Novas perspectivas de diagnóstico e os impactos no
tratamento
Pesquisas
científicas recentes mostram o potencial tecnológico e científico para inovação
em métodos de diagnóstico
O dia 11 de abril é marcado pela comemoração do Dia Mundial de Conscientização da Doença de Parkinson, distúrbio neurodegenerativo que acomete cerca de 4 milhões de pessoas no mundo, cerca de 200 mil apenas no Brasil, especialmente acima de 60 anos, causando tremores, lentidão dos movimentos, rigidez muscular, mudanças na entonação da voz, dores, entre outros sintomas. Embora sem cura, o tratamento da doença, que visa a contenção dos sintomas, pode ser potencializado com diagnóstico precoce, retardando o agravamento da condição e aumentando a qualidade de vida do paciente.
Os novos horizontes para o diagnóstico da doença de
Parkinson
A data temática em prol da conscientização da doença foi instituída em 1989, por iniciativa da Organização Mundial da Saúde (OMS), para estimular o debate sobre a condição, as formas de diagnosticá-la e tratá-la, além de esclarecer incertezas que cercam o tema, para não só melhorar a qualidade de vida dos pacientes já diagnosticados, mas também favorecer o diagnóstico precoce.
Nos últimos anos foram desenvolvidas diversas pesquisas científicas que se apropriam do avanço de tecnologias como inteligência artificial e robótica para buscar caminhos relevantes de novas perspectivas para o diagnóstico da doença de Parkinson.
Alguns exemplos dessas iniciativas incluem:
Uso de inteligência artificial para monitoramento de
movimentos
A pesquisa realizada por membros do
Laboratório de Pesquisa do Movimento da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
usou uma inteligência artificial para auxiliar na identificação dos casos da
doença com análise dos dados de tempo em relação deslocamento da pessoa ao
caminhar. A marcha é um dos fatores comprometidos em pacientes com a doença de
Parkinson, que pode surgir antes dos demais sintomas fisiológicos.
Identificação
de proteína do intestino relacionada à doença de Parkinson
Partindo para uma
pesquisa internacional, em estudo publicado pela revista científica Nature, indicou-se um possível caminho para
o diagnóstico precoce da doença de Parkinson a partir de amostras de
fezes dos pacientes. Trata-se de exame capaz de detectar a presença de uma
proteína sintetizada pelos neurônios presentes no intestino, mais comuns
nos pacientes com Parkinson do que os indivíduos sem a doença.
Embora seja um
estudo preliminar e que se refere à doença de Parkinson originada no
sistema nervoso entérico — grupos de neurônios que se estendem pelo trato
gastrointestinal, composto pelo esôfago, estômago, intestino delgado e
intestino grosso —, que corresponde a cerca de 30% dos casos, essa é uma
descoberta promissora no contexto do diagnóstico da doença.
Análise de movimentos captados por trajes usados na
indústria audiovisual
Outro estudo publicado pela revista Nature Medicine diz respeito a uma pesquisa que testou trajes usados para captação de movimentos dos atores filme Avatar, monitorando os movimentos de pacientes com sintomas motores.
A tecnologia mapeia e capta os gestos de quem a usa. Com os registros obtidos após ser testada por uma pessoa uma doença motora, os pesquisadores compararam o perfil de movimento com o de pessoas saudáveis.
Embora tenha estudado pacientes com ataxia de
Friedreich (FA) e distrofia muscular de Duchenne (DMD), os resultados norteiam
a aplicação dos testes dessa tecnologia na detecção de outras condições como a
doença de Parkinson.
Tecnologia de baixo custo para detecção de proteína
relacionada à doença de Parkinson
A iniciativa
brasileira mostrou resultados positivos para
um novo sensor de baixo custo para detecção da doença de Parkinson. Fruto
da parceria entre Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e Universidade
Federal de São Carlos (UFSCar), um sensor conseguiu identificar, em amostras de
sangue, a concentração de uma proteína que pode agir como um biomarcador para a
doença de Parkinson, já que os pacientes com a doença apresentam quantidade
menor da substância do que pessoas saudáveis.
A ideia dos
pesquisadores é de desenvolver um método de diagnóstico precoce que identifique
traços da doença ainda em seu estágio latente, antes de manifestar sintomas
motores, para que se monitore o paciente para o possível desenvolvimento da
doença de Parkinson.
Esses estudos
ainda não resultaram em métodos finalizados de diagnóstico da doença de
Parkinson, no entanto, mostram o atual potencial tecnológico e científico para
inovação nesse contexto. São insights importantes que trazem novas
possibilidades para compreensão da doença, além de mostrarem caminhos para
outras perspectivas de estudos, somando para aprimorar todos os âmbitos
envolvidos na doença de Parkinson.
