TEA. "Cuidar de uma criança com deficiência é uma tarefa difícil, principalmente
por causa da desinformação da sociedade. Além disso, muitas mulheres cuidam dos
filhos sozinhas ou com pouco apoio, o que pode levar ao burnout materno e à
depressão. Por isso, é preciso reforçar a importância da pessoa cuidadora ter
uma rede de apoio", alerta a Líder Clínica da Genial Care Academy, a maior
healthtech da América Latina especializada no cuidado e desenvolvimento de
crianças com TEA (Transtorno do Espectro Autista), Mariana Tonetto.
“A descoberta de que uma criança é neurodivergente
causa muitas sensações diferentes nas famílias. Muitas, inclusive, definem o
momento do diagnóstico de autismo como uma espécie de luto e um período de
muitas inseguranças. Por isso, é importante buscar por informações confiáveis e
ter sempre apoio de especialistas que vão trazer o melhor direcionamento para
início das intervenções", orienta a Líder Clínica da Genial Care
Academy.
O burnout materno é o esgotamento emocional causado
pelo estresse prolongado relacionado aos cuidados maternos, combinados com as
múltiplas obrigações cotidianas. Alguns dos sintomas são sentimentos constantes
de culpa, estresse relacionado à administração do tempo, exaustão mesmo após um
período de repouso, sentimento de fracasso e impotência, irritabilidade sem
motivo aparente, baixa autoestima, tristeza, medo e insegurança, entre outros.
"Na sociedade, o papel de cuidadora é muitas
vezes imposto às mães, e são elas que acabam assumindo as consequências sociais
e financeiras desses cuidados. Quando falamos de mães atípicas, essa realidade
é ainda mais complicada, porque muitas precisam renunciar a muitas coisas no
processo de cuidado com a criança, que demanda mais apoio em seu
desenvolvimento, e esse é um dos motivos do burnout materno", explica
Mariana.
O estudo da Genial Care ainda mostra que o trabalho
de cuidar pode justificar a ausência no trabalho formal. "Muitas pessoas
perderam seus empregos no Brasil em 2020 e um dos grupos mais afetados foi o de
mulheres mães. O ‘trabalho de criar’ foi ressaltado pela pandemia e passou a
ser em tempo integral, ocupando o lugar antes dividido por um trabalho formal.
Para aquelas que mantiveram seus empregos, a jornada continuou dupla ou tripla.
Isso significa que, para todas, há sobrecarga e falta de tempo para
descanso", finaliza Tomazelli.
Genial Care
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