Como os avanços em diagnóstico podem impactar o tratamento
da doença
Frente ao
potencial de tanta inovação no âmbito do diagnóstico para a doença de Parkinson,
uma dúvida comum é de como eles podem favorecer diretamente aos pacientes.
Segundo Dr.
Cláudio Fernandes Corrêa, neurocirurgião, mestre pela UNIFESP, com mais de 30
anos de experiência na condução de pacientes parkinsonianos, “embora sejam
iniciativas que não possam mudar o curso da doença, ou seja, trazer
resultados de cura, as descobertas cada vez mais precoces permitem que as
medidas de contenção dos sintomas sejam planejadas e executadas desde o início
dos sintomas, favorecendo a qualidade de vida do paciente por mais tempo”.
Entender o mecanismo da doença de Parkinson favorece a
adesão ao tratamento
Dr. Claudio Corrêa explica que por se tratar de uma doença degenerativa do sistema nervoso central, e que, especificamente neste caso, causa a morte de células que produzem um neurotransmissor importante chamado dopamina, os sintomas atingem as funções diretamente conectadas com elas.
O sintoma mais propagado da doença de Parkinson é o do tremor das mãos associado a um movimento involuntário que simula um gesto rotativo dos dedos. No entanto, ela manifesta diversas outras ocorrências como rigidez e lentidão dos movimentos gerais, marcha da caminhada reduzida, dificuldade para engolir alimentos, mudanças na entonação da voz e velocidade de fala, dores musculares, depressão, dificuldade cognitiva e, em casos mais graves, distúrbios respiratórios.
“Compreender os diferentes níveis de comprometimento que a
doença pode gerar e que variam de pessoa para pessoa, é importante para que o
paciente tenha consciência da importância dos tratamentos propostos e que
envolvem diferentes áreas da medicina”, relata Dr. Claudio Corrêa.
Tratamento tradicional vs. principais procedimentos mais
inovadores
Desde sua descoberta há mais de 206 anos, as estratégias
terapêuticas para a contenção dos sintomas da doença de Parkinson têm se
aprimorado em diversas frentes, visando atender o paciente de forma integrada e
sistêmica.
Terapia medicamentosa
O mais tradicional dos métodos dispõe de um rol de
medicamentos orais e injetáveis que melhoram as funções motoras, como a toxina
botulínica aplicada em músculos enrijecidos, como drogas como a levodopa, e
simula a atuação da dopamina no cérebro. No entanto, eles podem causar efeitos
colaterais no longo prazo, tornando os distúrbios do movimento ainda
piores.
Estimulação Cerebral Profunda (DBS)
Embora os
tratamentos mais simples (como medicação) devam ser privilegiados, em algum
momento da evolução da doença o paciente a precisará de procedimentos como a Deep Brain Stimulation (DBS),
inglês para Estimulação Cerebral Profunda, realizada a partir do implante de
eletrodos no cérebro para a promoção da neuromodulação das regiões do cérebro
ligadas aos movimentos.
Minimamente
invasiva, a cirurgia é realizada com o paciente acordado para que o teste de
normalização do movimento possa ser atestado na hora da localização do
ponto-alvo do cérebro a ser modulado. “O método tem resultados expressivos com
melhora quase total dos tremores em cerca 95% dos pacientes, além de ter o
benefício de não provocar lesões estruturais e poder ser totalmente
revertido, se necessário”, explica o neurocirurgião, com ampla casuística no
método.
Importante
destacar que para os demais sintomas presentes na doença de Parkinson, a
atuação de fisiatras, fisioterapeutas, fonoaudiólogos e psicólogos são de grande
importância.
Mais sobre a doença de Parkinson no podcast Neuro em Dia
Com mais de 30 de atuação como neurocirurgião, Dr. Claudio Correia tem amplo conhecimento e experiência no âmbito da doença de Parkinson, aliando os procedimentos neurocirúrgicos para o tratamento do distúrbio. Por isso, em seu podcast Neuro em Dia, dentre outros assuntos, aborda a temática da doença de Parkinson a fim de esclarecer dúvidas comuns e conscientizar os ouvintes.
Essa foi a pauta da primeira edição do programa, o Neuro em Dia #1 — Conhecendo a doença de Parkinson, no qual o neurocirurgião explicou mais a fundo os aspectos da doença para ampliar sua visibilidade, favorecendo o diagnóstico precoce.
Já no Neuro em Dia #12 — Mitos e verdades sobre Parkinson, o médico esclarece dúvidas e desmistifica informações incorretas que permeiam a temática.
O programa está
disponível nas principais plataformas de streaming de áudio, clique aqui para escutar.
ID Lattes: http://lattes.cnpq.br/3372423377980891
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